1 de setembro de 2012

Houston we have a problem





do alto do universo
espera o cosmonauta
por outro buraco negro
espera que a massa entorte
o tempo do universo
não lê mais verso ou prosa
só lê os seus instrumentos
os lúcidos instrumentos
que medem o espaço tempo

não faltam-lhe mais amores
pois todos computadores
que sonham os sonhos dele
fornecem as doses certas
de impulsos eletro-eróticos
imprimem no cerebelo
volúpias que alimentam
orgásmicos apetites

silêncio no espaço é longo
quem dera ele escutasse
o peso da gravidade
quem dera ele lembrasse
do eco do verso morto

quem sabe chorasse aos prantos
se acaso ele lembrasse
no alto do espaço espaço
do peso do verso verso
gagueja o cosmonauta
pois ele não mais se lembra
do som da rima rica
nem mesmo da prima pobre
nem mesmo o eco ecoa
na eterna eternidade

as faltas já não lhe faltam
do alto da imensidão
já foram-se os deuses todos
já foram-se os sonhos tortos
restaram só instrumentos
só números que enumeram

do alto do espaço tempo
não restam mais as palavras
agora só falam todos
na língua dos telepatas
descrevem exatos nomes
que nem mais nomes são
são coisas que dizem coisas
exatas na exatidão
só falam na exata coisa
que é dita quando se fala
queria o cosmonauta
as coisas que nunca disse

do alto da lua salta
inédito o cosmonauta
tentando o suicídio
no vácuo da eternidade
coitado do cosmonauta
que para na vacuidade
do alto do seu suplício
esquece que a gravidade
não grava mais peso nele
esquece que o peso para
no alto do espaço morto
o homem não salta o salto
do espaço e do infinito
o homem é homem sempre
esquecem todos em Houston

Salvador Passos

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