7 de maio de 2015

Cobrador de impostos

Ando escrevendo contos adoidado e fico muito irritado quando sou interrompido por barulho e papo furado na rua. Um cara segurando um livro ridículo intitulado “quem mexeu no meu queijo?” me interpela no ônibus lotado:


—Você anota coisas todo santo dia nesse caderninho. Você é escritor?

—Não, querido. Sou cobrador de impostos.

—Não precisa gozar com a minha cara.

—Não estou gozando com sua cara. É que cobro tudo que a vida me toma escrevendo ficção. Fazendo literatura.

—O que é literatura?

—Com licença, senhor. Vou descer no próximo ponto.

—O que é literatura?

— É a arte de transformar baques da vida em delírios de sangue.

—Não entendi. O que é literatura?

—Procura no dicionário ou no Google.


Desci no meu ponto. O vidro do ônibus embaçadão de poeira, mas pude ler seus lábios pronunciando a palavra “escroto” lá de fora. Ninguém me ensinou nada. A vida não dá nada de mão beijada. Cada um que procure o significado da palavra literatura na vida ou dentro de si mesmo.

Diego Moraes


Nenhum comentário:

Postar um comentário