A Caverna
Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
Jean Louis Battre, 2010
Jean Louis Battre, 2010
30 de dezembro de 2013
Nei Lisboa - Produção Urgente
“O mundo é dos vivos/ O mundo é dos bancos/ E os bancos, dos mendigos/ O mundo é de loucos/ Que mundos não tem dono/ E só somos vencidos pelo sono/ O mundo é do novo/ E o novo, dos antigos/ O mundo é quem sobrar/ No fim da noite dos amigos”
epifania etílica no mictório (ou infância)
uma vez passei anos sem falar com um amigo
e um dia dividimos uma cerva
pronto
foi a noite toda
uma cerva após a outra
até que em algum momento voltamos a nossa infância
quando não sabíamos nada
este não saber nada confere a cada coisa
mesmo a mais mundana
um espanto infinito em cada grama
em cada esquina
um gibi
um filme
uma porta mágica
o mundo todo é novo
a tal ponto
que nos atravessa a vida toda
a única coisa boa de ficar mais velho é perceber
que quando éramos criança já sabíamos de tudo
Salvador Passos
e um dia dividimos uma cerva
pronto
foi a noite toda
uma cerva após a outra
até que em algum momento voltamos a nossa infância
quando não sabíamos nada
este não saber nada confere a cada coisa
mesmo a mais mundana
um espanto infinito em cada grama
em cada esquina
um gibi
um filme
uma porta mágica
o mundo todo é novo
a tal ponto
que nos atravessa a vida toda
a única coisa boa de ficar mais velho é perceber
que quando éramos criança já sabíamos de tudo
Salvador Passos
What have I learned (O que aprendi)
What have I learned but
the proper use for several tools?
The moments
between hard pleasant tasks
To sit silent, drink wine,
and think my own kind
of dry crusty thoughts.
—the first Calochortus flowers
and in all the land,
it's spring.
I point them out:
the yellow petals, the golden hairs,
to Gen.
Seeing in silence:
never the same twice,
but when you get it right,
you pass it on.
Gary Snyder
O que aprendi a não ser
o uso correto de certas ferramentas?
Os momentos
entre gratificantes tarefas árduas
Sentar calado, beber vinho,
e pensar meu próprio tipo
de pensamentos simples e encrostados.
-- as primeiras flores do calocorto
e em toda a terra,
é primavera.
Eu as mostro:
as pétalas amarelas, os filamentos dourados,
pro Gen.
Contemplando em silêncio:
nunca o mesmo duas vezes,
mas quando você capta isto completamente,
você transmite.
Gary Snyder
Mensagem de Natal de Edward Snowden
Na noite de Natal, logo após a mensagem da Rainha da Inglaterra à nação, o Channel 4 exibiu uma mensagem alternativa gravada por Edward Snowden. Esta é a tradução da mensagem dele.
27 de dezembro de 2013
decálogo de um escritor
um. pode-se escrever o que quiser, na ordem e do modo que quiser
dois. querer não basta, é preciso transformar o querer em texto
três. o sentido é o acúmulo, não a história
quatro. texto de história é mau texto
cinco. o texto deve atingir os sentidos, não a cabeça
seis. o fracasso ocorre todo dia, algum dia a mão é feliz
sete. apenas alguns são autores – a maioria morre ou desiste
oito. escrever é ir ao outro
nove. a palavra impressa é o som que deve atrair o silêncio
dez. não é preciso regra, escrever apenas porque é necessário
andré fernandes
extraído do livro Habitar (São Paulo: Hedra, 2010)
Tudo é narrativa
Posted on February 7, 2013 by Odyr
Esse não é o primeiro nem segundo artigo que vejo dizendo isso – a ciência comprova o que os grandes narradores (da política, da literatura, da música popular…) sempre souberam – contar uma história é a forma mais efetiva de transmitir uma idéia, fazer uma conexão, transformar as pessoas. A narrativa é mais forte que os fatos. Porque a narrativa é como entendemos o mundo.
Às vezes me impressiona o número de narrativas que conseguimos manter em paralelo. Nossa capacidade de acompanhar meia dúzia de seriados, enquanto lendo dois ou três livros, se mantendo a par do que acontece no escândalo da política dessa semana e na vida dos seus amigos. Tudo é história (queria poder usar estória aqui, maldita mudança essa que fizeram) tudo é narrativa. Mesmo o Eu, é uma construção narrativa. Ninguém se vê como um acúmulo de fatos (75% de água, 20% de gordura, classe social, raça, genética, etc), mas como uma história em andamento – eu era assim, aí aconteceu isso, e depois aquilo e agora estou aqui, agora sou assim.
Os exemplos que vêm da pesquisa científica são incríveis – leituras cerebrais demonstram que quando alguém ouve uma história, seu cérebro se alinha com o narrador. As mesmas áreas se acendem nos dois. O cérebro faz pouca separação entre ler sobre uma experiência e viver uma experiência. Uma outra pesquisa que vi há um tempo atrás dizia que ver filmes de ação faz perder peso. Você gasta calorias, porque seu cérebro entende que você está vivendo de fato aquelas aventuras.
