18 de janeiro de 2017

mar de nomes

pregos enferrujados impedindo o movimento

sangram as sagradas chagas da palavra
soletrando a sombra de um sol insone

o sangue espesso nas carcaças

frágeis pálpebras devassadas
vértebra indefinida
osso do poema
argamassa bruta
dobradiças da cortina
cercas fronteiriças
vertigem inviolável

o segredo da palavra nas entranhas da cidade
mar que arma as ondas do naufrágio
ar que arfa o arranjo do incontido

aço de janelas cegas
sol que solda as horas mortas

arde a tarde entre os carros
arde a vida nas entranhas das palavras

partem todos sem destino
perdidos neste rio sem gramáticas
partem sem um nome que defina
o incêndio embaçado desta luz cortante

perco a tarde entre os prédios

há janelas que acenam com imagens cruas
entre vértebras oxidadas
tvs abandonadas
vozes mudas
movendo suas bocas
num imenso corpo de concreto

reverbera
a cidade
(que se perde aos poucos)
um navio que aderna no horizonte
a memória que escorre nas palavras

entre as letras
desaba o silêncio
no intervalo da cidade
(o mar de nomes)
ossos escavados na areia
nas calçadas
nas paredes da cidade sonolenta
o eterno espanto das palavras

Salvador Passos

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