22 de novembro de 2016

medusa mascarada

cidade
sopro aberto
corpo de artérias

carne claustrofóbica
berro de desertas vidas
veias
veios
rios
rochas cegas

chaga infectada
trincheira adormecida
miragem imolada
horizonte amputado
multidão insone tropeçando nas palavras
trens cheios de gente

medusa mascarada
serpente intocada do idioma alheio
infinita ilha babilônica
moinho de atrair delírios
 
argamassa elétrica de arrastar tragédias
epiderme tectônica 

ar que arranha o vidro
olho sem colírio
noturno monolito
ícaro de algum sol invertido

dédalo perdido 
arquitetura de gargantas mortas
engrenagem enferrujada
tarde gangrenada
sal que marca 
e arde na ferida aberta
margem que devora os mares
esperma de palavras brutas
lugar de exílio dos poetas

âmago inerte do quarto círculo do inferno
trânsito sonâmbulo do carbono

escafandros bruscos de perdidos hemisférios
mar que arrasta troços

e traz de volta 
os destroços do naufrágio
submersas multidões 

e o fôlego oprimido de tantas Áfricas  
 
Salvador Passos

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