(E, essa parte achei linda, a ciência defendendo a imaginação e a criatividade – os clichês da língua, as formas usadas até quase perder todo o significado, são percebidas como palavras simplesmente. Não causam sensações reais no leitor. Você escreve que sujeito “lutou com unhas e dentes” para se salvar e o leitor não vê unha, não vê dente, não acredita na luta. O mesmo com imagens, suponho. Para você acreditar, há que haver uma verdade ali e a verdade é específica, não é genérica.)
As mudanças no mundo são antecipadas e acompanhadas por mudanças nas histórias. Milan Kundera dizia que o romance antecipou a psicanálise, o Marxismo, o feminismo. O corpo de narrativas da humanidade é flexível, muda com o tempo, com a necessidade de novas histórias.
Tudo me faz pensar sobre a tremenda responsabilidade de quem conta histórias. Mas também aumenta meu desejo de contar histórias. Porque tem uma parte que esses estudos não cobrem e não poderiam cobrir, que é o papel transformador da história em quem a conta. Os motivos que nos fazem querer contar certas histórias.
O outro dia atormentei longamente a querida Angélica Freitas (como às vezes atormento vocês), com dúvidas que me atormentam sobre meu trabalho e por momentos eu conseguia me ver de fora – que fútil, que desimportante essa conversa poderia parecer. Como explicar a obsessão dos artistas com o seu trabalho?
Pra mim, a resposta está na minha crença de que a arte transforma não só o público como o artista, que no processo de contar essa história resolve coisas íntimas, pessoais, complicadas. São as histórias que ele precisa contar. Mesmo que não saiba. São porque você escolhe contar aquelas histórias, da forma que conta. E, com sorte, aquela história vai fazer o mesmo por alguém. Como dizia a de Beauvoir, uma das funções da literatura é mostrar que não estamos sozinhos.
Odyr Bernardi
As Barbas de Tirana
"Através dos murais, os albaneses também fazem pressão pública sobre pessoas de cujo comportamento se discorda. Perguntei a um grupo de estudantes da Universidade de Tirana o que ocorreria se um deles aparecesse na escola com cabelos longos e barba. A princípio, eles ficaram muito constrangidos em responder, pelo fato de eu próprio estar de bigode, cavanhaque e cabelos um tanto longos para o padrão albanês. Depois, uma estudante soltou-se:
- Bom, primeiro a gente conversa com ele na sala de aula e diz que essa atitude não condiz com a nossa moral comunista. Se não adiantar, leva-se o caso à União da Juventude, que também vai discutir com ele. Caso também não adiante, a gente parte para as ruas, fazendo charges ou textos até mesmo ridicularizando sua atitude.
O barbudo terá direito a defender-se, mas o mais certo é que abandonará sua 'tentativa de ocidentalização'. Barba e cabelos longos na Albania, são considerados fatores de influencia externa e, portanto, condenados pela sua moral. Não faz muitos anos, no tempo dos hippies, a moda dos cabelos longos chegou à Albania, principalmente por meio da televisão dos países vizinhos, cujos sinais são facilmente captáveis. Mais foi fortemente combatida pelo partido e pelo governo. Naquele período, quem chegasse ao país com barba e cabelos longos podia entrar, desde que aceitasse o convite de passar pela barbearia que funcionava no aeroporto".
Neil Young "Comes A Time" [Live at the Cow Palace, 1978]
Comes a time when you're drifting
Comes a time when you settle down
Comes a light, feeling's lifting
Lift that baby right up off the ground
Oh, this old world keeps spinning round
It's a wonder tall trees ain't laying down
There comes a time
You and I we were captured
We took our souls and we flew away
We were right, we were giving
That's how we kept what we gave away.
Oh, this old world keeps spinning round
It's a wonder tall trees ain't laying down
There comes a time
O preço da "liberdade" na internet?
https://lavabit.com/
Lavabit is an encrypted email service, founded in 2004, that suspended operations on August 8, 2013 after it was ordered to turn over its Secure Sockets Layer (SSL) private key to the US government. Lavabit is owned and operated by Ladar Levison.[1][3][4]
Lavabit received media attention in July 2013 when it was revealed that Edward Snowden was using the Lavabit email address edsnowden@lavabit.com to invite human rights lawyers and activists to a press conference during his confinement at Sheremetyevo International Airport in Moscow.[11] The day after Snowden revealed his identity, the federal government served a court order, dated June 10, 2013 and issued under 18 USC 2703(d), a 1994 amendment of the Stored Communications Act, asking for metadata on a customer that was unnamed. Kevin Poulsen of Wired wrote that "that the timing and circumstances suggest" that Snowden was this customer.[12] In July 2013 the federal government obtained a search warrant demanding that Lavabit give away the private SSL keys to its service affecting all Lavabit users.
