A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

30 de novembro de 2012

Fórum Social Mundial Palestina Livre


Convocatória para o Fórum Social Mundial Palestina Livre, de 29 de novembro a 1º de dezembro de 2012, Porto Alegre (Brasil)

A Palestina ocupada pulsa em cada coração livre neste mundo e sua causa continua a inspirar solidariedade universal. O Fórum Social Mundial Palestina Livre é uma expressão do instinto humano de se unir por justiça e liberdade, e é um eco da oposição do Fórum Social Mundial à hegemonia do neoliberalismo, do colonialismo e do racismo através das lutas por alternativas econômicas, políticas e sociais para promover a justiça, a igualdade e a soberania dos povos. O FSM Palestina Livre será um encontro global de ampla base popular e de mobilizações da sociedade civil de todo o mundo. Ele visa:

1- Mostrar a força da solidariedade aos chamados do povo palestino e à diversidade de iniciativas e ações visando promover a justiça e a paz na região.
2- Criar ações efetivas para assegurar a autodeterminação palestina, a criação de um Estado Palestino com Jerusalém como sua capital, e o atendimento aos direitos humanos e ao direito internacional por:

  1. Acabar com a ocupação israelense e a colonização de todas as terras árabes e derrubar o muro;
  2. Assegurar os direitos fundamentais dos cidadãos árabe-palestinos de Israel à plena igualdade, e
  3. Implementar, proteger e promover os direitos dos refugiados palestinos de retornar a seus lares e propriedades, como estipula a resolução da ONU 194.

3- Ser um espaço para discussão, troca de idéias, estratégias e planos que desenvolvam a estrutura da solidariedade.

Exatamente após 65 anos de o Brasil ter presidido a seção da Assembléia Geral da ONU que definiu a partilha da Palestina, o Brasil vai abrigar um tipo diferente de fórum global: uma oportunidade histórica de os povos de todo o mundo se levantarem onde seus governos falharam. Os povos do mundo se reunirão para discutir novas visões e ações efetivas para contribuir com a justiça e a paz na região. A participação nesse Fórum deve reforçar estruturalmente a solidariedade com a Palestina; promover ações para implementar os direitos legítimos dos palestinos e tornar Israel e seus aliados imputáveis pela lei internacional. Conclamamos todas as organizações, movimentos, redes e sindicatos em todo o mundo a se unirem ao FSM Palestina Livre, de 289 de novembro a 1º de dezembro, em Porto Alegre, Brasil. Juntos podemos levar a solidariedade à Palestina a um novo patamar. Comitê Organizador do Fórum Social Mundial Palestina Livre.

Saiba mais...

28 de novembro de 2012

Poesia


jardins inabitados pensamentos
pretensas palavras em
pedaços
jardins ausenta-se
a lua figura de
uma falta contemplada
jardins extremos dessa ausência de
jardins anteriores que
recuam
ausência freqüentada sem mistério
céu que recua
sem pergunta

Ana Cristina César

Estou Atrás


do despojamento mais inteiro
da simplicidade mais erma
da palavra mais recém-nascida
do inteiro mais despojado
do ermo mais simples
do nascimento a mais da palavra 

Ana Cristina César

27 de novembro de 2012

As civilizações

As civilizações desabam
por implosão...
Depois,
como um filme passado às avessas
elas se erguem em câmera lenta do chão
Não há de ser nada...
os arqueólogos esperam,pacientemente,
A sua ocasião!

Mário Quintana

Café Filosófico


25 de novembro de 2012

Carimbador Maluco


Plunct Plact ZumNão vai a lugar nenhum!!
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!!
Tem que ser selado, registrado, carimbado
Avaliado, rotulado se quiser voar!
Se quiser voar....
Pra Lua: a taxa é alta,
Pro Sol: identidade
Mas já pro seu foguete viajar pelo universo
É preciso meu carimbo dando o sim,
Sim, sim, sim.
O seu Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!
Tem que ser selado, registrado, carimbado

Avaliado, rotulado se quiser voar!
Se quiser voar....
Pra Lua: a taxa é alta,
Pro Sol: identidade
Mas já pro seu foguete viajar pelo universo
É preciso meu carimbo dando o sim,
Sim, sim, sim.
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!

