5 de outubro de 2022

Paradoxos

o que escrevo


não são poemas políticos

de protestos panfletos partidos

ou coisa do tipo


não escrevo cartilhas nem

desvendo armadilhas de um mundo

impossível


não faço do poema uma folha em

branco sendo escrita nas normas da

abnt


não introduzo nem desenvolvo

até porque…


quem muito lattes não morde

você sabe disso


quando escrevo sou reboliço

escrevo a vida assim como ela se

faz a hipérbole é eufemismo

paradoxo quebras grama ti

…………………………………………cais


quando escrevo

poema

escrevo como quem

abre um animal

passando a faca

afiada fazendo linha

vertical


eu

quando escrevo o

poema sou o próprio

animal oferecendo o

que há de dentro

pra uma festa

ancestral


escrevo como quem

trabalha e ama e

dança e corre

e tropeça e come e

bebe e bêbado

e emprego e

desemprego


escrevo com quem

salário como quem

noite

como quem vende

como quem o próprio

corpo


escrevo como quem é

cego e enxerga pelos

ouvidos


como quem tem rimas

terceirizadas e todo

dia bate o ponto


final.


como um filho

da puta que rala na

tentativa de também

ser gente

como quem vem de

longe sendo estrada

consequentemente


escrevo

como quem atravessa

a rua na diagonal

na pressa de viver de

se poder chegar mais

longe.


Pedro Bomba


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