On August 8, 2013, Lavabit suspended its operations, and the email service log-in page was replaced by a message from the owner and operator Ladar Levison.[1] The New Yorker suggested that the suspension might be related to the National Security Agency’s "domestic-surveillance practices".[14]Wired speculated that Levison was fighting a warrant or national security letter seeking customer information under extraordinary circumstances, as Lavabit had complied with at least one routine search warrant in the past.[11][15] Levison stated in an interview that he has responded to "at least two dozen subpoenas" over the lifetime of the service.[16] He hinted that the objectionable request was for "information about all the users" of Lavabit.[17]
Levison explained he was under gag order and that he was legally unable to explain to the public why he ended the service.[16] Instead, he asked for donations to "fight for the Constitution" in the United States Court of Appeals for the Fourth Circuit. Levison also stated he has even been banned from sharing some information with his lawyer.[16] Meanwhile, the Electronic Frontier Foundation called on the FBI to provide greater transparency to the public, in part to help observers "understand what led to a ten-year-old business closing its doors and a new start-up abandoning a business opportunity".[18]
Levison said that he could be arrested for closing the site instead of releasing the information, and it was reported that the federal prosecutor's office had sent Levison's lawyer an e-mail to that effect.[17] [19]
Lavabit is believed to be the first technology firm that has chosen to suspend/shut down its operation rather than comply with an order from the United States government to reveal information or grant access to information.[3] Silent Circle, an encrypted email, mobile video and voice service provider, followed the example of Lavabit by discontinuing its encrypted email services.[20] Citing the impossibility of being able to maintain the confidentiality of its customers' emails should it be served with government orders, Silent Circle permanently erased the encryption keys that allowed access to emails stored or transmitted by its service.[21]
In September 2013 Levison appealed the order that resulted in the closing of his website.[22]
Levison and his lawyer made two requests to Judge Claude M. Hilton to unseal the records which were denied. They also launched an appeals case regarding legality of the original warrant. The appeals court then requested the records to be unsealed. Judge Claude M. Hilton then granted the request to unseal the records, despite his refusal the previous two times. On October 2, 2013, the Federal District Court in Alexandria, Virginia unsealed records in this case, with only the name and detail of the target of the search order censored. Wired suggested the target was likely Snowden.[4] The court records show that the FBI sought Lavabit's SSL private key. Levison objected saying that the key would allow the government to access communications by all 400,000 customers of Lavabit. He also offered to add code to his servers that would provide the information required just for the target of the order. The court rejected this offer since it would require the government to trust Mr. Levison and stated that just because the government could access all customers' communication did not mean they would be legally permitted to do so. Lavabit was ordered to provide the SSL key in machine readable format by noon, August 5 or face a fine of $5000 per day.[23] Levison closed down Lavabit 3 days later.
On October 14, 2013, Levison announced he would allow Lavabit users to change their passwords until October 18, 2013, after which they could download an archive of their emails and personal data.
Mammals and Monogamy
"Using an evolutionary tree of 230 primates as a framework, Christopher Opie of University College London and his colleagues ran simulations of evolutionary history to investigate what conditions might produce the behaviours of modern primates. They conclude that monogamy arose after males began guarding females to stop rivals from killing their offspring.
Tim Clutton-Brock and Dieter Lukas at the University of Cambridge, UK, used a similar method to study how monogamy came about in mammals generally. Using an evolutionary tree of more than 2,000 species, they found that monogamy tended to arise when females lived alone and were widely dispersed. Pair-living probably arose because males could not cover a large enough area to monopolize more than one female."
... AINDA QUE ESSA COSIA DE MONOPÓLIO ESTEJA EM BAIXA.
26 de dezembro de 2013
23 de dezembro de 2013
20 de dezembro de 2013
nem mesmo a morte nos cala
o nulo do mundo não cala
nem mesmo a morte nos cala
viramos lembranças distantes
e mesmo morrendo bem antes
ainda morremos de novo
um pouco na morte da gente
& de novo na morte dos outros
Raimundo Beato
nem mesmo a morte nos cala
viramos lembranças distantes
e mesmo morrendo bem antes
ainda morremos de novo
um pouco na morte da gente
& de novo na morte dos outros
Raimundo Beato
Sou do contra
Sou do contra
Não acredito em verdades
Tampouco acredito em mentiras
Não tenho problemas com verdades e mentiras
Na realidade, só tenho problemas em acreditar
Em um mundo repleto de planos
que traçam paralelos que me excluem
não me resta opção:
eu os transverso.
Walace Cestari
18 de dezembro de 2013
Sangue Corsário
anjos descem das palmeiras
na rua São Luiz
era noite.
porque não bebemos
porque o amor não foi em nós
realizado
porque de gás flores colhemos
dos letreiros de néon
não nos escolheram
e é assim
agências de turismo
nuvens oferecem ao nosso alcance
águas termais
hotéis de espuma
fascínios orientais de almanaque
o Louvre
a Santa Sé
o Palácio da Rainha
mas estamos nus – cabelos em desalinho
viajar nos é proibido
nos transatlânticos de primeira
O fracasso socialista de Mandela
Nas últimas duas décadas da vida, Nelson Mandela foi festejado como modelo de como libertar um país do jugo colonial sem sucumbir à tentação do poder ditatorial e sem postura anticapitalista. Em resumo, Mandela não foi Robert Mugabe, e a África do Sul permaneceu democracia multipartidária com imprensa livre e vibrante economia bem integrada no mercado global e imune a horríveis experimentos socialistas. Agora, com a morte dele, sua estatura de sábio santificado parece confirmada para toda a eternidade: há filmes sobre ele (com Morgan Freeman no papel de Mandela; o mesmo Freeman, aliás, que, noutro filme, encarnou Deus em pessoa). Rock stars e líderes religiosos, esportistas e políticos, de Bill Clinton a Fidel Castro, todos dedicados a beatificar Mandela.
