Somos tantos quantos somos
Somos poucos como poucos
Somos outros como outros
Somos outros como muitos
Somos todos
Todos somos
Outros povos nossos povos
Nossos outros outros próprios
Nossos outros outros somos
Nossos outros somos próprios
Nossos nomes outros nomes
Nossos dias outros dias
Nosso tempo outros tempos
Nossos versos outros versos
Nossos sonhos outros sonhos
Não os sonhos destes dias
Não os sonhos já sonhados
Não os sonhos tão cansados
Já cansados de cansar
Não os sonhos destas noites
Outros sonhos
Outras noites
Outros povos
Todos povos
Um só povo
Outras praças
Todas praças
Todas praças uma praça
Todas praças numa praça
Outros sonhos
Outros dias
Outros tempos a nascer
Todos sonham outros sonhos
Todos sonham um só sonho
Este sonho de outros tempos
De um só tempo que é nosso
De uma noite, nossa noite
Outros sonhos, nossos sonhos
Esta praça é nossa praça
Nosso mundo é outro mundo
Nosso mundo é esta praça
Este mundo é nossa praça
Esta praça é nosso mundo
Salvador Passos
A Caverna
Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
Jean Louis Battre, 2010
Jean Louis Battre, 2010
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