A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

23 de outubro de 2012

o nome das palavras

Procurava meus encalços
Olhava em baixo das palavras
Buscava a infância
sob as pedras

Lá estavam as COISAS

Como elas são:

SEM NOMES

Ausentes de metafísica

As coisas não esperavam nomes para serem o que eram

Palavra se enfeitava de rumores para esperar pela poesia

Eu calava (a tua espera)
Sou ateu para gramáticas ou certezas

Perco na palavra o que me cala

Raimundo Beato

Janela de Marinetti

1
cidade dura e arreganhada para o sol
como uma posta de carne curtida ao sal -
onde na rua do maracujá adolesci
e, louco, sorvia a vida a talagadas de cachaça
de alambique.
graveto-do-cão pitu luar do sertão.
uma ponte corta um rio de fazer contas.
arco e flecha de Sultão das Maltas
mira certeira as ventas do dragão lá na lua.
uma seta e um nome tupi de cidade em uma placa
- é, é, jequi, cesto oblongo de cipó pra pegar peixe
n'água, é, é. -
e a rua de paralelepípedo e a rua de chão batido
e a outra rua metade paralelepípedo metade chão batido
lembra jurema pé de joá cacto mandacaru.

fruta de palma perde os espinhos
mergulhada dentro da bacia cheia de areia.
bolo de puba umburana flor de sisal.
cidade dura e arreganhada para o sol
como uma posta de carne curtida no sal,
meu museu do inconsciente
é um prédio mais duro de roer
mais arreganhado para o sol
mais curtido nas salinas do canal lacrimal.

2
o anúncio ditava:
..."a farmácia estreita da rua larga"...
abro
minha caixa de amor e ódio
abuso
da enumeração evocativa,
desando a disparar:
rua alves pereira...
rua apolinário peleteiro...
rua do cochicho...
distingo bem o caroço duro de umbu chupado
da bostica, da bostiquinha redondinha
que nem biscoito de goma
que a cabra da caatinga fabrica.
de pouco vale agora essa sabença.
o chão e tudo é só paisagem calcinada
e tela deserta e miragem e cena envidraçada.
janela de marinetti
sem vista panorâmica
me lixo pro louvre da vitória de samotrácia
apois aposto na corrida futurista da preá
pego carona na rasante de um urubu
diviso lajedo molhado espelhando umbuzeiro gravatá.

um aleijada esmola e merca rolete de cana
três ararsa dois micos uma jibóia enrondilhada.
uma velha choraminga e mói dez tostões de erva
mais cinco mil-réis de sementes de uruncum.
jegues carregados de panacuns.
pau-ferro rolimã curral dos bois.

3
uma ponte corta um rio de fazer contas.
pego as contas dos olhos e as enfio
nas platibandas das casas coloridas.
rua das pedrinhas... borda dam mata...
guito guitó... bolha de mijo de potó...
a profa. teresinha fialho
e a família inteira de doutor fialho
no poleiro das galinhas verdes de plínio salgado.
verdes, verdes. e o amarelo aceso do enxofre
no fundo da talha d''agua-de-beber.
que não escutei "queto!", ouvir não ouço "coitado!".

urubuservar a vida besta do alto do urubuservatório.

por amor de quando fera e peixe e planta e pedra e ave
e besouro e estrela e estrume e grão de areia.
cada qual de per si,
e os jeitos e as qaulidades
das palavras
das quimeras
dos seres,
separados ou em uníssonos
silibavam oráculos...
a ti confesso, janela de marinetti:
comparacem até o mirante
mínimas brasas inquietas
catulptadas pelas criciúmas
dos rios pretos enchidos dos cafundós-do-judas
(minúcias de azinhavres,
línguas de trapos e de caroços,
de troncos e tocos,
hemorragias de baronesas e molambos);

4
na porta da casa facista
o audaz tenor bambino torregrossa assassina lua e luar.

a acha de lenha do passado figura fósforo queimado
carvão apagado
tição perdido e achado aceso
(no meio-dia calcinado carvão forja diamante)
que crepita confundido com as paredes
internas
externas
do porão da bexiga
que crepita fundido no fole refenfem
fem fem
femfem
no resfôlego da tripa que toca gaita,
a tripa gaiteira da folia dos magos reis do boi janeiro.
quem foi que disse que janeiro não saía
boi janeiro tá na rua com prazer e alegria.

essa alegria, motor que me move.
nascido com o auxílio das mãos da parteira mãe jove.

para todo sempre confino
o registro da palavra rotina
com o vento e a chuva
com o plúvio e o pneuma
machetados no registro
da palavra enigma.

5
Cidade-Sol.
Heliópolis,
Baalbeck
da minha infância desterrada.


Wally Salomão
in Algaravias, Editora 34

4 de outubro de 2012

La democracia en España 2


La democracia en España


Tentativa de criminalizar mobilizações populares na Espanha




El juez de la Audiencia Nacional Santiago Pedraz ha citado a declarar para el próximo jueves 4 de octubre a ocho organizadores de la protesta que el próximo 25 de septiembre llama a rodear el Congreso, imputados por un delito contra Altos Organismos de la Nación por promover una manifestación ante la Cámara Baja.
Twitter

Según fuentes judiciales, las citaciones se han producido después de que agentes de Policía identificaran el pasado domingo en el parque de El Retiro de Madrid a estas ocho personas como organizadores de la protesta, cuyo lema es 'Rodea el Congreso'.