Mas ora, vejam só, já estou gostando de vocês
Aventura como essa eu nunca experimentei!
O que eu queria mesmo era ir com vocês
Mas já que eu não posso:
Boa viagem, até outra vez.
Agora...
O Plunct Plact Zum
Pode partir sem problema algum
Plunct Plact Zum
Pode partir sem problema algum
(Boa viagem, meninos.
Boa viagem).


Raul Seixas

Jards Macalé e Paulo José cantam e recitam Torquato Neto


Pessoal Intransferível

Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela. Nada no bolso e nas mãos. Sabendo : perigoso, divino, maravilhoso.

Poetar é simples, como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena etc. Difícil é não correr com os versos debaixo do braço. Difícil é não cortar o cabelo quando a barra pesa. Difícil, pra quem não é poeta, é não trair a sua poesia, que, pensando bem, não é nada, se você está sempre pronto a temer tudo; menos o ridículo de declamar versinhos sorridentes. E sair por aí, ainda por cima sorridente mestre de cerimônias, “herdeiro” da poesia dos que levaram a coisa até o fim e continuam levando, graças a Deus.

E fique sabendo: quem não se arrisca não pode berrar. Citação: leve um homem e um boi ao matadouro. O que berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o boi. Adeusão.

Publicado na coluna “Geléia Geral”, 3ª feira, 14/09/71

22 de novembro de 2012

Rua-Rio-Banco




Na Cinelândia
Na Carioca
Mais um artista de rua
... Pelé desde criança
Mata todas no peito
Chuta tudo pro alto
E equilibra
a vida
na testa

Rio Maravilha!
Senta o pau na UPP!

7 de Setembro
Ouvidor
Candelária
Descendo a Rio Branco em contramão
Rumo ao mar
Desaguar no porto
Despejado do povo
Expropriado do lar

Pereira Passos vive!

Rio Maravilha!
Senta o pau na UPP!

Porto Maravilha!

21 de novembro de 2012

Gaza Tank


Impressions of Gaza


Impressions of Gaza

Noam Chomsky

chomsky.info, November 4, 2012

Even a single night in jail is enough to give a taste of what it means to be under the total control of some external force. And it hardly takes more than a day in Gaza to begin to appreciate what it must be like to try to survive in the world’s largest open-air prison, where a million and a half people, in the most densely populated area of the world, are constantly subject to random and often savage terror and arbitrary punishment, with no purpose other than to humiliate and degrade, and with the further goal of ensuring that Palestinian hopes for a decent future will be crushed and that the overwhelming global support for a diplomatic settlement that will grant these rights will be nullified...

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Stop attack on Gaza


Who is doing the killing in Gaza? Noam Chomsky and others challenge world's media



retirado de Stop the War Coalition


WHILE COUNTRIES across Europe and North America commemorated military casualties of past and present wars on November 11, Israel was targeting civilians.

On November 12, waking up to a new week, readers at breakfast were flooded with heart rending accounts of past and current military casualties.

There was, however, no or little mention of the fact that the majority of casualties of modern day wars are civilians.

There was also hardly any mention on the morning of November 12 of military attacks on Gaza that continued throughout the weekend.

A cursory scan confirms this for Canada's CBC, Globe and Mail, Montreal's Gazette, and the Toronto Star. Equally, for the New York Times and for the BBC.

According to the Palestinian Centre for Human Rights (PCHR) report on Sunday November 11, five Palestinian civilians including three children had been killed in the Gaza strip in the previous 72 hours, in addition to two Palestinian security personnel.

Four of the deaths occurred as a result of Israeli military firing artillery shells on youngsters playing soccer. Moreover, 52 civilians had been wounded, of which six were women and 12 were children. (Since we began composing this text, the Palestinian death toll has risen, and continues to rise.)

