10 de abril de 2017

Essa cidade

O exílio é a umidade que sustenta o céu desta cidade. O exílio é São Conrado às 16:57 de uma sexta-feira. O exílio é te ver atravessando a rua como uma terra conquistada e em extinção. O exílio é não encontrar as memórias que guardei em cada mesa do nosso bar. O exílio é todo verão começar o mesmo de novo. O exílio é passar purpurina como uma veste de guerra. O exílio é o quarto dos pais em seu segredo original. O exílio é estar indiferente ao pôr do sol visto da Urca. O exílio é passar por aquela porta com gosto de ruína. O exílio é nunca mais arriscar a Baía de Guanabara. O exílio é o Bar da Cachaça. O exílio é se aproximar lentamente de cada montanha e não entender nada. O exílio é depois de uma certa idade as pessoas não mudam mais. O exílio são nossos diplomas e suas expectativas. O exílio é aquela tese que virava as dores como lajes. O exílio é uma fotografia esquecida em um dispositivo móvel em que uma noite - com a ajuda de um aplicativo - emerge transfigurada em armadilha. O exílio são as rosas rejeitadas por Iemanjá. O exílio é a janela com vista para um rio morto. O exílio é encontrar o equilíbrio estático que sela os poros para ser enfim independente das fases da lua. O exílio é minha pílula anticoncepcional. O exílio é sempre voltar pra casa. O exílio não são duas linhas. O exílio não é um lugar. O exílio é o começo daquele dia em que sem saber o motivo só assenti. O exílio parece áspero e é precisamente onde se pode descobrir. O exílio só termina quando se sabe que não tem fim. O exílio te implora para não olhar e quando você encara de fato está. O exílio é buscar saídas.



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