atesto através de tanto
para o foro geral
do estado do Rio de Janeiro
que na data do dia 02/04/2016
sábado
pela manhã
eu
brasileiro
natural do rio de janeiro
solteiro
sem filhos
desprovido de documentos que comprovem a veracidade dos meus relatos
caminhava
em trajeto aleatório
na região comercial conhecida como Saara
à deriva de qualquer trajeto competente
(ato impertinente)
com motivação incerta
de cumprir proposta metodológica/pedagógica
cuja finalidade
configurava tentativa experimental de poesia
no decorrer de tal conduta
deparei-me com flagrante infração
ao pé de inscrições
de abandonada edificação urbana
que proclamavam em letras irregulares
"guerreiros não morrem"
notei dois homens que dormiam no passeio público
pude ao fim
e ao cabo concluir
o ato experimental a mim outorgado
unindo a frase
(que de acordo com o código penal danificava o patrimônio urbano)
com os homens que dormiam
(sob a indiferença homologada pelos fóruns (in)competentes)
Sem mais recursos cabíveis
emito meu veredito:
"guerreiros não morrem"
eles dormem na calçada!
Salvador Passos
A Caverna
Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
Jean Louis Battre, 2010
Jean Louis Battre, 2010
26 de maio de 2019
Meditações de emergência 1
a vida é suja meu garoto
o enforcado brinca sob a lua o travesti detido
mija na escuridão
a cratera da miséria aumenta cada dia
os pássaros rosnam
os canalhas dançam nas paredes
eu conheci párias mais doces que churros
eu conheci o braço do amor a fome o nojo
eu conheço Raul Bopp & Tristan Corbière
o rio da poesia passa pelo meu quarto
o barco do amor corre entre os rochedos
da minha cama
o girassol da loucura pisca sua lâmpada
amarela na minha direção
a religião castra o homem que castra
a criança & seus fantasmas
a mulher se masturba com o punhal
todo mundo é virgem menos o mundo
as flores do deserto explodem em alegria
África prepara o batuque das auroras
África prepara as zagaias da poesia
as ruas asfaltadas do fim do mundo
os escorpiões aninhando-se na palma da mão
como nuvens
você que vai me amar neste ano de 1979
cuidado com os inventores de deserto
com a formiga no coração
com as tripas ao vento da tempestade
círculo após círculo
o inferno lisérgico de Dante
vai nos levando ao Paraíso
a paixão da serpente pelo seu veneno
o esporte dos loucos nos canteiros de pálpebras
suas coxas imberbes & longas na minha boca
os pastéis de palmitos meio comidos
a gelatina gigante
meu guaraná da Antártica & Gal Costa na vitrola
minha cama arca de Noé dos animais selvagens
alcova como diria Sade
onde eu escrevo este poema ventríloquo
carregado de eletricidade
carregado com o musgo vermelho dos tombadilhos
carregado com os gemidos da adolescência
alcova onde deslizo com esquis de esperma
as constelações me veem brincar com a
espaçonave do seu corpo
garoto sujo de dor
que ouviu as vozes de metal dos ratos
de um cargueiro
que viu desabarem os corações da Terra
em plena época industrial
quando os comerciais da TV fazem desaparecer
a felicidade
Roberto Piva
o enforcado brinca sob a lua o travesti detido
mija na escuridão
a cratera da miséria aumenta cada dia
os pássaros rosnam
os canalhas dançam nas paredes
eu conheci párias mais doces que churros
eu conheci o braço do amor a fome o nojo
eu conheço Raul Bopp & Tristan Corbière
o rio da poesia passa pelo meu quarto
o barco do amor corre entre os rochedos
da minha cama
o girassol da loucura pisca sua lâmpada
amarela na minha direção
a religião castra o homem que castra
a criança & seus fantasmas
a mulher se masturba com o punhal
todo mundo é virgem menos o mundo
as flores do deserto explodem em alegria
África prepara o batuque das auroras
África prepara as zagaias da poesia
as ruas asfaltadas do fim do mundo
os escorpiões aninhando-se na palma da mão
como nuvens
você que vai me amar neste ano de 1979
cuidado com os inventores de deserto
com a formiga no coração
com as tripas ao vento da tempestade
círculo após círculo
o inferno lisérgico de Dante
vai nos levando ao Paraíso
a paixão da serpente pelo seu veneno
o esporte dos loucos nos canteiros de pálpebras
suas coxas imberbes & longas na minha boca
os pastéis de palmitos meio comidos
a gelatina gigante
meu guaraná da Antártica & Gal Costa na vitrola
minha cama arca de Noé dos animais selvagens
alcova como diria Sade
onde eu escrevo este poema ventríloquo
carregado de eletricidade
carregado com o musgo vermelho dos tombadilhos
carregado com os gemidos da adolescência
alcova onde deslizo com esquis de esperma
as constelações me veem brincar com a
espaçonave do seu corpo
garoto sujo de dor
que ouviu as vozes de metal dos ratos
de um cargueiro
que viu desabarem os corações da Terra
em plena época industrial
quando os comerciais da TV fazem desaparecer
a felicidade
Roberto Piva
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