El magistrado cuenta además con una investigación judicial llevada a cabo en los últimos días sobre el despliegue de la protesta en la que se han recabado detalles sobre la convocatoria que circulan en distintas redes sociales.

Los ocho están imputados como responsables del delito tipificado en el artículo 494 del Código Penal, que estable pena de prisión de seis meses a un año o multa de doce a veinticuatro meses a "los que promuevan, dirijan o presidan manifestaciones u otra clase de reuniones" ante el Congreso, cuando este esté reunido, "alterando su normal funcionamiento".

Insisten en que es una acción "no violenta"

Desde la Coordinadora 25-S, encargada de organizar la protesta, insisten en que se trata de una acción "no violenta" y que no quieren impedir el acceso de los diputados. "Se llegará hasta donde lo permita la barrera policial", señalan.

Es evidente que intentan construir un escenario lo más crispado posibleDe cara a las próximas reuniones organizativas que tendrán lugar en El Retiro este fin de semana, la Coordinadora 25-S advierte del "posible riesgo que se deriva de la asistencia a las mismas", al tiempo que insisten en que sus actuaciones "no son ilegales".

"Es evidente que intentan construir un escenario lo más crispado posible, que la Delegación del Gobierno pretende criminalizar nuestras reivindicaciones y el creciente apoyo a la movilización, pero cada intento de hacerlo suma miles de personas para rodear el Congreso el próximo 25 de septiembre", añaden.

http://www.20minutos.es/noticia/1595240/0/audiencia-nacional/25-s/delito/

3 de outubro de 2012

Paradise

o rock ronca a roca deste tempo, a morte morta, perdida nos emblemas de outrora, ginsberg com seus lisérgicos dizeres, os seus uivos loucos, poetas perdidos na noite, keorouac com seus passos ligeiros pelo mundo em um tempo que não volta, sal paradise, dean moriarty, nas estradas em busca da sombra de um pai, a busca pelo pai, pelo paraiso, a estrada perdida, um paraiso perdido que está em sí mesmo, os devaneios de se buscar por ai, nos outros, em tudo, no espaço, a terra livre de tudo e de todos, livre da vida, livre das regras, do trabalho, da propriedade, este sonho que mesmo morto não acaba,dentro destes peitos a primavera que persiste, cada um dizendo outras coisas, em outro tempo, mas todos querendo ser livres, o ronco dos motores easy rider mesmo quando a gente can´t get much higher...

Salvador Passos

Cultura

O girino é o peixinho do sapo.
O silêncio é o começo do papo.

O bigode é a antena do gato
O cavalo é o pasto do carrapato

O cabrito é o cordeiro da cabra
O pescoço é a barriga da cobra

O leitão é um porquinho mais novo
A galinha é um pouquinho do ovo

O desejo é o começo do corpo
Engordar é tarefa do porco

A cegonha é a girafa do ganso
O cachorro é um lobo mais manso

O escuro é a metade da zebra
As raízes são as veias da seiva

O camelo é um cavalo sem sede
Tartaruga por dentro é parede

O potrinho é o bezerro da égua
A batalha é o começo da trégua

Papagaio é um dragão miniatura
Bactéria num meio é cultura

Arnaldo Antunes

1 de outubro de 2012

Consagração da vida

Às vezes penso quão desgastante pode ser a vida
e entendo quando as coisas saem do controle
e queremos jogar tudo pro alto, armas e dedos em riste.
E aí me lembro quão importante é o olhar interior.

Mas quando conseguimos olhar as aflições do próximo
sentir suas chagas como se no nosso corpo estivesse, e mais
estar preocupado com o bem estar do outro a ponto de agir
então é nestes momentos que a vida se mostra mais sagrada.

É por isto que o voluntariado é virtuoso
que a maternidade tem a sua santidade
que a docência merece ser venerada
e que as poesias merecem ser escritas.

Socialism has failed. Now capitalism is bankrupt. So what comes next?


Socialism has failed. Now capitalism is bankrupt. So what comes next?

Whatever ideological logo we adopt, the shift from free market to public action needs to be bigger than politicians grasp

Eric Hobsbawm

The Guardian, Friday 10 April 2009

The 20th century is well behind us, but we have not yet learned to live in the 21st, or at least to think in a way that fits it. That should not be as difficult as it seems, because the basic idea that dominated economics and politics in the last century has patently disappeared down the plughole of history. This was the way of thinking about modern industrial economies, or for that matter any economies, in terms of two mutually exclusive opposites: capitalism or socialism.

