A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

27 de dezembro de 2012

Livre-arbítrio

Todo mundo é toureiro.
Cada um escolhe o
touro que quiser na vida.
O toureiro escolheu o
próprio
touro.

Cacaso

26 de dezembro de 2012

os nomes

I

o nome não diz de onde veio
nem fala porque nomeia
o nome apenas nomeia as coisas que as coisas não falam
o nome apenas nomeia
aquilo que o nome ignora


II

o nome só chama o meu nome
não chama a chama que queima
o nome que chama a mim mesmo
é chama que queima em meu peito
(inflama sem nome no meio)

III

este nome que me chama
não me chama
pois a chama que inflama o meu nome
não me chama neste nome que me deram
clamo por dizeres outros
e palavras outras
sou o outro nome
não o nome mesmo
este outro esmo do dizer mais solto
este nome chama e inflama

Salvador Passos

Querido Papai Noel...


23 de dezembro de 2012

Anti-amor

O amor fica chato e fiscalizador, burocratico e reumatizador
O amor enferruja
O amor oprime
O amor constrange
O amor reprime
O amor é um saco
O amor é um mito

O bardos que exaltam o amor
Faturam empregadas, cunhadas e tias da amada.

Amor é mito híbrido e samba do coração doido: é a tara de um sátiro, fantasiada por uma ninfa reciclada em noiva utopista, sustentado por maridos cármicos em aquiescencias tácitas e exaltado por poetas que a tudo exaltam.

O amor causa labaredas provisórias e lares abafados. O amor causa equívocos variados.

O amor é massiva propaganda melosa e fascista, e mocinhas hitlerizando dechavadas a mensagem, sorrateiras e decotadas. Danadas... propagandistas danadas... publicitárias de exageros emotivos, seres sôfregos de compromissos...

O amor é babaca, elitista, afasta muito indio da tribo, favorecendo a globalização

Quantos amores não resultaram em apáticas tribos de dois? Paralelos solitários? O casamento é um hifén com superbonder.

O amor é um evangelismo poético, o amor é uma fantasia; diante da vida, uma heresia.

O amor é uma mentira. Gigante e dominante. Mas mentira. O amor é matrix. Estamos todos numa bolha de ilusões gosmentas.

O amor é precipício vendido como grande destino turístico.

O amor é uma convenção, o amor é uma entrega do oscar, o amor é um oscar, o amor é uma novela, o amor é um big brother, o amor é um big bi, o amor se multiplica pra fingir que existe! O amor é uma novela da record.

O amor é xoxotocêntrico monoxoxoteiro monopiroqueiro paumonoentrante e antiquado

O amor é ui ui ui ai ai ai e geme geme urra relaxa

O amor é um figurino de época sobre um ator artaudiano

O amor é um vício;

O amor segue um plano

Afastar o ser em prol do rito, afastar o saber do mito, prosperar a ilusão.

O amor é a estratégia simbólica dos aflitos.

O amor é um golpe do romantismo

O amor é reacionário e beato

O amor é um sistema carcerário

O amor faz penitenciários

....

Aperta um amor, vai... que eu sou usuário....

Marcus Galiñas

18 de dezembro de 2012

In Back of the Real

Ginsberg from Nice Shoes on Vimeo.


railroad yard in San Jose
I wandered desolate
in front of a tank factory
and sat on a bench
near the switchman's shack.

A flower lay on the hay on
the asphalt highway
--the dread hay flower
I thought--It had a
brittle black stem and
corolla of yellowish dirty
spikes like Jesus' inchlong
crown, and a soiled
dry center cotton tuft
like a used shaving brush
that's been lying under
the garage for a year.

Yellow, yellow flower, and
flower of industry,
tough spiky ugly flower,
flower nonetheless,
with the form of the great yellow
Rose in your brain!
This is the flower of the World.

Allen Ginsberg

13 de dezembro de 2012

Apoia a luta por nosso futuro: a hora da soberanía alimentar é agora!



Vía Campesina

Movimento internacional de camponeses e camponesas, pequenos e médios produtores, mulheres rurais, indígenas, gente sem terra, jovens rurais e trabalhadores agrícolas

Adital

Tradução: ADITAL

Chamado a apoiar a Vía Campesina: A Vía Campesina necessita de fundos para levar a cabo sua grande tarefa de organizar as/os agricultores de todo o mundo para defender os direitos do povo a comer e a produzir alimentos sem destruir o planeta. Sua contribuição a nosso fundo pelo 20º Aniversário fará a diferença.

1993-2013: 20 anos de luta!

