19 de abril de 2012

Clareza

Esta noite tão silenciosa
Tão escura na sua solidão
E tão clara na minha história

Há uma paz
Um calor que vêm da certeza
Um frio que vêm do não saber
Há um vento sem voz
Uma calma sem motivo
Presente somente na angústia
Há um eu tão presente
Tão nítido de mim mesmo
Há uma noção de que a história acontece agora
Neste exato instante
Enquanto penso se sou mesmo
Enquanto me pergunto o porquê do agora
O motivo de estar

Seria este o ser?

Estar aqui e se dar conta de tudo!
Quase como numa percepção extracorpórea

Aqui estou!

Escrevo agora sobre aquela noite que sequer sei se realmente houve
Se falo dela, não seria motivo para que ela tivesse havido?
Falo em metáforas

Palavras...
É o que nos cabe nesta vida
É o que nos transmite
Somos palavras
Palavras vazias
Cabe a cada ato dar um sentido as palavras que nós somos

Sou palavras
Tudo é palavra
O agora
O depois
O jamais
Somos tudo simultaneamente numa única palavra
Este Deus eterno de nós mesmos
Esta calma
Esta paz
Esta noite somos tudo isso
Eu e você num mesmo instante
Ainda que estejamos sós,
Há uma espécie de nó que nos une
E ainda assim morreremos sem jamais nos conhecermos
Haverá alguém do nosso lado
Um estranho
Um outro
que nos acompanha com admiração e ódio
que acompanha atônito a nós mesmos
Alheio, mas com uma clareza nociva de Cassandra

Salvador Passos

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