Estaria pra sempre perdido
o sentido da coisa não dita
como um dia passado
um caminho sem volta
um caderno sem nota  
ou será que um dia
a mesma palavra retorna
na letra de outra palavra que informa
os mesmos dizeres de agora
em outras formas  
a mesma palavra de agora
em desconhecida palavra não dita
é que da palavra já morta
sobram outras palavras 
como filhos e filhas
irmãos, irmãs e parentes
que mesmo diante daquela ausente
ainda se fazem presentes
não sobra apenas palavra enterrada
vão nascendo outras renovadas palavras 
de dentro da morta palavra
É fácil pensar no processo
Não há recurso ou recesso
que impeça a ideia que grava
Na mesma palavra esquecida
a outra palavra precisa
Eis que a palavra já grita 
mesmo quando calada
não mais morta e caída
Há o silêncio que excita
& a imaginação exercita
a escuridão das palavras inauditas
E vão surgindo caladas 
novas palavras não ditas
Da palavra caída e deitada
Num turbilhão de coisas
Não ditas nas falas das palavras esquecidas
A palavra deitada
A palavra cortada
A palavra enterrada
Nasce da morte a vida
Quase esquecida
inaudita 
Vem à vida a palavra
Nos contrários ressuscita
A vida das coisas não ditas
As cores dos dias distantes
De tanta coisa não dita
As coisas ainda por serem vividas
Todas as coisas de antes
Refletidas em um só instante
Como se uma palavra pudesse
puxar outras 
pelas mãos que não têm
ou pelos pés que não são
voando como o vento
as palavras assim como bichos
vão comendo os sentidos
e cuspindo verdades
não as verdades vividas
mas verdades sonhadas
as verdades verdadeiras das coisas
como se estas fossem apenas as coisas que são
como se numa palavra calada
estivessem todas as palavras esquecidas
todas as palavras não ditas
todas as palavras vividas
e aquelas também não vividas
apenas imaginadas
nos sons de uma língua infinita
todas as coisas não ditas
muitas vezes são ditas
por palavras inauditas
Salvador Passos
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