Mas será essa a história completa? Dois fatos são sistematicamente apagados nessa visão celebratória. Na África do Sul, a maioria pobre continua a viver praticamente como vivia nos tempos do apartheid, e a ‘conquista’ de direitos civis e políticos é contrabalançada por violência, insegurança e crime crescentes. A única mudança é que onde havia só a velha classe governante branca há agora também a nova elite negra. Em segundo lugar, as pessoas já quase nem lembram que o velho Congresso Nacional Africano não prometera só o fim do apartheid; também prometeu mais justiça social e, até, um tipo de socialismo. Esse CNA muito mais radical do passado está sendo gradualmente varrido da lembrança. Não surpreende que a fúria outra vez esteja crescendo entre os sul-africanos pretos e pobres
A África do Sul, quanto a isso, é só a mesma versão repetida da esquerda contemporânea. Um líder ou partido é eleito com entusiasmo universal prometendo “um novo mundo” – mas então, mais cedo ou mais tarde, tropeçam no dilema chave: quem se atreve a tocar nos mecanismos capitalistas? Ou prevalecerá a decisão de “jogar o jogo”? Se alguém perturba esse mecanismo, é rapidamente “punido” com perturbações de mercado, caos econômico e o resto todo. Por isso parece tão simples criticar Mandela por ter abandonado a perspectiva socialista depois do fim do apartheid. Mas ele chegou realmente a ter alguma escolha? Andar na direção do socialismo seria possibilidade real?
É fácil ridicularizar Ayn Rand, mas há um grão de verdade no famoso “hino ao dinheiro” do seu romance A revolta de Atlas: “Até que e a não ser que você descubra que o dinheiro é a raiz de todo bem, você pede por sua própria destruição. Quando o dinheiro deixa de ser o meio pelo qual os homens lidam uns com os outros, tornam-se os homens ferramentas de outros homens. Sangue, chicotes e armas de fogo ou dólares. Faça sua escolha – não há outra.” Não disse Marx algo semelhante em sua conhecida fórmula de como, no universo da mercadoria, “as relações entre pessoas assumem o disfarce de relações entre coisas”? (O capital, p.147)
Na economia de mercado, acontece de relações entre pessoas aparecerem sob disfarces que os dois lados reconhecem como liberdade e igualdade: a dominação já não é diretamente exercida e deixa de ser visível como tal. O que é problemático é a premissa subjacente de Rand: de que a única escolha é entre relações diretas ou indiretas de dominação e exploração, com qualquer outra alternativa dispensada como utópica. No entanto, deve-se ter em mente que o momento de verdade da (se não por isso, ridiculamente ideológica) alegação de Rand: a grande lição do socialismo de estado foi efetivamente a de que uma abolição direta da propriedade privada e da troca regulada pelo mercado carente de formas concretas de regulação social do processo de produção necessariamente ressuscita relações diretas de servidão e dominação. Se apenas extinguirmos o mercado (inclusive a exploração do mercado), sem substituí-lo por uma forma própria de organização comunista da produção e da troca, a dominação volta como uma vingança, e com a exploração direta pelo mercado.
A regra geral é que, quando começa uma revolta contra um regime opressor semidemocrático, como aconteceu no Oriente Médio em 2011, é fácil mobilizar grandes multidões com slogans que só se podem descrever como “formadores de massa”: pela democracia, contra a corrupção, por exemplo. Mas adiante gradualmente vamos nos deparando com escolhas mais difíceis: quando nossa revolta é bem sucedida no alcance de seu objetivo direto, passamos a nos dar conta de que o que realmente nos atormentava (a falta de liberdade pessoal, a humilhação, a corrupção das autoridades, a falta de perspectiva de, algum dia, chegar a ter uma vida decente) perdura sob nova roupagem. A ideologia dominante mobiliza aqui todo o seu arsenal para nos impedir de chegar a essa conclusão radical. Começam a nos dizer que a liberdade democrática implica responsabilidades; que a liberdade democrática tem seu preço; que ainda não estamos plenamente amadurecidos, se esperamos demais da democracia.
Num plano diretamente mais político, a política externa dos EUA elaborou detalhada estratégia para controle de danos: basta converter o levante popular em restrições capitalistas-parlamentares palatáveis. Isso, precisamente, foi feito com sucesso na África do Sul, depois do fim do regime de apartheid; foi feito nas Filipinas depois da queda de Marcos; foi feito na Indonésia depois da queda de Suharto e foi feito também em outros lugares. Nessa precisa conjuntura, as políticas radicais de emancipação enfrentam o seu maior desafio: como fazer avançar as coisas depois de acabado o primeiro estágio de entusiasmo, como dar o passo seguinte sem sucumbir à catástrofe da tentação “totalitária”, em resumo: como avançar além de Mandela, sem se converter num Mugabe.