Articles that do report on the killings overwhelmingly focus on the killing of Palestinian security personnel. For example, anAssociated Press article published in the CBC world news on November 13, entitled 'Israel mulls resuming targeted killings of Gaza militants,' mentions absolutely nothing of civilian deaths and injuries. It portrays the killings as 'targeted assassinations.' The fact that casualties have overwhelmingly been civilians indicates that Israel is not so much engaged in "targeted" killings, as in "collective" killings, thus once again committing the crime of collective punishment.

Another AP item on CBC news from November 12 reads 'Gaza rocket fire raises pressure on Israel government.' It features a photo of an Israeli woman gazing on a hole in her living room ceiling. Again, no images, nor mention of the numerous bleeding casualties or corpses in Gaza. Along the same lines, a BBC headline on November 12 reads 'Israel hit by fresh volley of rockets from Gaza.' Similar trends can be illustrated for European mainstream papers.

News items overwhelmingly focus on the rockets that have been fired from Gaza, none of which have caused human casualties. What is not in focus are the shellings and bombardments on Gaza, which have resulted in numerous severe and fatal casualties. It doesn't take an expert in media science to understand that what we are facing is at best shoddy and skewed reporting, and at worst willfully dishonest manipulation of the readership.

Furthermore, articles that do mention the Palestinian casualties in Gaza consistently report that Israeli operations are in response to rockets from Gaza and to the injuring of Israeli soldiers. However, the chronology of events of the recent flare-up began on November 5, when an innocent, apparently mentally unfit, 20-year old man, Ahmad al-Nabaheen, was shot when he wandered close to the border. Medics had to wait for six hours to be permitted to pick him up and they suspect that he may have died because of that delay.

Then, on November 8, a 13-year-old boy playing football in front of his house was killed by fire from the IOF that had moved into Gazan territory with tanks as well as helicopters. The wounding of four Israeli soldiers at the border on November 10 was therefore already part of a chain of events where Gazan civilians had been killed, and not the triggering event.

We, the signatories, have recently returned from a visit to the Gaza strip. Some among us are now connected to Palestinians living in Gaza through social media. For two nights in a row Palestinians in Gaza were prevented from sleeping through continued engagement of drones, F16s, and indiscriminate bombings of various targets inside the densely populated Gaza strip.

The intent of this is clearly to terrorise the population, successfully so, as we can ascertain from our friends' reports. If it was not for Facebook postings, we would not be aware of the degree of terror felt by ordinary Palestinian civilians in Gaza. This stands in stark contrast to the world's awareness of terrorised and shock-treated Israeli citizens.

An extract of a report sent by a Canadian medic who happened to be in Gaza and helped out in Shifa hospital ER over the weekend says: "the wounded were all civilians with multiple puncture wounds from shrapnel: brain injuries, neck injuries, hemo-pneumo thorax, pericardial tamponade, splenic rupture, intestinal perforations, slatted limbs, traumatic amputations. All of this with no monitors, few stethoscopes, one ultrasound machine. …. Many people with serious but non life threatening injuries were sent home to be re-assessed in the morning due to the sheer volume of casualties. The penetrating shrapnel injuries were spooky. Tiny wounds with massive internal injuries. … There was very little morphine for analgesia."

Apparently such scenes are not newsworthy for the New York Times, the CBC, or the BBC.

Bias and dishonesty with respect to the oppression of Palestinians is nothing new in Western media and has been widely documented. Nevertheless, Israel continues its crimes against humanity with full acquiescence and financial, military and moral support from our governments, the U.S., Canada and the EU.

Netanyahu is currently garnering Western diplomatic support for additional operations in Gaza, which makes us worry that another Cast Lead may be on the horizon. In fact, the very recent events are confirming such an escalation has already begun, as today's death-count climbs. The lack of widespread public outrage at these crimes is a direct consequence of the systematic way in which the facts are withheld and/or of the skewed way these crimes are portrayed.

