"abolição de toda a convicção que dure mais que um estado de espírito" - Alvaro de Campos
Os produtos químicos, a industria farmacêutica & os
miasmas roerão teus ossos até a medula/ cadáver rico
em vitaminas/ rodopios no rio da indústria/ burocratas
ideológicos morrendo de rir/ marxistas que depois que
arrancaram a próstata tomaram o poder/ vastos
desertos no Cérebro/ políticos estatísticas câncer no
rosto vazio das avenidas da Noite/ Mulheres agarrando
garotos selvagens para enquadrá-los no Bom Caminho/
assobios & fome do verdadeiro caralho fumegante/
Robert Graves, Brillat-Savarin & o refrão dos meus
desejos/ Feiticeira Ecológica no Liquidificador
Minotauro/ hortaliças incineradas por mercúrio/
botinadas da KGB & canções lancinantes/ Tempo no
osso/ Televisão/ Centauro na rota da Revolta/
Estrelas penduradas na fuligem/ Catecismo da
Perseverança Industrial/ Os governos existem pra te
deixar com esse ar de cachorro batido/ os governos
existem pra preparar a sopa do General Esfinge/ Os
governos existem para você pensar em política & esquecer
o Tesão/ Batuque Nuclear Anjo-Fornalha/ poesia
urbana-industrial em novo ritmo/ Cidade esgotada na
feiúra pré-Colapso/ recriar novas tribos/ renunciar aos
trilhos/ Novos mapas de realidade/ roteiro erótico
roteiro poético/ Horácio & Lester Young/ Tribos de
garotos nas selvas/ tambores chamando pra Orgia/
fogueiras & plantas afrodisíacas/ abandonar as
cidades/ rumo às prais salpicadas de esqueletos de
Monstros/ rumo aos horizontes bêbados como anjos
fora de rota/ Terra minha irmã/ entraremos na chuva
que faz inclinar a nossa passagem os Guaimbês/
Delinquência sagrada dos que vivem situações-limite/
É do Caos/ da Anarquia Social que nasce a luz
enlouquecedora da Poesia/ Criar novas religiões, novas
formas físicas/ novos anti-sistemas políticos, novas
formas de vida/ Ir à deriva no rio da Existência
Roberto Piva
Hora Cósmica da Águia
SP outubro de 1984
A Caverna
Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
Jean Louis Battre, 2010
Jean Louis Battre, 2010
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