19 de janeiro de 2017

Então

vocês que fuzilaram garcía lorca
& cozinham crianças nas nuvens dos sacrifícios
vocês que destroçaram caminhos
& continuam a fabricar extermínios
nas tempestades de armas nas arquiteturas de amônia
nos verbos dos genocídios

vocês que chacinaram noites & dias
com terremotos de mil vírus explosivos
& se persignam ao moerem ossos vivos
vocês que rapinam o ouro nos úteros do orvalho
vocês que trancados nos salões sombrios
dispõem das tripas da vida & dos demônios da morte
impermeáveis aos gritos por todos os tímpanos moídos

vocês que trucidaram os ventos serão cobertos pela praga
dos bichos torrados nas florestas de cálcio
convulsões de oceanos purulentos
& rios empedrados nas fontes que urinam
vaginas sem suco & sêmens se esvaecendo
púrpuros berros de suicidas ardendo
abismos & mandíbulas trituradas nas invernias
vocês que serão os últimos consumidos
nas malhas em febre das cidades que agonizam
vocês que assistirão em transe o desfile das terríveis profecias
por sobre um carnaval de navalhas & máscaras vazias
vocês que uivarão vomitando 
catedrais de miasmas das radioativas neblinas 
vocês apodrecidos sem lamento 
vocês rasgaram as primaveras 
vocês assassinaram os ventos

Afonso Henriques Neto

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