o poeta acorda
escova os dentes
troca de roupa
sente dores por conta da idade avançada
o poeta escreve, chora, rí, esquece
olha as mãos já trêmulas
sente a noite e suas entranhas
olha a rua vazia
escuta ecos distorcidos de outras épocas
o poeta não escolhe as palavras
elas lhe são impostas pelo mundo
pela força gravitacional do corpo
e seu desassossego inerente,
inerte no lugar que ocupa
inevitável,
como a língua que ele habita feito hábito
como quem toma café todas as manhãs
como a morte: este peso nas cabeças
o poeta recolhe o resto das inércias
exerce o peso dos esquecimentos
tropeça nas fadigas
escolhe as horas mortas entre os pontos esquecidos
marca as margens derradeiras
e não desiste dos fracassos
Salvador Passos
Nenhum comentário:
Postar um comentário