We wish to express our outrage at the reprehensible media coverage of these acts in the mainstream (corporate) media.

We call on journalists around the world working for corporate media outlets to refuse to be instruments of this systematic policy of disguise. We call on citizens to inform themselves through independent media, and to voice their conscience by whichever means is accessible to them.

Hagit Borer, U.K.
Antoine Bustros, Canada
Noam Chomsky, U.S.
David Heap, Canada
Stephanie Kelly, Canada
Máire Noonan, Canada
Philippe Prévost, France
Verena Stresing, France
Laurie Tuller, France

19 de novembro de 2012

Ode a Fernando Pessoa

O rádio toca Stravinsky para homens surdos e eu recomponho na minha imaginação
a tua vida triste passada em Lisboa.
Ó Mestre da plenitude da Vida cavalgada em Emoções,
Eu e meus amigos te saudamos!
Onde estarás sentindo agora?
Eu te chamo do meio da multidão com minha voz arrebatada,
A ti, que és também Caeiro, Reis, Tu-mesmo, mas é como Campos que vou
saudar-te, e sei que não ficarás sentido por isso.
Quero oferecer-te o palpitar dos meus dias e noites,
A ti, que escutaste tudo quanto se passou no universo,
Grande Aventureiro do Desconhecido, o canto que me ensinaste foi de libertação.
Quando leio teus poemas, alastra-se pela minh'alma dentro um comichão de
saudade da Grande Vida,
Da Grande Vida batida de sol dos trópicos,
Da Grande Vida de aventuras marítimas salpicada de crimes,
Da grande vida dos piratas, Césares do Mar Antigo.
Teus poemas são gritos alegras de Posse,
Vibração nascida com o Mundo, diálogos contínuos com a Morte,
Amor feito a força com toda Terra.

Sempre levo teus poemas na alma e todos os meus amigos fazem o mesmo.
Sei que não sofres fisicamente pelos que estão doentes de Saudade, mas de
Madrugada; quando exaustos nos sentamos nas praças, Tu estás conosco, eu
sei disso, e te respiramos na brisa.
Quero que venhas compartilhar conosco as orgias da meia-noite, queremos ser
para ti mais do que para o resto do mundo.
Fernando Pessoa, Grande Mestre, em que direção aponta tua loucura esta noite?
Que paisagens são estas?
Quem são estes descabelados com gestos de bailarinos?