Em 2013, a Vía Campesina celebrará seu 20º aniversário. Há quase 20 anos, em 1993, um grupo de camponeses –homens e mulheres- dos quatro continentes fundaram o movimento em uma reunião em Mons, Bélgica. Nesse momento, as políticas agrícolas e a agroindústria estavam globalizando-se e os camponeses/as tiveram que desenvolver uma visão comum e organizar a luta para defender a agricultura camponesa. As organizações de pequenos/as agricultoras também queriam que suas vozes fossem escutadas e garantir a participação direta nas decisões que afetavam suas vidas. Através dos últimos 20 anos, as lutas locais das organizações nacionais fortaleceram-se por sua participação nesse movimento camponês internacional tão vibrante, inspiradas na luta comum e na solidariedade e no apoio de outras organizações.

Hoje, a Vía Campesina é reconhecida como um ator principal nos debates sobre a alimentação mundial e a agricultura. É reconhecida por muitas instituições mundiais, como a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), a Convenção Marco das Nações Unidas para a Mudança Climática (Cmnucc), o Comitê de Segurança Alimentar (CSA) das Nações Unidas, o Conselho de Direitos Humanos (CDH) da ONU e a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB); e é amplamente reconhecida entre tantos outros movimentos sociais do âmbito local ao global.

A Vía Campesina converteu-se em um movimento global chave. Atualmente, conta com cerca de 150 organizações de agricultores/as locais e nacionais em 70 países da África, Ásia, Europa e Américas. Em conjunto, representam ao redor de 200 milhões de camponeses/as unidas em uma luta comum para tornar possível a soberania alimentar. Isso inclui:

- a defesa de um sistema alimentar que coloca à disposição das populações locais alimentos saudáveis, facilitando-lhes meios de vida;

- a promoção do modelo camponês de produção agroecológica de alimentos destinados primordialmente aos mercados locais que sustentarão os subministros de alimentos, de forma equitativa e sustentável, agora e para as gerações futuras;

- o reconhecimento do direito de camponeses/as de todo o mundo –que, atualmente, alimentam 70% dos povos do mundo- para ter uma vida digna sem a ameaça da criminalização;

- garantir o acesso à riqueza natural –terra, água, sementes, raças de gado- necessária para a produção agroecológica de alimentos;

- o rechaço à agroindústria corporativa, ao modelo neoliberal de agricultura e aos instrumentos e às pressões comerciais que o sustentam.

A Vía Campesina tem dado passos significativos na promoção da soberania alimentar baseada na produção sustentável de alimentos pelo campesinato e pelos pequenos/as proprietários como solução à atual crise global multidimensional. A soberania alimentar é a base fundamental das mudanças necessárias para construir o futuro que queremos, e é o único caminho real que poderá alimentar a toda a humanidade e respeitar os direitos da Mãe Terra. No entanto, para que a soberania alimentar funcione ainda necessitamos uma verdadeira reforma agrária que mude os sistemas e as relações estruturais que regem recursos como a terra, as sementes e a água. À medida em que a crise climática vai se aprofundando, deixamos claro em inúmeros fóruns mundiais que nossas formas de produção agroecológica e sustentável em pequena escala esfriam o planeta, cuidam dos ecossistemas, geram emprego e garantem o subministro de alimentos para os mais pobres. A Vía Campesina está convencida de que para gerar uma mudança social profunda devemos construir e fortalecer nossas alianças com outros setores da sociedade.

Ajuda-nos a intensificar os esforços nos próximos anos:

•Para aumentar a incidência e a defesa da soberania alimentar tanto em instituições internacionais, como ante governos nacionais.

•Para fazer ouvir as vozes dos camponeses/as em todo o mundo, com uma comunicação mais eficaz.

•Para esfriar o planeta mediante a multiplicação da agricultura camponesa sustentável através da agroecologia.

•Para preservar a biodiversidade e defender a soberania com relação às sementes, mediante o apoio aos agricultores/as, facilitando intercâmbios de sementes camponesas.

•Fortalecer a liderança das mulheres e dos/as jovens na luta pela soberania alimentar.

•Incrementar a luta para recuperar os recursos naturais dos povos: a terra, a água e as sementes.

Tua colaboração financeira contribui para um sistema alimentar solidário baseado na dignidade

A Vía Campesina necessita fundos para realizar sua grande tarefa de organizar as/os agricultores/as de todo o mundo para defender os direitos do povo a comer e a produzir alimentos sem destruir o planeta. Sua contribuição ao nosso fundo pelo 20º aniversário fará a diferença.

