Todos
os livros falam de outros livros, todos os sons de outros sons e todos
os sons de outros livros, cores e cheiros. Não se pode dizer hoje sinto saudades sem
evocar – mesmo sem conhecer – a saudade que Casimiro sentiu da aurora
da sua vida ou tudo aquilo que fica daquilo que não ficou ou o ronco
barulhento do meu carro e os erros do meu português ruim. Há em toda
saudade traços indeléveis da saudade de Ronsard, de Cecília, de
Roberto, de Caio, de Cole, de Gonçalves, de Florbela e de cada um que
já cantou sua saudade em altos brados. Este texto mesmo está permeado
de outros textos e tentar descobrir o que o permeia é cair numa cilada
pois o que o permeia foi permeado por textos já antes permeados e se
seguirmos adiante nessa genealogia textual descobriremos que ela é
viciosa pois eu também estou a influenciar os textos que cito pois eles
passarão a ser para você leitor um texto por mim citado. Assim, mesmo
sendo posterior a eles, influencio meus predecessores – Borges
principalmente, que já disse tudo isso muito melhor, e antes, do que
eu. E pode ser que já o tivessem dito antes dele. Pois tudo já foi
dito. Inclusive que tudo já foi dito* .
* Posteriormente à escrita deste texto descobri que o trecho “Tudo já
foi dito. Inclusive que tudo já foi dito.” também já foi dito, mas não
lembro por quem.
Gregório Duvivier
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