Salvador Passos
R.A.U.L.
Red Anarco Utopista Libre
A Caverna
Jean Louis Battre, 2010
28 de março de 2025
Estelita
Salvador Passos
26 de fevereiro de 2025
Gesta da água
“Há sempre um copo de mar
para um homem navegar”
Jorge de Lima
Nesta grandíssima manhã
de primavera,
as portas
da minha casa
estão abertas
para a visita
fluida da beleza.
Altair é a susana da minha poesia
e da minha vida.
A solidão habitava o feiume
dos meus gestos e
querençoso eu esperava
o tempo.
Hoje caminho tardo
pelo vento oeste.
Meu coração vagueia
no mapa das ruínas
e infesto o campo dos
silêncios.
Cada ruído pressentido,
diz da alma.
Cada rastro revelado,
diz da vidência, essa
alegria
a se eternizar.
Mancham os céus de um cinza cruel
e morrem
os oceanos
em mim.
Eu que sempre
fui água,
mansidão
de peixes
e de siris.
Ser líquido
na chuva,
rio no mar naufragado.
Eu que sempre
fui água,
a escorrer
pelo sangue das marés.
Ó manhã
devastada no belo!
Assim é a ceia farta
dos maremotos
escondidos!
Queda,
quebra,
estrondo
elegia da natureza
encantada,
sou água!
Diego Mendes Souza
21 de novembro de 2024
Não adianta tentar se destinguir
Não adianta tentar se destinguir
raça, riqueza, nação, deuses,
hábitos ordinários e ancestrais
quando a água invadir
todos terão que nadar.
Pedro Lago
11 de novembro de 2024
Arte do Poeta
escrever é ser assaltado
e manter o sangue frio
ou fazê-lo ferver, borbulhar e correr
nas frias treliças metálicas
do concreto armado
escrever um poema é costurar
gotas
de suor ou lágrimas
tecer uma longa colcha de ondas
sobre sonhos profundos
ou subir na espiral dos sons
de uma escada cujos degraus
são as notar de uma canção oca
e ascender
através das nuvens evaporadas
rumo ao sol
ao céu
ao nada
Lucas Nicolato
29 de outubro de 2024
XXII
Sangue passando por veias
Diluição da vida cotidiana
Nada impede o sortilégio
Trens noturnos, estação sob forte neblina
Impossível dizer se embarco
Tudo dependerá de minha fecunda imaginação
E do gosto exagerado pelo real mais erradio.
Improviso com a metade do que me foi dado ler
Assim um drama
Palavras olham para fora
Limite possível e improvável da significação
Andarilhas perdidas no caminho do sagrado
Bolhas ardentes nas solas dos pés.
Sim
Todos os poemas
são de amor.
Pela rima,
pelo ritmo,
pelo brilho
ou por alguém,
alguma coisa
que passava
na hora
em que a vida
virava palavra.
Alice Ruiz
10 de julho de 2024
10
a boca não fala
o ser (que está fora
de toda linguagem):
só o ser diz o ser
a folha diz folha
sem nada dizer
o poema não diz
o que a coisa é
mas diz outra coisa
que a coisa quer ser
pois nada se basta
contente de si
o poeta empresta
às coisas
sua voz - dialeto -
e o mundo
no poema
se sonha
completo
Ferreira Gullar