Se quisermos permanecer fiéis ao legado de Mandela, temos de deixar de lado as lágrimas de crocodilo das celebrações e nos focar em todas as promessas não cumpridas infladas sob sua liderança e por causa dela. Assim se verá facilmente que, apesar de sua indiscutível grandeza política e moral, Mandela, no fim da vida, era também um velho triste, bem consciente de que seu triunfo político e sua consagração como herói universal não passavam de máscara para esconder uma derrota muito amarga. A glória universal de Mandela é também prova de que ele não perturbou a ordem global do poder.
Slavoj Zizek
*Publicado originalmente no New York Times, em 9/11/2013. Esta é uma tradução ampliada e cotejada daquela feita por Vila Vudu, no redecastorphoto.
16 de dezembro de 2013
Mc Greve
Funcionários de redes fast-food promovem "McGreve"
Milhares de empregados vão às ruas dos EUA para
denunciar trabalho degradante e exigir aumento do salário mínimo
por Eduardo Graça
—
publicado
07/12/2013
De Nova York
Sem uniformes, apoiados por uma legião de professores, estudantes universitários, manifestantes herdeiros do Ocupem Wall Street, grupos de defesa de imigrantes não-documentados, lideranças sindicais e um massa de trabalhadores “low-budget”, que recebem, dependendo do estado, entre 7 e 8 dólares por hora de trabalho, milhares de funcionários de empresas conhecidas dos brasileiros, como McDonald’s, Burger King, Wendy’s, Walgreens, Macy’s e Sears, tomaram as ruas de uma centena de cidades americanas na quinta-feira 5 exigindo o aumento do salário mínimo para 15 dólares por hora.
Era uma denúncia direta tanto do aumento da desigualdade social na maior economia do planeta quanto da resistência dos republicanos, maioria na Casa dos Representantes, equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil, de sequer iniciar discussão sobre o tema, alarmados com a possibilidade da diminuição do ritmo da recuperação econômica do país.
Nas manifestações de peso em cidades tão diversas como Nova York, Chicago, Los Angeles, Boston, Detroit, Oakland, Charleston, Providence, Pittsburgh e Saint Louis, celebrou-se o discurso do presidente Barack Obama no dia anterior, em Washington, de defesa de um aumento imediato no salário-base federal de 1.250 dólares ao mês, mas pediu-se bem mais.
Na Praça Foley, no Centro Cívico de Manhattan, depois de sucessivos piquetes em frente aos restaurantes de fast-food localizados na vizinha Broadway, centenas de manifestantes enfrentaram o frio do outono nova-yorkino, animados por uma banda de rhythm & blues. O escritor e comediante de stand-up Ted Alexandro, de 44 anos, conhecido na cidade por conta de seus programas no canal de tevê Comedy Center, carregava um cartaz de protesto em que todos os Ms aparecem desenhados como se fossem o símbolo do Mc Donald’s.
“Para ajudar a pagar minha universidade, trabalhei em uma franquia do Burger King. Mas, com o aumento da desigualdade social nos EUA, a média de idade do trabalhador de lanchonetes nos EUA, hoje, é de 29 anos, bem menos jovens do que na minha época. Como é que uma pessoa vai sustentar sua família ganhando pouco mais de 1.000 dólares por mês? É impossível. A luta aqui, hoje, é, sim, dos funcionários de fast-food, mas você também vê esta gama de organizações na praça por conta da necessidade de se negociar logo um aumento do salário mínimo. Nós estamos conscientemente saindo às ruas, um dia depois do discurso do presidente Obama, para pressionar Washington”, disse, em meio a gritos de ordem que resumiam o pensamento do fim de tarde: “Os bancos foram resgatados, mas nós é que pagamos a conta”.
Além do minuto de silêncio por conta da morte do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, o outro instante em que os discursos na Foley se diversificaram em relação à primeira, e surpreendente, paralisação dos “assalariados por baixo” nova-yorkinos, em agosto, se deu com a celebração de apoio ao evento político de quarta-feira organizado pelo governo federal em Anacostia, um dos bairros mais pobres da periferia da capital americana. Na ocasião, em um discurso inflamado, Barack Obama afirmou que combater a desigualdade social é o “desafio que definirá nossa era” e que uma década de aumento com velocidade jamais vista na maior economia do planeta da disparidade entre ricos e pobres, “é uma ameaça real ao sonho americano”.
As agendas da Casa Branca e do movimento de trabalhadores não-sindicalizados se coincidiram por conta da necessidade de o governo recuperar o momento político depois de quase dois meses enredado no fiasco do lançamento do Obamacare, o projeto de reforma do combalido sistema de saúde do país. O governo ensaia um apoio formal à proposta dos senadores democratas, de elevação do mínimo para 10,10 dólares por hora, ainda bem abaixo do que pediam ontem as ruas dos maiores centros urbanos do país.
Na quarta-feira, Obama mencionou como principais injustiçados no mercado de trabalho americano, além dos enfermeiros (outro grupo presente em peso nas três passeatas de quinta-feira na Grande Nova York) e dos funcionários de shoppings e grandes lojas de departamento, os trabalhadores das redes de fast-food, historicamente afastados dos sindicatos por conta de característica específica do ramo: o gerenciamento dos negócios feitos por franquias, dissociadas umas das outras.