We have lived through two practical attempts to realise these in their pure form: the centrally state-planned economies of the Soviet type and the totally unrestricted and uncontrolled free-market capitalist economy. The first broke down in the 1980s, and the European communist political systems with it. The second is breaking down before our eyes in the greatest crisis of global capitalism since the 1930s. In some ways it is a greater crisis than in the 1930s, because the globalisation of the economy was not then as far advanced as it is today, and the crisis did not affect the planned economy of the Soviet Union. We don't yet know how grave and lasting the consequences of the present world crisis will be, but they certainly mark the end of the sort of free-market capitalism that captured the world and its governments in the years since Margaret Thatcher and President Reagan.

Impotence therefore faces both those who believe in what amounts to a pure, stateless, market capitalism, a sort of international bourgeois anarchism, and those who believe in a planned socialism uncontaminated by private profit-seeking. Both are bankrupt. The future, like the present and the past, belongs to mixed economies in which public and private are braided together in one way or another. But how? That is the problem for everybody today, but especially for people on the left.

Nobody seriously thinks of returning to the socialist systems of the Soviet type - not only because of their political faults, but also because of the increasing sluggishness and inefficiency of their economies - though this should not lead us to underestimate their impressive social and educational achievements. On the other hand, until the global free market imploded last year, even the social-democratic or other moderate left parties in the rich countries of northern capitalism and Australasia had committed themselves more and more to the success of free-market capitalism. Indeed, between the fall of the USSR and now I can think of no such party or leader denouncing capitalism as unacceptable. None were more committed to it than New Labour. In their economic policies both Tony Blair and (until October 2008) Gordon Brown could be described without real exaggeration as Thatcher in trousers. The same is true of the Democratic party in the US.

The basic Labour idea since the 1950s was that socialism was unnecessary, because a capitalist system could be relied on to flourish and to generate more wealth than any other. All socialists had to do was to ensure its equitable distribution. But since the 1970s the accelerating surge of globalisation made it more and more difficult and fatally undermined the traditional basis of the Labour party's, and indeed any social-democratic party's, support and policies. Many in the 1980s agreed that if the ship of Labour was not to founder, which was a real possibility at the time, it would have to be refitted.

But it was not refitted. Under the impact of what it saw as the Thatcherite economic revival, New Labour since 1997 swallowed the ideology, or rather the theology, of global free-market fundamentalism whole. Britain deregulated its markets, sold its industries to the highest bidder, stopped making things to export (unlike Germany, France and Switzerland) and put its money on becoming the global centre of financial services and therefore a paradise for zillionaire money-launderers. That is why the impact of the world crisis on the pound and the British economy today is likely to be more catastrophic than on any other major western economy - and full recovery may well be harder.

You may say that's all over now. We're free to return to the mixed economy. The old toolbox of Labour is available again - everything up to nationalisation - so let's just go and use the tools once again, which Labour should never have put away. But that suggests we know what to do with them. We don't. For one thing, we don't know how to overcome the present crisis. None of the world's governments, central banks or international financial institutions know: they are all like a blind man trying to get out of a maze by tapping the walls with different kinds of sticks in the hope of finding the way out. For another, we underestimate how addicted governments and decision-makers still are to the free-market snorts that have made them feel so good for decades. Have we really got away from the assumption that private profit-making enterprise is always a better, because more efficient, way of doing things? That business organisation and accountancy should be the model even for public service, education and research? That the growing chasm between the super-rich and the rest doesn't matter that much, so long as everybody else (except the minority of the poor) is getting a bit better off? That what a country needs is under all circumstances maximum economic growth and commercial competitiveness? I don't think so.

But a progressive policy needs more than just a bigger break with the economic and moral assumptions of the past 30 years. It needs a return to the conviction that economic growth and the affluence it brings is a means and not an end. The end is what it does to the lives, life-chances and hopes of people. Look at London. Of course it matters to all of us that London's economy flourishes. But the test of the enormous wealth generated in patches of the capital is not that it contributed 20%-30% to Britain's GDP but how it affects the lives of the millions who live and work there. What kind of lives are available to them? Can they afford to live there? If they can't, it is not compensation that London is also a paradise for the ultra-rich. Can they get decently paid jobs or jobs at all? If they can't, don't brag about all those Michelin-starred restaurants and their self-dramatising chefs. Or schooling for children? Inadequate schools are not offset by the fact that London universities could field a football team of Nobel prize winners.

The test of a progressive policy is not private but public, not just rising income and consumption for individuals, but widening the opportunities and what Amartya Sen calls the "capabilities" of all through collective action. But that means, it must mean, public non-profit initiative, even if only in redistributing private accumulation. Public decisions aimed at collective social improvement from which all human lives should gain. That is the basis of progressive policy - not maximising economic growth and personal incomes. Nowhere will this be more important than in tackling the greatest problem facing us this century, the environmental crisis. Whatever ideological logo we choose for it, it will mean a major shift away from the free market and towards public action, a bigger shift than the British government has yet envisaged. And, given the acuteness of the economic crisis, probably a fairly rapid shift. Time is not on our side.

• Eric Hobsbawm's most recent publication is On Empire: America, War, and Global Supremacy