A Caverna
Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
Jean Louis Battre, 2010
Jean Louis Battre, 2010
22 de junho de 2020
12 de junho de 2020
cigarro
no dia
em que as luzes se apagaram
tinha um cigarro
na mão
um amigo
que me disse tudo
até à cinza
Gil T. Souza
em que as luzes se apagaram
tinha um cigarro
na mão
um amigo
que me disse tudo
até à cinza
Gil T. Souza
9 de junho de 2020
você não precisa
você não
precisa traçar todos os contornos
talvez haja
um estranhamento inicial
você não
precisa de todas as palavras
basta
uma fresta
uma porta
uma chave
derrubar
paredes
arrancar a
pia
esconder a
cor
dos azulejos
você não
precisa lembrar das noites
basta o
cansaço
a cama
talvez haja
um estranhamento inicial
a sensação
de acordar em outras casas
levantar no
escuro
entrar num
corredor que não está ali
quantas
vezes não despertei
acreditando
estar
na casa de meus avós
Salvador Passos
na casa de meus avós
Salvador Passos
então era isso
então era isso
tinha o chão aos seus pés
o teto na cabeça
a tv era um espelho preto
via a sua própria imagem
sozinha
sentada no sofá
Salvador Passos
dentro
para estar em casa
não basta
apertar o botão do segundo andar
ter as chaves
abrir a porta
lembrar do cep
para estar em casa
não basta estar dentro
Salvador Passos
não basta
apertar o botão do segundo andar
ter as chaves
abrir a porta
lembrar do cep
para estar em casa
não basta estar dentro
Salvador Passos
entre
qual o afeto que cabe
nestes pedaços de tempo
nessa coisa
que torna as coisas palpáveis
trecos que estão no espaço
ocupando a noite
ocupando a casa
existo entre estas coisas
esbarrando nelas
contando passos
esperando...
cruzando a distância que se impõe
elas estão ali
tridimensionalmente sendo o que são
e eu entre elas
sem saber
o que sou
como cheguei aqui
elas estão
eu tenho dúvidas
Salvador Passos
nessa coisa
que torna as coisas palpáveis
trecos que estão no espaço
ocupando a noite
ocupando a casa
existo entre estas coisas
esbarrando nelas
contando passos
esperando...
cruzando a distância que se impõe
elas estão ali
tridimensionalmente sendo o que são
e eu entre elas
sem saber
o que sou
como cheguei aqui
elas estão
eu tenho dúvidas
Salvador Passos
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