o pouco basta pro poeta
arrancar asfalto com as unhas
revela a falta que afoga o peito
queria perder
o ato atávico de atar a vida
podar o dia,
prender corpo,
guardar a fala
enquanto o tempo passa em branco
viver é ter o tempo impresso nos cabelos
ter os braços longos como a chuva
abraçar o abstrato entre as rimas
rimar os rumos rústicos da terra
envergar a tarde no horizonte
até ela encostar na noite
perder a posse que possui a gente
beber a água que nos corre o verbo
o rio que percorre o ventre
ver o vento entre a sombra e o breve
o ar que arfa entre a dor com força
a foz que faz a forma em nome
a voz que reverbera o verbo
a noite que enverga o tempo
e dói na sede que não cede
Salvador Passos
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