9 de janeiro de 2012

Quando



que poema é esse que pasma?
que ostra é essa que come crosta?
que escafandro é esse que sobe fundo?
que lontra é essa que alucina?
que cume é esse que me cabe?
que ilha é essa que navalha?
que caule é esse que me colhe?
que hora é essa que jorra água?
que caça é essa que chega no canto?
que manto é esse que amassa o mal?

Quando numa noite chuvosa da rua do Catete
Um sobrado lacrimejar secreto cinema com você
Salve Leon Hirszman !
Jogue fora a sentinela dos bons costumes
E abra uma gota de ridículo no aquário dos teus olhos
Deixe de lado o lado das coisas e siga em frente
Ou mude o rumo e mande bem
Abrace a bomba sem medo
Músculos pra quem te quebra

Um corpo de lágrima larga meu gesto
Um resto de fibra no rosto rompe
O poema trama na língua
Busca uma brecha
Mas o corpo não se fenda
O poema trina
O corpo tranca
Masca o poema
Que luta, quer ser corpo que habita
Mesmo este corpo charco
Que teme poema dentro

mas e as árvores lá fora, o vento das folhas?
a buzina, o assalto, as pernas das putas?
vício retificado em cada birosca, em cada esquina?
gentileza bufando, o windows 2007, o banco 24 horas?
vapor de gasolina, greenpeace?
pão de açúcar, dois irmãos, ipanema e copacabana
clamando contra os holofotes?
a noite rosa tentando escurecer?
meu filho detido na porta da vida?
meu pai sumido, meu avô morto, o elo perdido?
chupa cabra, amigos de circunstâncias, trabalho mal feito?
sol poluído, críticas implacáveis?
surdez?

A minha água
eu carrego comigo.
mas e a mágoa do mundo?

Pedro Rocha

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