4 de abril de 2020

arqueologia delirante 2

no fundo do terreno
havia o museu dos mortos

árvores avançam
infiltrando-se por dentro das paredes

as paredes vivas
com artérias
estourando os rebocos
engolindo as janelas
aflorando
na epiderme dos tijolos

as escadas saltam
como costelas quando em corpos magros
desejam o que há de horizonte no cansaço
carregam o peso dos que sobem
alimentam a lembrança com seu abandono
é preciso lembrar todas as tragédias
inaugurar uma arqueologia delirante
que atinge as camadas tectônicas
para decompor o campo
compor com lascas
estranhas barricadas

por trás do som
habita a mecânica do hino

qual o jogo que está em jogo?

os uniformes uniformizam

ao logo da fronteira invisível
fileiras e fileiras de sentinelas cegos
que não raro perdem a esportiva
Salvador Passos

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