7 de outubro de 2016

anotações

tentar lembrar dos versos que sonhei
devolver os livros pra biblioteca
pagar as contas
regar as flores ressecadas
tirar o lixo
recarregar o celular
olhar o céu nas noites quentes
desligar a TV antes de dormir
observar os vizinhos vendo TV ao fechar as cortinas
contar as luzes que se apagam após a meia noite
sentir o vento soprar no meu rosto
trocar a senha do cartão
cortar as unhas do pé
terminar de ler aquele livro que falava sobre os bonecos de barro
pagar o analista
andar por entre os dias sem ter pressa
tomar uma média numa birosca do centro
postergar o início da jornada
esquecer meu nome
olhar para cidade como um turista
(olhar virgem de palavras; palavra virgem de dizeres)
me perder nas ruas
me perguntar de onde vieram todas estas pessoas
(quais serão seus nomes e seus sonhos?)
deixar meus passos seguirem seus próprios passos
ficar largado nas esquinas
ser o mendigo que estica a mão esperando pelas moedas velhas
anotar as coisas que esqueço
esquecer as coisas que anoto
apostar na loto
jogar fora os bilhetes que não foram premiados
beber mais água
comer menos besteiras
caminhar mais perto do infinito
caminhar mais certo do incerto

Salvador Passos

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