embebedo a língua
e traço a topografia do inútil
embebo o verso
com o sopro do que arfa sem amarras
amo o mar e o naufrágio
pois só há força
no que é frágil
enterneço a morte
e armo meu desejo
sorvo vinhos
visto linhos
teço outras linhas
entreteço o tecido das frases com horas noturnas
sou o fluxo fugaz do nada
o sopro do ausente
sou a sede que não cede
aponto a seta
caminho sobre o fogo
pois o fogo afaga o novo
abraço a noite em sua totalidade
engulo as sílabas solares
regurgito nas noturnas grutas
o urro gangrenado das gargantas oprimidas
(o sangue aguado das cidades)
prego então
as sílabas no solavanco do silêncio
e recordo o nome das auroras
é chegada a hora
de mergulhar no útero sagrado
e sair revigorado
lembrar que o segredo do eterno
é ser passageiro
- Poeta, levanta-te e Uiva
Salvador Passos
Nenhum comentário:
Postar um comentário