Por Internet:

DOAR (coluna direita)

Através de conta bancária

Titular da conta: ASOCIACIÓN LURBIDE – EL CAMINO DE LA TIERRA

Endereço: Murueta, 6 – 48.220 Abadiño (Bizkaia) – País Vasco

País: ESPANHA

Nome do banco: IPAR KUTXA

Nº de conta: 3084 0023 5964 0006 0447

IBAN: ES74 3084 0023 5964 0006 0447

SWIFT/BIC: CVRVES2B

Quem é a Vía Campesina? A voz das camponesas e dos camponeses do mundo (espanhol).

Mais informação em www.viacampesina.org

12 de dezembro de 2012

Demanding the impossible

Demanding the impossible: A history of anarchism - Peter Marshall

Navigating the broad 'river of anarchy', from Taoism to Situationism, from Ranters to Punk rockers, from individualists to communists, from anarcho-syndicalists to anarcha-feminists, Demanding the Impossible is an authoritative and lively study. It explores the key anarchist concepts of society and the state, freedom and equality, authority and power and investigates the successes and failure of the anarchist movements throughout the world.




Manifestação contra o Genocídio da Juventude Negra Pobre Periférica
















Saiba mais:

Marcha denuncia mortes e racismo na periferia de São Paulo

7 de dezembro de 2012

Palhaceata

Texto a partir do seminário "A alegria é a prova dos nove: o lugar social e crítico do riso na cultura brasileira.

 http://www.anjosdopicadeiro.com.br/2012/12/texto-partir-do-seminario-alegria-e.html

Pensar a cultura brasileira através do riso faz parte da dificuldade de pensar o riso enquanto potência. Difícil por que o riso se inscreve em lugares mais ou menos marginais à dita cultura oficial.
Pensar no riso é pensar na potência política dele, no poder festivo e libertador. Rir a “bandeiras desfraldadas”, como disse Erminia Silva citando Machado de Assis, é um lugar de descontrole, porém um descontrole que renova o social, que fala aos sentidos e afetos, que traz um momento de liberdade utópica. Podemos sim falar de um “descontrole da turba”, porém os descontroles tão requisitados durante séculos não podem ser ignorados: o indivíduo precisa do riso e da alegria. Ainda sob às palavras de Erminia, o riso vaza pois não tem modelos e, por não ter modelos, há sempre a tentativa de controlá-lo.
Hoje temos uma nova onda de seriedade, um choque de ordem (um nome bem risível) vem se espalhando pelas diversas comunidades da cidade do Rio de Janeiro, cidade que cedia o Anjos do Picadeiro desde 1996, evento este que está em sua 11ª edição. As favelas vêm sendo ordenadas e as ruas do centro e da Zona Sul também (bem, tenta-se). Além disso, o número 11 é o primeiro número que não pode ser contado nos dedos das mãos, logo ele foge ao controle delas. Ele também é um atrás do outro, fugindo também do controle dos mais conservadores. Bem, os conservadores tentam reter com suas mãos (e muros) tudo aquilo que foge de seu controle, tudo aquilo que não pertence à sua ordem, às suas regras.
É função do riso e da festa, da fantasia e da brincadeira, do cômico tão ameaçador criarem novas redes sociais que tragam à tona a dimensão subjetiva de pertencimento da turba através do descontrole, acessando o prazer e a utopia genéricos, intrínsecos a todo indivíduo. O riso não pode dividir, o riso identifica todos que pertencem a um mesmo grupo. “O riso não é forma exterior, mas uma forma interior essencial a qual não pode ser substituído pelo sério, sob pena de destruir e desnaturalizar o próprio conteúdo da verdade revelada por meio do riso. Esse liberta não apenas da censura exterior, mas antes de mais nada do grande censor interior, do medo do sagrado, da interdição autoritária, do passado, do poder, medo an corado no espírito humano há milhares de anos” (Bakhtin). Julio Castro - Integrante do Observatório do Anjos do Picadeiro 11. 



6 de dezembro de 2012

perplexidades

1)

o oco ocupa
o lado de dentro
do vazio

ou

o vazio ocupa o oco?

2) sinto muito tudo isso que não sinto


Raimundo Beato

antíteses

Sei que fazer o inconexo aclara as loucuras.
Sou formado em desencontros.
A sensatez me absura.
Os delírios verbais me terapeutam.
Posso dar alegria ao esgoto (palavra aceita tudo).
(E sei de Baudelaire que passou muitos meses tenso
porque não encontrava um título para os seus poemas.
Um título que hamonizasse os seus conflitos. Até que
apareceu Flores do Mal. A beleza e a dor. Essa antítese o
acalmou.)

As antíteses congraçam.

Manoel de Barros

(r)evolution


as coisas e as palavras 3

as palavras são coisas que servem pra dizer o nome das coisas 
mas as coisas mesmo 
são outras coisas



Salvador Passos