A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

31 de julho de 2014

Graffiti Dança



Melhor Animação Brasileira Anima Mundi pelo voto popular de São Paulo.

Na São Paulo do século XXI, personagens de graffiti dançam uma canção dos anos 1950.

29 de julho de 2014

PROCURADO!

Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, Mikhail Bakunin, considerado um dos fundadores do anarquismo, foi classificado como um “potencial suspeito” pela polícia carioca, que investiga manifestantes e ativistas



Da Revista Fórum

Reportagem publicada nesta segunda-feira (28) no jornal Folha de S. Paulo traz uma revelação no mínimo curiosa: o inquérito de mais de 2 mil páginas, produzido pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, que responsabiliza 23 pessoas pela organização de ações violentas em manifestações de rua, aponta o filósofo Mikhail Bakunin como um dos suspeitos. Morto em 1876, o russo é considerado um dos pais do anarquismo.

De acordo com a matéria, Bakunin foi citado por um manifestante em uma mensagem interceptada pela polícia. A partir daí, passou a ser classificado como um “potencial suspeito”. A professora Camila Jourdan, de 34 anos, uma das investigadas, menciona esse episódio para demonstrar a fragilidade do inquérito. “Do pouco que li, posso dizer que esse processo é uma obra de literatura fantástica de má qualidade”, descreve.

Essa não é a primeira vez que intelectuais já falecidos figuram em autos das autoridades brasileiras. Durante a ditadura militar, Karl Marx era um dos fichados no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), um dos principais órgãos de repressão aos movimentos políticos e sociais identificados como “subversivos”.

Jourdan ficou 13 dias presa no complexo penitenciário de Bangu, na zona oeste do Rio. Conhecida pela excelência acadêmica na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), onde coordena o programa de pós-graduação em filosofia, ela diz sido alvo de uma invenção dos investigadores. “Existe uma necessidade de se fabricar líderes para essas manifestações. E quem se encaixa muito bem no papel de mentora intelectual? A professora universitária. Caiu como uma luva, entendeu?”, afirma.

Para contestar o “papel de liderança” que lhe foi atribuído pela polícia, a professora se vale das teorias do filósofo francês Michael Foucault. “Foucault diz que os intelectuais descobriram que as massas não precisam deles como interlocutores. Não tenho autoridade para falar sobre a opressão de ninguém. O movimento não precisa de mim para este papel”, declara.

Foto de capa: Wikicommons

28 de julho de 2014

punhal na rocha

cravei meu nome com punhal na rocha

(não havia sintaxe nas pedras
letra nas coisas
verbo nos ventos
mas uma vontade de poema 
nas lâminas do meu ser)

a noite escuta o ranger das horas
o arrastar das eras
o pingar das chuvas
o andar dos passos

os dentes cravam seu marfim descrente
nas auroras quentes

o enfim ausente explicar dos nomes
queda mudo

diante do TUDO

o espanto do mundo

Salvador Passos


Violência de direito

Os manifestantes tidos por “ilegítimos” ajudam a democracia a avançar. Direito e justiça nem sempre andam juntos 

 
por Vladmir Safatle publicado 27/07/2014
 

O cenário era previsível. Governos acuados por ondas de manifestações que parecem, por um momento, sair completamente do controle e atingir todos os partidos, imprensa e instituições respondem normalmente de maneira idêntica. Eles começam por afirmar existir manifestantes legítimos e ilegítimos. Os primeiros respeitam o Estado Democrático de Direito e estão lá para referendar a festa da democracia brasileira. Eles sairão às ruas, mas no fundo não devem ser ouvidos. Como se diz, quem está descontente que use o voto, mesmo se as eleições se transformaram, em grande parte, em um jogo viciado no qual uma partidocracia define as opções possíveis e associações escusas entre classe política e empresariado determinam quais dessas opções terão fôlego real.

Ou seja, afirmar que a melhor resposta é o voto tem, atualmente, algo de silêncio imposto. Escolhas limitadas não são escolhas reais. Se a classe política não se sentir pressionada até o limite a ouvir o que vem das ruas, a dar à insatisfação popular uma forma, ela simplesmente não ouvirá e nada fará. Pensem, por exemplo, no que aconteceu com as ditas reformas que circulavam no Congresso Nacional, depois das manifestações de junho. Em larga medida, elas desapareceram. 

