Li
em Chestov que a partir de Dostoievsky os escritores começam a luta por
destruir a realidade. Agora a nossa realidade se desmorona.
Despencam-se deuses,valores,paredes...Estamos entre ruínas. A nós
,poetas destes tempos,cabe falar dos morcegos que voam por dentro
dessas ruínas.Dos restos humanos fazendo discursos sozinhos nas ruas. A
nós cabe falar do lixo sobrado e dos rios podres que correm por dentro
de nós e das casas. Aos poetas do futuro caberá a reconstrução- se
houver reconstrução. Porém a nós, a nós, sem dúvida-resta falar dos
fragmentos,do homem fragmentado que, perdendo suas crenças, perdeu sua
unidade interior. É dever dos poetas de hoje falar de tudo que sobrou
das ruínas- e está cego. Cego e torto e nutrido de cinzas(...)
Manoel de Barros
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