A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

13 de janeiro de 2023

Será

 Será que temos a magia na ponta de nossos sonhos/será que evocaremos a imortalidade e escolheremos um nome pra ela/será que seremos outros pela via de nossos quereres/será que seremos outros seres/deuses sem saberes/tão crianças quando o ser que não tem nome/será que seremos labirintos de incertezas/caminho para realização de outra vida/qual o nome sintetiza todas estas dúvidas/oh, futuro que se posta e se une ao passo do que um dia fomos/"a escola, o primeiro dia de aula/será que seremos bons/as lições que não aprendemos saberemos como transmiti-las"

Salvador Passos 

Signos em rotação

Existem sociedades sem prosa, mas não existem sociedades sem poesia.

Otávio Paz


18 de outubro de 2022

Faz escuro no meu silêncio

Dentro

Lá no centro do silêncio

Faz um frio

Faz silêncio

Não há festa 

Há uma noite fria

No escuro do meu silêncio

Não escuto saúde


Faz um frio na noite

Faz noite neste poema que chove no enquanto

Sem encanto algum

Canto o silêncio

Cato os cacos de um país

Penso um plano

Uma iniciativa

Não leio os jornais

Imagino notícias 

A distância se encurta

Faz silêncio neste poema

Faz um tempo de espera

Uma noite canibal

Se mistura aos debates

Faz bruxismo neste país

E no centro deste silêncio rangem noites

Enquanto isso no quarto ao lado

Meu filho dorme sem saber o que se passa

Acordo e ele sorri 

Não sei se essa imagem solar aclara o poema ou escurece esse silêncio ainda mais

Seu sorriso é como um vagalume numa noite escura

Salvador Passos