Na manhã
ainda morna
do frio da noite morta
Tomo como ausente
mais um café
pois eu não quero
chegar mais pronto
ainda sonho
com a noite escura
que já não há
em minha mente
as mil lembranças
da noite ausente
que não mais há
o sonhar sonhos
que não recordo
sonhar aquilo que já não é
sonhar aquilo que não será
e assim mesmo
parado eu e vejo
aquilo que não mais é
aquilo que nunca foi
aquilo que não será
eu paro e bebo o meu café
que não é só mais um café
mas sim os sonhos
que paro e bebo
eu sorvo ausente
o amargo gosto
da noite escura
são tantos sonhos
que já não lembro
há mesmo um sonho a ser sonhado?
há mesmo um ponto a ser pensado?
mas eu só penso o impensável
se paro e bebo
o meu café
pois se não bebo
eu logo chego
e assim chegando
eu logo findo
o que eu sou é já não ser
é estar ausente em meu café
a noite é finda
mas não termina
pois ainda bebo o meu café
só quero o tempo
do meu café
um tempo só
um tempo meu
um tempo nulo
de nada ser
de nada ter
apenas sonhos
sonhandos sonhos
assim sonhados
Salvador Passos
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