23 de fevereiro de 2016
AS RUAS ESTÃO ESTRANHAS ESTA NOITE
Pétalas destroçadas tingem a noite de vermelho.
Mister Morfina se arrasta pelas ruas,
os bolsos cheios de câmaras de ar furadas,
tranqueiras e cacos de vidro.
Peixes coloridos saltam sob a luz dos semáforos.
Uma Rosa cospe um blues na poça das sarjetas.
Um Opala caindo aos pedaços
bate de frente
no Monumento aos Desesperados Anônimos.
O vidro do aquário se estilhaça.
Os peixes fogem montados em motocicletas envenenadas.
Orelhões suicidas gritam palavras obscenas
para velhinhas traficantes.
Mister Morfina acende um cigarro
e observa a palidez de 50 top models
que desfilam descalças
na passarela cheia de cacos de vidro.
Deus está solto.
E dizem que Ele está armado.
Ademir Assunção
22 de fevereiro de 2016
cidade
vago pela cidade
captando sílabas
de algum momento
escolho palavras
em meio ao vento
capto
capturo
capo o recato do silêncio
o momento do ausente
como quem acolhe acasos
ócios
e ocasos
colhendo em meio as frases
esquecimentos
os ocasos do colapso
lapso das palavras sem seu lastro
Salvador Passos
captando sílabas
de algum momento
escolho palavras
em meio ao vento
capto
capturo
capo o recato do silêncio
o momento do ausente
como quem acolhe acasos
ócios
e ocasos
colhendo em meio as frases
esquecimentos
os ocasos do colapso
lapso das palavras sem seu lastro
Salvador Passos
19 de fevereiro de 2016
apocaloptimismo
põe poema no avulso
avilta o prumo
a porta
o entreposto
segue o rumo do teu pranto
o sumo
a vértebra
vertente mestra
enquanto o soco tange o infinito
arfa o ar de teus sufocos
& não deixa a falta de fôlego afogar os teus delírios
põe poema no poente
bem nas reticências do infinito
posta um ponto teu
entre os três já postos pontos
estica a corda sobre o abismo e anda
como um enfermo do evangelho
salta o salto sobre o precipício
se possível caia
& cisma sem lirismo
cataclisma enquanto liturgia
trago a doença que é a cura
(levanta-te e uiva!)
Salvador Passos
avilta o prumo
a porta
o entreposto
segue o rumo do teu pranto
o sumo
a vértebra
vertente mestra
enquanto o soco tange o infinito
arfa o ar de teus sufocos
& não deixa a falta de fôlego afogar os teus delírios
põe poema no poente
bem nas reticências do infinito
posta um ponto teu
entre os três já postos pontos
estica a corda sobre o abismo e anda
como um enfermo do evangelho
salta o salto sobre o precipício
se possível caia
& cisma sem lirismo
cataclisma enquanto liturgia
trago a doença que é a cura
(levanta-te e uiva!)
Salvador Passos
17 de fevereiro de 2016
Poética
A poesia é uma técnica e uma mística ao mesmo tempo, o amálgama entre o sonho e o cálculo, e por isso Rimbaud a chamou "alquimia do verbo". É o número imaginário. Um poeta é portanto algo bastante raro, já que emprega inteligência, sentidos e memória na tarefa de inventar o mundo numa linguagem muito específica e muito concentrada. Está em contato com forças arcaicas e visões futuras. Ele é, no tarô, aquele que pende de cabeça para baixo, ou o que está prestes a caminhar sobre o abismo. Poucos duram o suficiente para usar o símbolo do infinito sobre a cabeça, como um chapéu.
Dirceu Villa.
Dirceu Villa.
5 de fevereiro de 2016
1 de fevereiro de 2016
Mural de Banksy sobre refugiados tapado em Londres
Texto: Isabel Guerreiro· 26 Janeiro, 2016
O artista de rua Banksy volta a sacudir consciências. O mais recente mural, criado junto à embaixada francesa em Londres, no luxuoso bairro de Knightsbridge, denuncia a situação miserável dos refugiados em Calais.
Segundo as agências internacionais, o stencil foi entretanto coberto com tapume, para evitar actos de vandalismo, dizem. Atitude já criticada pelos defensores do famoso artista “guerrilha” britânico.
No grafíti é recriada a personagem Cosetti, protagonista da obra “Os Miseráveis” de Victor Hugo, que chora envolta em nuvens de gás lacrimogéneo. Ao lado foi inscrito um código interactivo com ligação a uma página do Youtube. O vídeo mostra imagens de uma alegada intervenção policial, no início do ano, no campo de refugiados em Calais, já apelidado de “Selva”, com recurso a gás lacrimogéneo, canhões de água e balas de borracha.
Não é a primeira vez que o também activista político faz intervenções de arte urbana onde ataca a actuação da Europa na questão dos refugiados. Ainda no mês passado, outro mural retratava Steve Jobs, o co-fundador da Apple, com um saco preto ao ombro e um computador na mão, recordando as suas origens de imigrante sírio nos Estados Unidos.
“Somos muitas vezes levados a crer que a migração esgota os recursos do país mas Steve Jobs era filho de um migrante sírio. A Apple é a empresa mais lucrativa do mundo, paga anualmente mais de sete mil milhões de dólares em taxas – e só existe porque permitiram a entrada de um jovem de Homs”, podia ler-se numa das raras declarações de Bansky, cuja verdadeira identidade continua envolta em mistério.
A “Selva” de Calais, no noroeste francês, tem sido palco de várias manifestações contra e pró-refugiados. Aqui sobrevivem cerca de 4 mil migrantes, que desesperam pela luz verde para cruzar o canal da mancha, numa travessia de 20 quilómetros para o Reino Unido.
“Nunca desistam; a grandeza leva tempo”, escreveu o autor esta segunda-feira na sua página do tweet, numa provável referência à cobertura da sua intervenção urbana.
