19 de outubro de 2017

Os partidos

Os partidos
brota flores en mitad de la noche
en mitad de la página
sobre la panza de la muerte
la orfandad lleva un blanco en la frente
E L P O E M A S E A B R E
esa es tu fuerza
(Escrito con um nictógrafo, Arturo Carrera)
Companheira, o poema não pode
desarquivar os prédios telepáticos
em que a mudez fez ninho
a noite infiltra a mecânica do cuco
pela mão intrusa do relojoeiro
gafanhotos moram cartas sem escrita
amarelam os instantâneos
o poema não prova
dos inocentes o olho da lei
a orelha de van Gogh o corpo integral
nós somos os partidos
as solitárias portáteis os fios
que sondam os lábios
contra os aparelhos as células
os partidos
nós somos os partidos
os inocentes são um e o mesmo
a bandeira passando ao pescoço
seus dois substantivos abstratos
sequer havia porões mas limpos rituais
marchinhas tão sebastianas
o hino dos inocentes
o futebol
os inocentes
não perdem a esportiva
companheira, o poema não diz
de quando você caiu por visitar a família
carregando em joelhos frouxos
seu quinhão de guimbas e reuniões
já sem cachos e nome e dentes capazes
de versos e do contrário –
eram suaves nossos dedos
roçando as cordas
antes dos porões
a céu aberto o poema se abre
entre nós
seu enigma e nossos mortos
cantam e cantamos
para não morrer muito
pelo contrário.

Guilherme Gonçalves

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