O
exílio é a umidade que sustenta o céu desta cidade. O exílio é São Conrado às
16:57 de uma sexta-feira. O exílio é te ver atravessando a rua como uma terra
conquistada e em extinção. O exílio é não encontrar as memórias que guardei em
cada mesa do nosso bar. O exílio é todo verão começar o mesmo de novo. O exílio
é passar purpurina como uma veste de guerra. O exílio é o quarto dos pais em
seu segredo original. O exílio é estar indiferente ao pôr do sol visto da Urca.
O exílio é passar por aquela porta com gosto de ruína. O exílio é nunca mais
arriscar a Baía de Guanabara. O exílio é o Bar da Cachaça. O exílio é se aproximar
lentamente de cada montanha e não entender nada. O exílio é depois de uma certa
idade as pessoas não mudam mais. O exílio são nossos diplomas e suas
expectativas. O exílio é aquela tese que virava as dores como lajes. O exílio é
uma fotografia esquecida em um dispositivo móvel em que uma noite - com a ajuda
de um aplicativo - emerge transfigurada em armadilha. O exílio são as rosas
rejeitadas por Iemanjá. O exílio é a janela com vista para um rio morto. O
exílio é encontrar o equilíbrio estático que sela os poros para ser enfim
independente das fases da lua. O exílio é minha pílula anticoncepcional. O
exílio é sempre voltar pra casa. O exílio não são duas linhas. O exílio não é
um lugar. O exílio é o começo daquele dia em que sem saber o motivo só assenti.
O exílio parece áspero e é precisamente onde se pode descobrir. O exílio só
termina quando se sabe que não tem fim. O exílio te implora para não olhar e
quando você encara de fato está. O exílio é buscar saídas.
A Caverna
Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
Jean Louis Battre, 2010
Jean Louis Battre, 2010
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