11 de janeiro de 2017

janeiro

pregos enferrujados impedindo o movimento

sangram as sagradas chagas da palavra
soletrando a sombra de um sol insone

o sangue espesso nas carcaças

frágeis pálpebras devassadas
vértebra indefinida
osso do poema
argamassa bruta
dobradiças da cortina
cercas fronteiriças
vertigem inviolável

o segredo da palavra nas entranhas da cidade nua
mar que arma as ondas do naufrágio
ar que arfa o arranjo do incontido

aço de janelas cegas
sol que solda as horas mortas

arde a tarde entre os carros
arde a vida nas entranhas das palavras

partem todos sem destino
perdidos neste rio sem gramáticas
partem sem um nome que defina
o incêndio embaçado desta luz cortante

Salvador Passos

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