25 de abril de 2012

Tudo já foi dito

Todos os livros falam de outros livros, todos os sons de outros sons e todos os sons de outros livros, cores e cheiros. Não se pode dizer hoje sinto saudades sem evocar – mesmo sem conhecer – a saudade que Casimiro sentiu da aurora da sua vida ou tudo aquilo que fica daquilo que não ficou ou o ronco barulhento do meu carro e os erros do meu português ruim. Há em toda saudade traços indeléveis da saudade de Ronsard, de Cecília, de Roberto, de Caio, de Cole, de Gonçalves, de Florbela e de cada um que já cantou sua saudade em altos brados. Este texto mesmo está permeado de outros textos e tentar descobrir o que o permeia é cair numa cilada pois o que o permeia foi permeado por textos já antes permeados e se seguirmos adiante nessa genealogia textual descobriremos que ela é viciosa pois eu também estou a influenciar os textos que cito pois eles passarão a ser para você leitor um texto por mim citado. Assim, mesmo sendo posterior a eles, influencio meus predecessores – Borges principalmente, que já disse tudo isso muito melhor, e antes, do que eu. E pode ser que já o tivessem dito antes dele. Pois tudo já foi dito. Inclusive que tudo já foi dito* .
 
* Posteriormente à escrita deste texto descobri que o trecho “Tudo já foi dito. Inclusive que tudo já foi dito.” também já foi dito, mas não lembro por quem.
 
Gregório Duvivier
 

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