Vamos, o subúrbio da cidade espera nossa aventura,
As meninas já abandonaram o sono das famílias,
Adolescentes iletrados nos esperam nos parques.
Vamos com o vento nas folhagens, pelos planetas, cavalgando vaga-lumes cegos até o Infinito.
Nós, tenebrosos vagabundos de São Paulo, te ofertamos em turíbulo para uma
bacanal em espuma e fúria.
Quero violar todas as superfícies e todos os homens da superfície, Vamos viver para além da burguesia triste que domina meu país alegremente
Antropófago.
Todos os desconhecidos se aproximam de nós.
Ah, vamos girar juntos pela cidade, não importa o que faças ou quem sejas, eu te
abraço, vamos!
Alimentar o resto da vida com uma hora de loucura, mandar à merda todos os deveres, chutar os padres quando passarmos por eles nas ruas, amar os
pederastas pelo simples prazer de traí-los depois,
Amar livremente mulheres, adolescentes, desobedecer integralmente uma ordem
por cumprir, numa orgia insaciável e insaciada de todos os propósitos-
Sombra.
Em mim e em Ti todos os ritmos da alma humana, todos os risos, todos os olhares,
todos os passos, os crimes, as fugas, Todos os êxtases sentidos de uma vez,
Todas as vidas vividas num minuto Completo e Eterno,
Eu e Tu, Toda a Vida!
Fernando, vamos ler Kierkegaard e Nietzsche no Jardim Trianon pela manhã,
enquanto as crianças brincam na gangorra ao lado.
Vamos percorrer as vielas do centro aos domingos quando toda a gente decente
dorme, e só adolescentes bêbados e putas encontram-se na noite.
Tu, todas as crianças vivazes e sonolentas,
Carícia obscena que o rapazito de olheiras fez ao companheiro de classe e o
professor não vê;
Tu, o Ampliado, latitude-longitude, Portugal África Brasil Angola Lisboa São
Paulo e o resto do mundo,
Abraçado com Sá-Carneiro pela Rua do Ouro acima, de mãos dadas com Mário de Andrade no Largo do Arouche.
Tu, o rumor dos planaltos, tumulto do tráfego na hora do ¿rush¿, repique dos
sinos de São Bento, hora tristonha do entardecer visto do Viaduto do Chá,
Digo em sussurro teus poemas ao ouvido do Brasil, adolescente moreno empinando papagaios na América.
Vamos ver a luz da Aurora chispando nas janelas dos edifícios, escorrendo pelas
águas do Amazonas, batendo em chapa na caatinga nordestina, debruçando
no Corcovado,
Ouçamos a bossa-nova deitados na palma da mão do Cristo e a batucada vinda
diretamente do coração do morro.
Tu, a selvagem inocência nos beijos dos que se amam,
Tu o desengajado, o repentino, o livre.
Agora, vem comigo ao Bar, e beberemos de tudo nunca passando pela caixa,
Vamos ao Brás beber vinho e comer pizza no Lucas, para depois vomitarmos
tudo de cima da ponte,
Vem comigo, eu te mostrarei tudo: o Largo do Arouche à tarde, o Jardim da Luz
pela manhã, veremos os bondes gingando nos trilhos da Avenida, assaltaremos o Fasano, iremos ver ¿as luzes do Cambuci pelas noites de crime¿,
onde está a menina-moça violada por nós num dia de Chuva e Tédio,
Não te levarei ao Paissandu para não acordarmos o sexo do Mário de Andrade
(ai de nós se ele desperta!),
Mas vamos respirar a Noite do alto da Serra do Mar: quero ver as estrelas refletidas
em teus olhos.
Sobre as crianças que dormem, tuas palavras dormem; eu deles me aproximo e
dou-lhes um beijo familiar na face direita.
Teu canto para mim foi música de redenção,
Para tudo e todos a recíproca atração de Alma e Corpo.
Doce intermediário entre nós e a minha maneira predileta de pecar.
Descartes tomando banho-maria, penso, logo minto, na cidade futura, industrial
e inútil.
Mundo, fruto amadurecido em meus braços arqueados de te embalar,
Resumirei para Ti a minha história:
Venho aos trambolhões pelos séculos,
Encarno todos os fora da lei e todos os desajustados,
Não existe um gangster juvenil preso por roubo e nenhum louco sexual que eu
não acompanhe para ser julgado e condenado;
Desconheço exame de consciência, nunca tive remorsos, sou como um lobo
dissonante nas lonjuras de Deus.
Os que me amam dançam nas sepulturas.
Da vidraça aberta olho as estrelas disseminadas no céu; onde estás, Mestre Fernando?
Foste levar a desobediência aos aplicados meninos do Jardim América?
Dás um lírio para quem fugir de casa?
Grande indisciplinador, é verdade?