No entanto, quem força até o limite a classe política são aqueles que os governos gostam de chamar de “manifestantes ilegítimos”, ou seja, esses que agem “fora do Estado Democrático de Direito”. Quando pacifistas impedem a circulação de armamentos, ecologistas vão à Rússia impedir navios de despejarem lixo no mar, quando grevistas fazem piquetes e camponeses invadem latifúndios, ouvimos sempre a mesma coisa: trata-se de criminosos que agem à margem do Estado Democrático de Direito, obrigando o Estado e sua polícia a tomar medidas violentas a fim de fazer respeitar a legalidade democrática. 

No entanto, são esses os que atuam à margem do Estado Democrático de Direito e que fazem a democracia avançar. Pois eles nos lembram que a democracia é o único regime que reconhece sua própria imperfeição e incompletude. Por isso, ela é o único que aceita que há momentos nos quais direito e Justiça se dissociam. Há uma violência que vem da urgência da necessidade de mudança. Por isso, ela é uma violência política.

Nesse exato momento, dezenas de manifestantes estão presos ou foragidos por se indignarem contra os gastos da Copa do Mundo, a miséria de nosso sistema político e o caráter lastimável de nossos serviços públicos. Segundo a polícia, eles preparavam um grande ataque, com direito a bombas, assassinatos de policiais, megadepredações, em suma, o caos.  Sim, a mesma polícia que mais tortura, da América Latina, que costuma fazer pessoas simplesmente desaparecerem na representação ontológica do nada (como o senhor Amarildo), que foi filmada infiltrando-se em manifestações a fim de insuflar violência, que ficou famosa pela mistura de ineficiência, truculência e barbarismo agora vem à imprensa dizer que descobriu um complô formado por advogados, professoras de Filosofia e ativistas para criar o mais fantástico ato terrorista da Nova República. Em seus inquéritos, ela acusa de “formação de quadrilha” pessoas que nem sequer se conheciam e faz apelo à vidência para afirmar que agiu de maneira preventiva para evitar o pior. As gravações telefônicas, ao menos as apresentadas pela imprensa, são de fragilidade aterradora.

O resultado são ativistas na cadeia, sem que em momento algum a população ouvisse suas versões, assim como uma advogada que pediu asilo político ao vizinho Uruguai. Que uma parte da população aplauda isso, dizendo que devemos ter braços firmes contra arruaceiros, eis algo nada surpreendente. São os mesmos que falavam as mesmas coisas na época da ditadura. E de nada adianta dizer que nossa situação não é ditatorial. Nem só ditaduras cometem atos de exceção. As democracias parlamentares têm uma zona cinzenta de suspensão da lei ou de torção da lei usada quando o poder se sente acuado. Que o digam Julian Assange e Edward Snowden. Já para quem chama de vândalos os que jogam pedras em vidraças de banco, eu diria: pior vândalo é quem funda bancos. Se esses vândalos que quebram a economia de países pagassem por seus crimes, certamente não haveria hoje aqueles que quebram vidraças. A resposta a essas pessoas que agem de maneira cada vez mais violenta é a política, não a polícia.

Deslimites


A menina apareceu grávida de um gavião.
Veio falou para a mãe: O gavião me desmoçou.
A mãe disse: Você vai parir uma árvore para a gente comer goiaba nela.
E comeram goiaba.
Naquele tempo de dantes não havia limites para ser.
Se a gente encostava em ser ave ganhava o poder de alçar.
Se a gente falasse a partir de um córrego a gente pegava murmúrios.
Não havia comportamento de estar.
Urubus conversavam sobre auroras.
Pessoas viravam árvore.
Pedras viravam rouxinóis.
Depois veio a ordem das coisas e as pedras têm que rolar seu destino de pedra para o resto dos tempos.
Só as palavras não foram castigadas com a ordem natural das coisas.
As palavras continuam com os seus deslimites.


Manoel de Barros

16 de julho de 2014

lêleminski


Alvaro Andrade

Do exercício subversivo de brincar

Documentário de Cacau Rhoden faz corajoso elogio da infância e brincadeira, esquecendo-se talvez de debater processos sociais que tornam mundo bem menos alegre



Por Deni Rubbo | Imagem: Banksy

Ouça um bom conselho que vai de graça: hoje, amanhã, ou por esses dias, não se acanhe de selecionar uma foto que você mais gosta de quando era criança guardada na sala ou naquele armário empoeirado. Preferencialmente uma foto que vai rememorar aquela criança viva, ativa, sorridente, brincalhona, lúdica que você foi. Olhe para ela e faça as seguintes perguntas: como ela está e por onde ela está? Caso não tiver coragem, não se preocupe, a foto perguntará para você. A possibilidade de nos assustarmos é altíssima. E de repensarmos algumas coisas também.

