Ando escrevendo contos adoidado e fico muito irritado quando sou interrompido por barulho e papo furado na rua. Um cara segurando um livro ridículo intitulado “quem mexeu no meu queijo?” me interpela no ônibus lotado:
—Você anota coisas todo santo dia nesse caderninho. Você é escritor?
—Não, querido. Sou cobrador de impostos.
—Não precisa gozar com a minha cara.
—Não estou gozando com sua cara. É que cobro tudo que a vida me toma escrevendo ficção. Fazendo literatura.
—O que é literatura?
—Com licença, senhor. Vou descer no próximo ponto.
—O que é literatura?
— É a arte de transformar baques da vida em delírios de sangue.
—Não entendi. O que é literatura?
—Procura no dicionário ou no Google.
Desci no meu ponto. O vidro do ônibus embaçadão de poeira, mas pude ler seus lábios pronunciando a palavra “escroto” lá de fora. Ninguém me ensinou nada. A vida não dá nada de mão beijada. Cada um que procure o significado da palavra literatura na vida ou dentro de si mesmo.
Diego Moraes
Nenhum comentário:
Postar um comentário