A primeira vez em que trabalhadores do setor cruzaram os braços nos EUA cerca de 200 funcionários de redes de fast-food deixaram de trabalhar por um dia em novembro de 2012, mobilizados por grupos locais como o Fast Food Forward (FFF) e o Fight for 15, hoje apoiados por centrais sindicais poderosas, como a União Nacional dos Professores, . “O que queremos, no fim, é um salário-base de 15 dólares/hora e o direito de nos sindicalizarmos”, dizia, em alto e bom som, microfone na mão, o dia todo, um dos principais organizadores da greve, Kendall Fells, principal líder do FFF.
A discrepância dos dois lados da pirâmide da indústria alimentícia nos EUA é denunciada pelos ativistas sem qualquer titubeio: enquanto CEOs de McDonald’s, KFC, Taco Bell, Pizza Hut e Red Olive aparecem na lista da revista “Fortune” recebendo salários de até 14 milhões de dólares por ano, pesquisa do Economy Police Institute revela que seus funcionários recebem 788 vezes menos. Mas o caldeirão só transbordou, reconhecem os organizadores da greve, por conta da recessão americana e do aumento do desemprego, que levou a idade média dos funcionários do setor, como apontada por Ted Alexandro, de 25 para 29 anos em meia década. Trinta e um por cento dos funcionários tem pelo menos um diploma universitário e mais de 25% da força de trabalho sustenta pelo menos uma criança com o salário recebido. É fato que nos últimos 14 anos nenhum setor da economia americana gerou mais postos de emprego. No entanto, a quase totalidade é de remuneração baixíssima.
Enquanto o lucro das empresas do setor foi estimado em 7,4 bilhões de dólares em 2013, os organizadores da greve dizem que quase 60% dos trabalhadores dependem do vale-alimentação do governo federal para abastecerem as geladeiras. Alem do mais, frisou um dos donos da Zingerman’s Deli, em Ann Arbor, Michigan, Paul Saignaw, em entrevista à “The Nation”, em frase poderosa: “É, no mínimo, uma vergonha termos funcionários de lanchonetes e restaurantes passando fome”. Os benefícios trabalhistas praticamente inexistem. De acordo com o National Employment Law Project, os custos para o contribuinte americano com os tratamentos de saúde apenas de funcionários do McDonald’s e seus dependentes chega a 1,2 bilhão de dólares.
Um dos maiores grupos lobistas de Washington, a National Restaurants Association, alertou esta semana que o virtual aumento do pagamento mínimo para 15 dólares por hora acarretará necessariamente no corte de empregados e em maior automação de serviços. Lisa McCombs, porta-voz do McDonald’s, disse, em e-mail distribuído à imprensa, que o grupo empresarial não considera os eventos desta semana “greves, e sim manifestações avulsas, que contaram com a adesão de pouquíssimas das 700 mil pessoas que trabalham para o Mc Donald’s”. Um Ronald McDonald vestido como o frio e ganancioso Grinch, o personagem criado por Dr.Seuss que quer ‘roubar’ o Natal, e os piquetes nas portas de restaurantes da rede em todo o país mostraram, no entanto, um incremento claro dos protestos em relação às paralisações-relâmpagos de novembro do ano passado e agosto último.
De acordo com a Wider Opportunities for Women, um indivíduo precisa ganhar hoje 10,20 dólares por hora nos EUA para se conseguir sobreviver em uma localidade de custo baixo. A média nacional é de 14,17 dólares. Ainda é uma incógnita se as greves conseguirão melhorar as condições dos trabalhadores que servem bilhões de hambúrgueres por dia nos EUA, mas uma vitória o neo-sindicalismo americano já pode celebrar: colocou na pauta do dia o aumento do salário mínimo na mesma semana em que o governo celebra o anúncio do menor índice de desemprego em cinco anos e da criação de 200 mil novos postos de emprego na economia americana nos últimos quatro meses.
Sem uniformes, apoiados por uma legião de professores, estudantes universitários, manifestantes herdeiros do Ocupem Wall Street, grupos de defesa de imigrantes não-documentados, lideranças sindicais e um massa de trabalhadores “low-budget”, que recebem, dependendo do estado, entre 7 e 8 dólares por hora de trabalho, milhares de funcionários de empresas conhecidas dos brasileiros, como McDonald’s, Burger King, Wendy’s, Walgreens, Macy’s e Sears, tomaram as ruas de uma centena de cidades americanas na quinta-feira 5 exigindo o aumento do salário mínimo para 15 dólares por hora.
Era uma denúncia direta tanto do aumento da desigualdade social na maior economia do planeta quanto da resistência dos republicanos, maioria na Casa dos Representantes, equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil, de sequer iniciar discussão sobre o tema, alarmados com a possibilidade da diminuição do ritmo da recuperação econômica do país.
Nas manifestações de peso em cidades tão diversas como Nova York, Chicago, Los Angeles, Boston, Detroit, Oakland, Charleston, Providence, Pittsburgh e Saint Louis, celebrou-se o discurso do presidente Barack Obama no dia anterior, em Washington, de defesa de um aumento imediato no salário-base federal de 1.250 dólares ao mês, mas pediu-se bem mais.