Esse sábio conselho aparece em um dos trechos do sensível e delicado documentário Tarja Branca – A revolução que faltava, dirigido por Cacau Rhoden. Produzido pela Maria Farinha Filmes, que possui em sua bagagem documentários sobre a infância como Muito Além do Peso (2012) e Criança, a alma do negócio (2008), ambos de Estela Rennel, Tarja Branca é um incrível manifesto pelo direito de brincar da criança. Isso mesmo. Se nos documentários precedentes a criança fora relacionada especificamente aos problemas de saúde e marcas de publicidade, agora está latente a hipótese de que a brincadeira das crianças está em crise. Brincar tornou-se um ato perigoso. Esconde-esconde, pega-pega, empinar pipa, pular corda, e os versos da canção “Doze anos”, de Chico Buarque, da “Bola de meia, bola de gude”, de Milton Nascimento e de “Moleque”, de Gonzaguinha, estão tornando-se cada vez mais ausentes em nossa sociedade.

O maior recheio do filme está nas entrevistas que moldam um determinado discurso, preparam uma defesa para o tema proposto. Pessoas de profissões das mais diferentes funções, pedagogos, artistas, humoristas, psicólogos etc. misturam depoimentos pessoais com análises distintas e instigantes.
Todos parecem concordar que o brincar é a atividade raiz da infância. Trata-se de uma atividade soberba porque expressa a plenitude, a expansão, a liberdade, a unidade. É a primeira maneira de se ligação com o mundo social. Ela é, segundo um dos entrevistados, aquela água subterrânea que percorre todo o rio da vida que bebemos e de que dependemos.

A proposta também escora-se nos adultos. Deve-se – por necessidade – resgatar a criança dentro de cada adulto. Não é uma tarefa simples, como procurar numa caixa velha uma ferramenta perdida, pois, na maior parte das vezes, nem percebemos o quanto no tornamos sérios demais e ocupados demais para brincar não somente com os outros, mas com nós mesmos. Concluímos, ainda, nos anais da vã filosofia sobre “maturidade adulta”, que seriedade é sinônimo de competência e que brincadeira é sinônimo de imperfeição. A primeira é profissional e eficaz, enquanto a segunda é imprudente e desnecessária. Porém, não se trata de regressar ao estado infantil, de deixar que subam passivamente os vapores das saudades, mas de recompor o lugar e o momento dessas condutas perdidas.

Quantas vezes crianças não ouvem dos adultos que “hoje não dá, filho, estou ocupado”, “hoje não dá, filha, estou com muita pressa” ou “estou muito cansado”.

Mas não nos esqueçamos de algo fundamental: a pressa, a ocupação, o cansaço não são apenas frutos da disposição individual de cada um, mas de circunstâncias sociais e históricas precisas. Assim, em Tarja Branca, às vezes fica a sensação de que basta que cada pessoa olhe para a criança que está dentro de si e aflore espontaneamente o universo lúdico da qual estava tolhida. Afinal, trabalha-se doze, dez, oito horas por dia, porque as contas chegam, enfrenta-se diariamente trânsito crônico, além de todos os outros deveres do cotidiano. Então, nesse contexto, quais as condições da criança (re)nascer no adulto? O aborto dia a dia dessa criança não é feito pela escolha do adulto, mas por circunstâncias que ele se defronta diretamente.

Para recuperar o lúdico na vida cotidiana é preciso lutar contra um processo histórico específico que trocou a brincadeira artesanal, autêntica, pelos shoppings centers e consumos de eletrônicos. É preciso também de ideias, critérios e perguntas radicalmente diferentes do que os slogans da sociedade moderna invoca o tempo todo. A começar, por exemplo, pela redução drástica do tempo de trabalho obrigatório e a mudança da própria noção de trabalho. Trocando em miúdos, não poderá haver completo desenvolvimento individual do “tempo livre” enquanto o trabalhador permanecer alienado e mutilado no trabalho. Sair em defesa da “tarja branca”, portanto, é também atacar de frente os imperativos da “tarja preta”. E o documentário apenas flerta com esse exercício. No entanto, é indiscutível sua resistência, em muitas falas e imagens, na ligação com a cultura popular, até porque as tônicas dos discursos no filme não são homogêneas.

Brigar politicamente para brincar socialmente. Sem isso ficamos um pouco ingênuos; e com isso ficamos com uma esperança crítica, que sempre renasce à luz das provas históricas. Assim, o peão, a bola de meia, a rua, a dança na chuva, estão do lado da trincheira da transformação social. Daí, o direito de brincar das crianças (e das crianças nos adultos) figura como naqueles versos de Carlos Drummond de Andrade: “vence o tédio, ilumina o dia e instaura em nossa natureza a imperecível alegria”. Ah, leitor, por favor, não se esqueça: da gaveta, do álbum, da foto e das perguntas.

