pregos enferrujados impedindo o movimento
sangram as sagradas chagas da palavra
soletrando a sombra de um sol insone
o sangue espesso nas carcaças
frágeis pálpebras devassadas
vértebra indefinida
osso do poema
argamassa bruta
dobradiças da cortina
cercas fronteiriças
vertigem inviolável
o segredo da palavra nas entranhas da cidade
mar que arma as ondas do naufrágio
ar que arfa o arranjo do incontido
aço de janelas cegas
sol que solda as horas mortas
arde a tarde entre os carros
arde a vida nas entranhas das palavras
partem todos sem destino
perdidos neste rio sem gramáticas
partem sem um nome que defina
o incêndio embaçado desta luz cortante
perco a tarde entre os prédios
há janelas que acenam com imagens cruas
entre vértebras oxidadas
tvs abandonadas
vozes mudas
movendo suas bocas
num imenso corpo de concreto
reverbera
a cidade
(que se perde aos poucos)
um navio que aderna no horizonte
a memória que escorre nas palavras
entre as letras
desaba o silêncio
no intervalo da cidade
(o mar de nomes)
ossos escavados na areia
nas calçadas
nas paredes da cidade sonolenta
o eterno espanto das palavras
Salvador Passos
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