Para atingir a graça
(hmm...)
e ganhar em estilo
é preciso pedir licença
aos urubus
guardiães desta pousada
construída sobre os rochedos
no fim da praia.
E considerar a
relevância
de a dona do lugar ser
espírita
e ouvir forró bem alto à
noite
e berrar quando a
bebedeira iniciada ao poente
entra em declínio e
inevitavelmente
falha.
Para atingir a graça
(ah)
e ganhar em estilo
fazer amor com as portas
abertas para o terraço
(vocês estão no melhor
quarto porque são os únicos hóspedes)
com certa violência
recebendo a brisa
com cheiro de peixe e
passos
dos tais urubus no
telhado.
Para atingir a graça ( )
e ganhar em estilo
o domingo escorre
por trás dos barcos que
balançam como autistas na enseada
aí mandar uns dois ou
três sujeitos tomarem no cu
numa pequena série de
interurbanos;
envolver-se na escuridão
(e no silêncio, se a
dona da pousada o permitir)
e imaginar
por quê pelos demônios
alguém inventou que o
nascer do sol
se chamará
segunda-feira.
Danilo Monteiro
A Caverna
Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
Jean Louis Battre, 2010
Jean Louis Battre, 2010
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