A palavra verdade é mentira
Não há verdade sozinha
Em cada esquina da trilha
Alguma verdade caminha
As letras dos ditos declaram
Palavra sozinha
não cabe na frase
Só cabe na margem
Sozinha de frase
Sozinha de nome
Solitária de sentido
Sozinha de som
Quase a palavra silêncio
Mas a palavra silêncio não cala
Se diz
Palvra sozinha é palavra
Pois toda palavra é tudo
Somente a palavra palavra
é tão somente palavra
Toda palavra sozinha se diz
Toda palavra palavra se lê
Até a palavra silêncio se fala
Até a palavra deserta tem sede
Mesmo a palavra sozinha fala com a palavra ao seu lado
Puxando logo um assunto
Então a frase não para
só na palavra sozinha
A palavra sozinha não sabe ser solitária
Mata logo o silêncio
Neste poema sincero
Faço a palavra sozinha
Tornar-se palavra assassina
Não a palavra que mata
Mas àquela que ressucita
Ela sozinha não fica
Logo logo se excita
A frase lhe nega sentido
De que adianta o sentido
Se sentir não se sente
Não vale a língua dizer
Se ela não fala a verdade
Poema é tudo mentira
Palavra é tudo sincera
Não sabe mentir caladinha
Não sabe ferir o leitor
Já conta logo historinha
Para não deixar o poema
Ficar tristonho assustado
Em estado de puro absurdo
A língua não mente sozinha
Quem arquiteta é o poeta
Palavra poeta não rima
Palavra poeta não poeta
Fica sozinha, calada
Mas palavra silêncio não cala
A palavra rebelde poema a vida inteira
Servindo à todos a mentira sincera de tudo
Se fosse tudo palavra sincera
Nada seria inteiro
A palavra é meta...
...................de
...................fora
...................linguagem
Salvador Passos
A Caverna
Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
Jean Louis Battre, 2010
Jean Louis Battre, 2010
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