A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

7 de dezembro de 2012

Palhaceata

Texto a partir do seminário "A alegria é a prova dos nove: o lugar social e crítico do riso na cultura brasileira.

 http://www.anjosdopicadeiro.com.br/2012/12/texto-partir-do-seminario-alegria-e.html

Pensar a cultura brasileira através do riso faz parte da dificuldade de pensar o riso enquanto potência. Difícil por que o riso se inscreve em lugares mais ou menos marginais à dita cultura oficial.
Pensar no riso é pensar na potência política dele, no poder festivo e libertador. Rir a “bandeiras desfraldadas”, como disse Erminia Silva citando Machado de Assis, é um lugar de descontrole, porém um descontrole que renova o social, que fala aos sentidos e afetos, que traz um momento de liberdade utópica. Podemos sim falar de um “descontrole da turba”, porém os descontroles tão requisitados durante séculos não podem ser ignorados: o indivíduo precisa do riso e da alegria. Ainda sob às palavras de Erminia, o riso vaza pois não tem modelos e, por não ter modelos, há sempre a tentativa de controlá-lo.
Hoje temos uma nova onda de seriedade, um choque de ordem (um nome bem risível) vem se espalhando pelas diversas comunidades da cidade do Rio de Janeiro, cidade que cedia o Anjos do Picadeiro desde 1996, evento este que está em sua 11ª edição. As favelas vêm sendo ordenadas e as ruas do centro e da Zona Sul também (bem, tenta-se). Além disso, o número 11 é o primeiro número que não pode ser contado nos dedos das mãos, logo ele foge ao controle delas. Ele também é um atrás do outro, fugindo também do controle dos mais conservadores. Bem, os conservadores tentam reter com suas mãos (e muros) tudo aquilo que foge de seu controle, tudo aquilo que não pertence à sua ordem, às suas regras.
É função do riso e da festa, da fantasia e da brincadeira, do cômico tão ameaçador criarem novas redes sociais que tragam à tona a dimensão subjetiva de pertencimento da turba através do descontrole, acessando o prazer e a utopia genéricos, intrínsecos a todo indivíduo. O riso não pode dividir, o riso identifica todos que pertencem a um mesmo grupo. “O riso não é forma exterior, mas uma forma interior essencial a qual não pode ser substituído pelo sério, sob pena de destruir e desnaturalizar o próprio conteúdo da verdade revelada por meio do riso. Esse liberta não apenas da censura exterior, mas antes de mais nada do grande censor interior, do medo do sagrado, da interdição autoritária, do passado, do poder, medo an corado no espírito humano há milhares de anos” (Bakhtin). Julio Castro - Integrante do Observatório do Anjos do Picadeiro 11. 



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