29 de maio de 2017

daltônicos vendem balas nos sinais de trânsito

vejo os aquários de concreto
alçar seu voo sólido sobre o imaginário das cidades
entre janelas e vértebras oxidadas
vejo arenques
que escondem suas escamas espelhadas
sob ternos burocráticos
ao melhor estilo armani
um prometeu acorrentado
com tendências pirofóbicas
condenado a atar e desatar gravatas
usando apenas anacrônicas barbatanas

agitam involuntariamente suas mandíbulas
tentando desatar o nó da forca 

qual escorregadia colonização os leva
a adotar distantes vestimentas

desesperados gestos
de ânsias
e espasmos

brânquias claustrofóbicas
numa espécie de contorcionismo afásico
buscando o oxigênio esquecido das palavras em preto e branco

trechos de uma comédia do cinema mudo
replicando algum tipo de gagueira automática

habitantes de janelas cegas
hipnotizados pela estática das TVs abandonadas
arma de distração em massa

dois aquários mudos sobrepostos:
janelas e TVs abandonadas
multiplicando um diálogo impossível de ser datilografado a distancia

nas ruas enxames de daltônicos vendem balas nos sinais de trânsito
mariposas fotofóbicas não querem mais ornamentar poemas líricos

estamos presos no engarrafamento da autopista Sur
e confundimos utopias com a meteorologia

Salvador Passos

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