Na Praça Foley, no Centro Cívico de Manhattan, depois de sucessivos piquetes em frente aos restaurantes de fast-food localizados na vizinha Broadway, centenas de manifestantes enfrentaram o frio do outono nova-yorkino, animados por uma banda de rhythm & blues. O escritor e comediante de stand-up Ted Alexandro, de 44 anos, conhecido na cidade por conta de seus programas no canal de tevê Comedy Center, carregava um cartaz de protesto em que todos os Ms aparecem desenhados como se fossem o símbolo do Mc Donald’s.
“Para ajudar a pagar minha universidade, trabalhei em uma franquia do Burger King. Mas, com o aumento da desigualdade social nos EUA, a média de idade do trabalhador de lanchonetes nos EUA, hoje, é de 29 anos, bem menos jovens do que na minha época. Como é que uma pessoa vai sustentar sua família ganhando pouco mais de 1.000 dólares por mês? É impossível. A luta aqui, hoje, é, sim, dos funcionários de fast-food, mas você também vê esta gama de organizações na praça por conta da necessidade de se negociar logo um aumento do salário mínimo. Nós estamos conscientemente saindo às ruas, um dia depois do discurso do presidente Obama, para pressionar Washington”, disse, em meio a gritos de ordem que resumiam o pensamento do fim de tarde: “Os bancos foram resgatados, mas nós é que pagamos a conta”.
Além do minuto de silêncio por conta da morte do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, o outro instante em que os discursos na Foley se diversificaram em relação à primeira, e surpreendente, paralisação dos “assalariados por baixo” nova-yorkinos, em agosto, se deu com a celebração de apoio ao evento político de quarta-feira organizado pelo governo federal em Anacostia, um dos bairros mais pobres da periferia da capital americana. Na ocasião, em um discurso inflamado, Barack Obama afirmou que combater a desigualdade social é o “desafio que definirá nossa era” e que uma década de aumento com velocidade jamais vista na maior economia do planeta da disparidade entre ricos e pobres, “é uma ameaça real ao sonho americano”.
As agendas da Casa Branca e do movimento de trabalhadores não-sindicalizados se coincidiram por conta da necessidade de o governo recuperar o momento político depois de quase dois meses enredado no fiasco do lançamento do Obamacare, o projeto de reforma do combalido sistema de saúde do país. O governo ensaia um apoio formal à proposta dos senadores democratas, de elevação do mínimo para 10,10 dólares por hora, ainda bem abaixo do que pediam ontem as ruas dos maiores centros urbanos do país.
Na quarta-feira, Obama mencionou como principais injustiçados no mercado de trabalho americano, além dos enfermeiros (outro grupo presente em peso nas três passeatas de quinta-feira na Grande Nova York) e dos funcionários de shoppings e grandes lojas de departamento, os trabalhadores das redes de fast-food, historicamente afastados dos sindicatos por conta de característica específica do ramo: o gerenciamento dos negócios feitos por franquias, dissociadas umas das outras.
A primeira vez em que trabalhadores do setor cruzaram os braços nos EUA cerca de 200 funcionários de redes de fast-food deixaram de trabalhar por um dia em novembro de 2012, mobilizados por grupos locais como o Fast Food Forward (FFF) e o Fight for 15, hoje apoiados por centrais sindicais poderosas, como a União Nacional dos Professores, . “O que queremos, no fim, é um salário-base de 15 dólares/hora e o direito de nos sindicalizarmos”, dizia, em alto e bom som, microfone na mão, o dia todo, um dos principais organizadores da greve, Kendall Fells, principal líder do FFF.
A discrepância dos dois lados da pirâmide da indústria alimentícia nos EUA é denunciada pelos ativistas sem qualquer titubeio: enquanto CEOs de McDonald’s, KFC, Taco Bell, Pizza Hut e Red Olive aparecem na lista da revista “Fortune” recebendo salários de até 14 milhões de dólares por ano, pesquisa do Economy Police Institute revela que seus funcionários recebem 788 vezes menos. Mas o caldeirão só transbordou, reconhecem os organizadores da greve, por conta da recessão americana e do aumento do desemprego, que levou a idade média dos funcionários do setor, como apontada por Ted Alexandro, de 25 para 29 anos em meia década. Trinta e um por cento dos funcionários tem pelo menos um diploma universitário e mais de 25% da força de trabalho sustenta pelo menos uma criança com o salário recebido. É fato que nos últimos 14 anos nenhum setor da economia americana gerou mais postos de emprego. No entanto, a quase totalidade é de remuneração baixíssima.
Enquanto o lucro das empresas do setor foi estimado em 7,4 bilhões de dólares em 2013, os organizadores da greve dizem que quase 60% dos trabalhadores dependem do vale-alimentação do governo federal para abastecerem as geladeiras. Alem do mais, frisou um dos donos da Zingerman’s Deli, em Ann Arbor, Michigan, Paul Saignaw, em entrevista à “The Nation”, em frase poderosa: “É, no mínimo, uma vergonha termos funcionários de lanchonetes e restaurantes passando fome”. Os benefícios trabalhistas praticamente inexistem. De acordo com o National Employment Law Project, os custos para o contribuinte americano com os tratamentos de saúde apenas de funcionários do McDonald’s e seus dependentes chega a 1,2 bilhão de dólares.
