A Mulher e o Homem sonhavam que Deus estava sonhando.
Deus os sonhava enquanto cantava e agitava seus maracás, envolvido em
fumaça de tabaco. E se sentia feliz, e também estremecendo pela dúvida e
pelo mistério. Os índios Makiritare sabem que, se Deus sonha com
comida, frutifica e dá de comer.
Se Deus sonha com a vida, nasce e dá de nascer.
A Mulher e o Homem sonhavam que no sonho de Deus aparecia um grande ovo brilhante. Dentro do ovo, eles cantavam, e dançavam e faziam um grande alvoroço, porque estavam loucos de vontade de nascer. Sonhavam que no sonho de Deus a alegria era mais forte que a dúvida e o mistério, e Deus sonhando os criava, e cantando dizia:
- Quero este ovo, e nasce a Mulher, e nasce o Homem, e juntos viverão e morrerão.
Mas nascerão novamente.
Nascerão e tornarão a morrer, e outra vez nascerão.
E nunca deixarão de nascer, porque a morte é uma mentira.
Eduardo Galeano
A Caverna
Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
Jean Louis Battre, 2010
Jean Louis Battre, 2010
17 de setembro de 2015
crime perfeito
abaixo todos os cartórios
viva a fronteira desguarnecida
a utopia não requer testemunhas
o poema é o crime perfeito
do qual todos querem ser cúmplices
Salvador Passos
viva a fronteira desguarnecida
a utopia não requer testemunhas
o poema é o crime perfeito
do qual todos querem ser cúmplices
Salvador Passos
15 de setembro de 2015
14 de setembro de 2015
Tradição Delirante
A luta que se está travando é realizada entre o Capital e a Vida. O
corpo é o campo de batalha que se mostra com toda sua força. E a luta
é a insistência na resistência, é a resistência enquanto forma de
produção – é resistência e criação, ou seja, a produção de
campos discursivos que afastam a propagação da homogeneização como
único signo possível. Nesse sentido, a tradição delirante é um
desses campos onde essas possíveis potências seguem sendo atualizado
pelos corpos, pela vida e pela criação. A tradição delirante é uma
cartografia afetiva constituída a partir das potências de criação,
seus embates com as formas de controle e a mixagem real das forças em
ação.
9 de setembro de 2015
atentA Antena
atentA
Antena
o
poema
conciso retém
no ar o ruído
E
compacto
capta
—
apta onda —
((((((.))))))
imagem
rápida
Antônio Moura
3 de setembro de 2015
Governo canadense negou asilo à família de menino que se afogou na Turquia
No mais recente episódio da crise global da migração, as fotografias do corpo sem vida de um menino sírio que apareceu numa praia turca, depois que seu barco afundou no Mediterrâneo tornaram-se virais. O menino Aylan Kurdi de três anos de idade, seu irmão de cinco anos Galip e sua mãe, Rehan, afogou-se terça-feira como a família ao tentarem chegar a Grécia em uma eventual tentativa de juntar com parentes no Canadá, onde se tinha negado o pedido de asilo. A tia do menino, Teema Kurdim, que é cabeleireira em Vancouver, disse ao National Post, "Estava tentando patrociná-los, eu tenho meus amigos e meus vizinhos que me ajudaram com os depósitos bancários, mas não conseguimos tirá-los de lá e é por isso que eles entraram no barco." O governo do Canadá recebido fortes críticas por não aceitar mais sírios fugindo da guerra Civil Síria. Em Janeiro, o Ministro da imigração, Chris Alexander comprometeu-se que Canadá iria receber 10.000 sírios durante três anos. Mas novos números do governo mostram que, a partir do final de julho, Canadá teria recebido apenas 1.002 sírios.
In the latest from the global migration crisis, the photos of the lifeless body of a Syrian boy who washed up on a Turkish beach after his boat sank in the Mediterranean have gone viral. Three-year-old Aylan Kurdi, his five-year-old brother Galip and their mother, Rehan, drowned Tuesday as the family attempted to reach Greece in an eventual bid to join relatives in Canada where their asylum application had been denied. The boy’s aunt, Teema Kurdim, who is a hairdresser in Vancouver, told the National Post, "I was trying to sponsor them, and I have my friends and my neighbors who helped me with the bank deposits, but we couldn’t get them out, and that is why they went in the boat." Canada has come under intense criticism for not accepting more Syrians fleeing the Syrian civil war. In January, Immigration Minister Chris Alexander pledged Canada would resettle 10,000 Syrians over three years. But new government figures show that, as of late July, Canada had welcomed only 1,002 Syrians.
Fonte: Democracy Now
2 de setembro de 2015
Capital
A melhor forma de se vingar do capital é escrevendo poesia. Os bancos
odeiam quem faz poesia. O dinheiro odeia poetas. Porque poeta não
precisa de muito. Poeta não quer um carro do ano. Não quer uma mansão no
Itaim Bibi. Poeta só gosta de ostentar sua solidão. Meu bar predileto
fechou as portas, meu pai está falindo, meus melhores amigos estão
desempregados aí como forma de vingança não vou trabalhar e abro uma
garrafa de conhaque seresteiro às 9 da manhã. O presidente do banco
central bufa de ódio quando um cara como eu não se endivida e resolve
todos os problemas econômicos com literatura.
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