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O procedimento do nômade - o sem teto, o camelô, o favelado, o migrante - é sempre tático. Ele não dispõe de dispositivos de planejamento e coerção: sua ação é ditada pelas necessidades de sobrevivência individual. Ele instrumentaliza tudo o que está ao seu alcance: o morador de rua usa a torneira do posto de gasolina, o camelô toma para si um trecho da calçada, o favelado ocupa áreas junto a autopistas e viadutos e faz ligações clandestinas de luz. Toda a infra-estrutura urbana vai sendo potencialmente requisitada e redirecionada para outros usos (...) O nômade está sempre produzindo aramas, criando dispositivos de guerra. São instrumentos e equipamentos de sobrevivência na cidade global (...) As zonas, espaços e objetos que os imigrantes inventam são territórios de jogo e ironia, onde o estranhamento opera para criar linguagem e desenhar um novo lugar. A cidade é um espaço compartimentalizado pelo capital e o trabalho. Mas movimentos colocam continuamente em xeque essas repartições rígidas. Processos fluidos que vazam através dos limites reconfigurando de outro modo as situações. As populações sem moradia, os que se dedicam ao comércio informal e os catadores de papel são agentes destes fluxos, da maré do indiferenciado que corrói as estruturas urbanas estabelecidas (...) Os nômades metropolitanos operam uma máquina de guerra contras as políticas urbanas e os empreendimentos imobiliários que determinam a estruturação excludente da cidade (...) Os percursos dos sem lugar estabelecem um outro modo de organizar e perceber o espaço(...) Eles tomam o território através de densificações e intensificações (...) Aparelhos de captura são construídos para se apropriarem das máquinas de guerra. Tomada pelo Estado, a máquina de guerra é dirigida contra os nômades. (...) é o modelo da fortaleza: cada vez que há operação de desestabilização, que um novo potencial nomádico aparece, a resposta do aparelho consiste em estriar o espaço, contra tudo o que ameaça invadir ou transbordá-lo. Daí as cercas, os condomínios, as áreas restritas para o comércio informal, as práticas de remoção das populações sem moradia. A arquitetura é, em geral, um aparelho de captura.
Nelson Brissac Peixoto
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