o homem branco escreve seus esquecimentos
os poetas são os arqueólogos da cidade viva
de uma civilização perdida de sabedorias torpes
os poetas são assassinos do cotidiano
os poetas são aventureiros de um bairro proibido
bailando nas noites longas
bebendo cerveja quente
nos ventos frios dos becos do mundo
na pauta o sangue dos povos esquecidos
que não tem mais suas línguas
a língua dos esquecimentos
a língua dos poetas mortos
está no corpo dos poetas vivos
poesia é corpo
é língua quente que lambe as pedras do mundo
é beijo no vento
e dente rangendo
é alma doendo
não querer que se atreve
não dizer que se fala
querer que não cala
calar que não para
parar que não cansa
cansar que não parte
ficar é ter certezas
partir é ter caminhos
a língua que mata com os seus contratos
contrato é poesia morta
arma de advogados
ninguém mais dá a sua palavra
só o poeta na praça
que dá sua palavra de graça
pois ela não vale nada
o livro
é letra morta
contrato é palavra vendida
poesia é palavra vivida
é pedra que se atira
não é a primeira nem a última
& não se atira nos outros
mas sim no meio do caminho
feito barricada
que barra o rumo do sempre
buscando o nunca antes visto
poesia é pedra no caminho
como um cristo crucificado
que depois de morto volta em meio a liturgia
transformando vinho em sangue
pão em corpo
só a comunhão do corpo com o sangue faz poesia
não é no papel escrito nem no alto altar dos ditos nobres tempos
mas com pé na praça e no museu dos povos
a poesia é liturgia a do esquecimento
esqueçamos o viver tão pouco que vivemos
esquecer é refazer
esqueçamos o caminho tantas vezes percorrido
pois já sabemos o seu trágico destino
desatino deste caminhar tão insensato
voltemos ao útero da caverna para encontrar outras ideias
Salvador Passos
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