30 de julho de 2013
Nadificar
-Inventei um novo verbo
-Qual?
-Nadificar!
- Em que se emprega o nadificar? Ele diz poema?
- Depende!
É uma despalavra por não dizer, ela diz o nada
- Mas silenciar já não fala disso?
- O silêncio fala por ausência,
Silêncio fala quando cala
Silênciar é ativo, implica em não percebimento
Quem fala é o não ouvir dele
Nadificar fala por não dizer
É passivo
Não tem significado ou significância apenas insignificância
- É verso em vento?
- Não, é reverso do intento de dizer qualquer coisa
Diz coisa alguma, ou menos ainda
Diz que não existo
Ou ao menos que insisto nisso de não ser
Nadificar é habitar o outro que existe em nós mesmos
E quando chegar a ser o outro; então sair
Não presta para quando
Desnunca o ser e o sempre
- De quê serve o não então?
- Serve para antagonizar o sim
O nadificar não presta nem pra afirmar nem desconfirmar
- Se não presta para nada então serve para tudo?
Nem para um nem para outro
Eu diria até que para menos ainda
Se for de repente
Se for vagamente
Se for rente ao abismo da gente;
ou quase lá
Então talvez
- E se talvez?
Então não é
É o que não é
E quando se está não ficar,
Andar sempre rumo a outro lugar
- Além?
- Diria eu que é aquém também!
Nadificar é não transformar nada
E não falar sem se calar
Não estar no quando ou no aonde
Estar aqui sem ser
Impermanecer
Desmetafisicar
- Nadifico em baixo disso!
Raimundo Beato
*descobri agora que Sartre já usava tal termo.
[De nada + -ificar.]
Verbo transitivo direto.
1. Filos. Segundo Sartre (v. sartriano), processo pelo qual a consciência, exercendo o modo de ser que lhe é próprio, torna para-si (q. v.) o que é em si (q. v.), e o anula. [Conjug.: v. trancar.]
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