Um dos maiores grupos lobistas de Washington, a National Restaurants Association, alertou esta semana que o virtual aumento do pagamento mínimo para 15 dólares por hora acarretará necessariamente no corte de empregados e em maior automação de serviços. Lisa McCombs, porta-voz do McDonald’s, disse, em e-mail distribuído à imprensa, que o grupo empresarial não considera os eventos desta semana “greves, e sim manifestações avulsas, que contaram com a adesão de pouquíssimas das 700 mil pessoas que trabalham para o Mc Donald’s”. Um Ronald McDonald vestido como o frio e ganancioso Grinch, o personagem criado por Dr.Seuss que quer ‘roubar’ o Natal, e os piquetes nas portas de restaurantes da rede em todo o país mostraram, no entanto, um incremento claro dos protestos em relação às paralisações-relâmpagos de novembro do ano passado e agosto último.
De acordo com a Wider Opportunities for Women, um indivíduo precisa ganhar hoje 10,20 dólares por hora nos EUA para se conseguir sobreviver em uma localidade de custo baixo. A média nacional é de 14,17 dólares. Ainda é uma incógnita se as greves conseguirão melhorar as condições dos trabalhadores que servem bilhões de hambúrgueres por dia nos EUA, mas uma vitória o neo-sindicalismo americano já pode celebrar: colocou na pauta do dia o aumento do salário mínimo na mesma semana em que o governo celebra o anúncio do menor índice de desemprego em cinco anos e da criação de 200 mil novos postos de emprego na economia americana nos últimos quatro meses.
13 de dezembro de 2013
Laika
Numa esfera de metal
Do melhor que possuímos
Gira dia após dia um cão morto
À roda da nossa terra
Como aviso
De que também ano após ano
Poderá um dia girar à roda do sol,
Carregado com uma humanidade morta,
O planeta terra
O melhor que possuímos.
Günter Kunert
O melhor que possuímos.
Günter Kunert
As folhas dos dias estavam em branco
Em Agosto havia
tempo e vagar. Obras
paradas, cães sem coleira
e um vizinho sentado à janela
entre cortinas de mofo. Hang on
sleepy town. Tudo adiado.
Sobrávamos nós, os conspiradores,
murados no terraço pela sombra
das montanhas; sobravam
também, toda a tarde,
as luzidias ilhas de vinil
em rotação –
e enquanto o espinho
de diamante as percorria,
víamos por vezes
acender-se na penumbra
a cidade de onde nos tinham
degredado desde sempre
e para sempre, tão forte
era o apelo da estranha língua
nativa: ruas sem retorno, negras
escadarias, túneis que levavam,
madrugada dentro, aos enredos
do futuro –
por favor, por favor,
que tudo comece. Num silêncio
sem paz nem sossego
ficávamos depois abandonados.
E esses foram, já se sabe,
os melhores dias.
Rui Pires Cabral, Oráculos de Cabeceira
12 de dezembro de 2013
a vida que passa
ressaca cansada
da vida que passa
na frente de todos
tal trem que se afasta
tal nave perdida
tal nau que naufraga
fragata que erra
no sonho que assanha
a sanha da vida
a sina perdida
a letra jaz morta
ressoa tal eco
no oco da gente
ecoa no mundo
um eco que explode
vai indo em frente
perpétuo contínuo
e treme no peito
um R que range
a porta que trava
a trova que solta
o som do infinito
na rota da reta
(caminho mais curto)
que encurta os dizeres
do tudo não dito
o pouco que sobra
nem sempre recruta
verdade evidente
as vezes o certo
é mesmo incerto
é pleno deserto
é falta que sobra
é sobra que falta
é coisa que para
é mágoa
é mistério
é sombra que paira
esperança que fica
no nó da garganta
é grito que urra
é coisa que voa
é rito proscrito
dos ditos que ficam
e restam inertes
nas vozes dos verbos
no som das palavras
sentidos vigentes
perdidos pra sempre
Salvador Passos
da vida que passa
na frente de todos
tal trem que se afasta
tal nave perdida
tal nau que naufraga
fragata que erra
no sonho que assanha
a sanha da vida
a sina perdida
a letra jaz morta
ressoa tal eco
no oco da gente
ecoa no mundo
um eco que explode
vai indo em frente
perpétuo contínuo
e treme no peito
um R que range
a porta que trava
a trova que solta
o som do infinito
na rota da reta
(caminho mais curto)
que encurta os dizeres
do tudo não dito
o pouco que sobra
nem sempre recruta
verdade evidente
as vezes o certo
é mesmo incerto
é pleno deserto
é falta que sobra
é sobra que falta
é coisa que para
é mágoa
é mistério
é sombra que paira
esperança que fica
no nó da garganta
é grito que urra
é coisa que voa
é rito proscrito
dos ditos que ficam
e restam inertes
nas vozes dos verbos
no som das palavras
sentidos vigentes
perdidos pra sempre
Salvador Passos
3 de dezembro de 2013
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