Vamos ao norte amar as coisas divinamente rudes.
Vamos lá, Fernando, dançar maxixe na Bahia e beber cerveja até cair com um
baque surdo no centro da Cidade Baixa.
Sabes que há mais vida num beco da Bahia ou num morro carioca do que em
toda São Paulo?
São Paulo, cidade minha, até quando serás o convento do Brasil?
Até teus comunistas são mais puritanos do que padres.
Pardos burocratas de São Paulo, vamos fugir para as praias?
Ó cidade das sempiternas mesmices, quando te racharás ao meio?
Quero cuspir no olho do teu Governador e queimar os troncos medrosos da floresta
humana.
Ó Faculdade de Direito, antro de cavalgaduras eloqüentes da masturbação transferida!
Ó mocidade sufocada nas Igrejas, vamos ao ar puro das manhãs de setembro!
Ó maior parque industrial do Brasil, quando limparei minha bunda em ti?
Fornalha do meu Tédio transbordando até o Espasmo.
Horda de bugres galopando a minha raiva!
Sei que não há horizontes para a minha inquietação sem nexo,
Não me limitem, mercadores!
Quero estar livre no meio do Dilúvio!
Quero beber todos os delírios e todas as loucuras, mais profundamente que
qualquer Deus!
Põe-te daqui para fora, policiamento familiar da alma dos fortes: eu quero ser
como um raio para vós!
Violência sincopada de todos os "boxeurs"!
Brasileira do Chiado em dias de porre de absinto.
Arcabouço de todas as náuseas da vida levada em carícias de Infinito.
Tudo dói na tua alma, Nando, tudo te penetra, e eu sinto contigo o íntimo tédio
de tudo.
Realizarei todos os teus poemas, imaginando como eu seria feliz se pudesse estar
contigo e ser tua Sombra.

Roberto Piva (1962)

11 de novembro de 2012

Jet - Lagged/ Vapor Barato



"Viajar, para que e para onde,
se a gente se torna mais infeliz
quanto retorna? Infeliz
e vazio, situações e lugares
desaparecidos no ralo,
ruas e rios confundidos (...)

Mas ficar, para que e para onde,
se não há remédio, xarope ou elixir,
se o pé não encontra chão onde pousar,
(...)
se viajar é a única forma de ser feliz
e pleno?"

Wally Salmoão

9 de novembro de 2012

Sorry!


Exterior

Por que a poesia tem que se confinar?
às paredes de dentro da vulva do poema?
Por que proibir à poesia
estourar os limites do grelo
da greta
da gruta
e se espraiar além da grade
do sol nascido quadrado?
Por que a poesia tem que se sustentar
de pé, cartesiana milícia enfileirada, 
obediente filha da pauta?
Por que a poesia não pode ficar de quatro
e se agachar e se esgueirar
para gozar
- carpe diem! - 
fora da zona da página?
Por que a poesia de rabo preso
sem poder se operar
e, operada,
polimórfica e perversa,
não pode travestir-se
com os clitóris e balangandãs da lira?
Me segura q’eu vou dar um troço
(Wally Sailormoon*)

4 de novembro de 2012

Poema Estatístico




Tem uma esquina prenha de um latido.
Trechos de pássaros que permanecem
nos muros que ficam. E vice-versa.
Um e-mail anotado às pressas no canhoto do tintureiro.
A cirrose portátil. A síndrome do pânico.
O enroladinho de presunto e queijo.

Tem a Mulher mais Linda da Cidade.
Groupies de cabelo rosa. Poodles
da solidariedade. Alguém chorando lágrimas
de tubaína. Penélopes Charmosas.
Dick Vigaristas. Um cara que já sai desviando
do cinema del arte, evitando ser atingido
por alguma conversa perdida.

Tem a mulher da vídeo-locadora
que não conhece o filme que estou procurando.
Um amigo que diz que escreve só para colocar epígrafes.
Taxistas infláveis. Manicures em chamas.
Um casal que desce a rua na banguela
prolongando a gasolina daquilo tudo
que um dia fora. Eu ando apaixonado
pela mulher da vídeo-locadora.
Lendo revistas na sala de espera
do consultório dentário. Tem uma
que venta. E um que desiste.
De arranhar os vidros do aquário.


Marcelo Montenegro

a mulher que falava coisas

O filme conta a história de Stela, que por 30 anos viveu em instituições psiquiátricas. O documentário experimental é um mergulho no universo poético dessa mulher e traduz suas falas inquietantes, com uma linguagem extremamente plástica e visual. "Stela do patrocínio, a mulher que falava coisas" foi dirigido por Marcio de Andrade.