3 de julho de 2014

Paisagem para Anna Akhmátova

O corpo, ainda corpo,
sabe de cor
a dor. Dizer adeus,
carpir, esconder,
bater palavras contra o muro.
Ruas de São Petersburgo
sob a neblina – o corpo
sabe de cor
onde se morre.
Mas, por entre o estridor
de soldados e funcionários,
cava uma saída:
o próximo poema
(promessa de delicadeza e silêncio)
– ouve cantar uma cereja. 
 
Eucanaã Ferraz

Quem disse que a poesia é apenas agreste avena?

Quem disse que a poesia é apenas
agreste avena?
A poesia é a eterna Tomada da Bastilha
o eterno querba-quebra
o enforcar de judas, executivos e catedráticos em todas
[as esquinas
e,
a um ruflar poderoso de asas,
entre cortinas incendiadas,
os Anjos do Senhor estuprando as mais belas filhas
[dos mortais...
Deles, nascem os poetas.
Não todos... Os legítimos
espúrios:
um Rimbaud, um Poe, um Cruz e Souza...

(Rege-os, misteriosamente, o décimo-terceiro signo do
[Zodíaco.)

Mário Quintana

2 de julho de 2014

Conversation with a Stone


Conversation with a Stone, By Wislawa Szymborska

translated from the Polish by Stanislaw Baranczak and Clare Cavanagh

I knock at the stone's front door
"It's only me, let me come in.
I want to enter your insides,
have a look around,
breathe my fill of you."
"Go away," says the stone.
"I'm shut tight.
Even if you break me to pieces,
we'll all still be closed.
You can grind us to sand,
we still won't let you in."
I knock at the stone's front door.
"It's only me, let me come in.
I've come out of pure curiosity.
Only life can quench it.
I mean to stroll through your palace,
then go calling on a leaf, a drop of water.
I don't have much time.
My mortality should touch you."
"I'm made of stone," says the stone.
"And must therefore keep a straight face.
Go away.
I don't have the muscles to laugh."
I knock at the stone's front door.
"It's only me, let me come in.
I hear you have great empty halls inside you,
unseen, their beauty in vain,
soundless, not echoing anyone's steps.
Admit you don't know them well yourself.
"Great and empty, true enough," says the stone,
"but there isn't any room.
Beautiful, perhaps, but not to the taste
of your poor senses.
You may get to know me but you'll never know me through.
My whole surface is turned toward you,
all my insides turned away."
I knock at the stone's front door.
"It's only me, let me come in.
I don't seek refuge for eternity.
I'm not unhappy.
I'm not homeless.
My world is worth returning to.
I'll enter and exit empty-handed.
And my proof I was there
will be only words,
which no one will believe."
"You shall not enter," says the stone.
"You lack the sense of taking part.
No other sense can make up for your missing sense of taking part.
Even sight heightened to become all-seeing
will do you no good without a sense of taking part.
You shall not enter, you have only a sense of what that sense should be,
only its seed, imagination."
I knock at the stone's front door.
"It's only me, let me come in.
I haven't got two thousand centuries,
so let me come under your roof."
"If you don't believe me," says the stone,
"just ask the leaf, it will tell you the same.
Ask a drop of water, it will say what the leaf has said.
And, finally, ask a hair from your own head.
I am bursting from laughter, yes, laughter, vast laughter,
although I don't know how to laugh."
I knock at the stone's front door.
"It's only me, let me come in.
"I don't have a door," says the stone.

The Onion

The Onion, by Wisława Szymborska

Translated by Stanislaw Baranczak and Clare Cavanagh

the onion, now that’s something else
its innards don’t exist
nothing but pure onionhood
fills this devout onionist
oniony on the inside
onionesque it appears
it follows its own daimonion
without our human tears
our skin is just a coverup
for the land where none dare to go
an internal inferno
the anathema of anatomy
in an onion there’s only onion
from its top to it’s toe
onionymous monomania
unanimous omninudity
at peace, at peace
internally at rest
inside it, there’s a smaller one
of undiminished worth
the second holds a third one
the third contains a fourth
a centripetal fugue
polypony compressed
nature’s rotundest tummy
its greatest success story
the onion drapes itself in it’s
own aureoles of glory
we hold veins, nerves, and fat
secretions’ secret sections
not for us such idiotic
onionoid perfections