no elevador entre o décimo e o nono andar e até
tenho miojo e a tv aberta
badalação conta bancária — nadas
o açúcar da sua voz
me roubou a bolsa e com o choque tive amnésia
não lembrarei o meu nome
na última hora disse que ia para o havaí
na praia
ouviria o tumulto
do mar
pedindo esmola e perdão
Se eu encostasse
meu ouvido
no meu peito
ouviria o tumulto
e as escadas magírus
ditando este e-mail para minha vizinha
adiós muchacha
isso é pra você que insiste esquecer o guarda-chuva só pra ter a esperança de um dia voltar atrás
não sairá dos meus ossos
(can’t you see?)
Salvador Passos
Boletim
de Ocorrência: Inventário de versos subtraídos
Minas
Se eu encostasse
meu ouvido
no seu peito
ouviria o tumulto
do mar
o alarido estridente
dos banhistas
cegos de sol
o baque
das ondas
quando despencam
na praia
Vem
escuta
no meu peito
o silêncio
elementar
dos metais
querida angélica
querida angélica não pude ir fiquei presa
no elevador entre o décimo e o nono andar e até
que o zelador se desse conta já eram dez e meia
querida angélica não pude ir tive um pequeno
acidente doméstico meu cabelo se enganchou dentro
da lavadora na verdade está preso até agora estou
ditando este e-mail para minha vizinha
querida angélica não pude ir meu cachorro
morreu e depois ressuscitou e subiu aos céus
passei a tarde envolvida com os bombeiros
e as escadas magírus
querida angélica não pude ir perdi meu cartão
do banco num caixa automático fui reclamar
para o guarda que na verdade era assaltante
me roubou a bolsa e com o choque tive amnésia
querida angélica não pude ir meu chefe me ligou
na última hora disse que ia para o havaí
de motocicleta e eu tive que ir para o trabalho
de biquíni portanto me resfriei
querida angélica não pude ir estou num
cybercafé às margens do orinoco fui sequestrada
por um grupo terrorista por favor deposite
dez mil dólares na conta 11308-0 do citibank
agência valparaíso obrigada pago quando voltar
Poesia e Realidade
o açúcar da sua voz
não sairá dos meus ossos —
minha vida será triste
perderei os meus amigos
venderei minha família
por um copo de cachaça
vagarei pelas cidades
pedindo esmola e perdão
esquecerei minha infância
não lembrarei o meu nome
morrerei como indigente
não serei reconhecido
meu corpo cheio de escaras
será jogado no mar —
o açúcar da sua voz
não sairá dos meus ossos
elogio do fracasso
bye bye
mecenas que eu nunca vi
patronos
bancos prizes marmeladas
adiós
muchachas
ninfas depiladas
ninfas depiladas
iates
vulvas
que sequer comi
que sequer comi
sayonara sucesso
(can’t you see?)
badalação conta bancária — nadas
que tudo
me dariam nas bancadas
da glória
em cosmopolitan party
fico tranquilo
a fome é coisa pouca
tenho miojo e a tv aberta
não deixa
que eu me perca
em zap a esmo
em zap a esmo
penhoro o notebook
corto a coca
dispenso a secretária
(é a coisa certa)
e fico de office-boy para mim mesmo
dispenso a secretária
(é a coisa certa)
e fico de office-boy para mim mesmo
inverno
dentro dos tímpanos
|
Isso é pra você que é um desses
caras fumando o último cigarro do maço antes de atravessar a Rua dos Pingüins
Tristonhos. É pra você que insiste esquecer o guarda-chuva só pra ter a
esperança de um dia voltar atrás. É pra você que come cheeseburguers com
recheio de neve e catchup esperando a noite chegar num banco qualquer de uma
praça chamada No Meio do Nada. É pra você que cruza a Rodovia do Café dentro dum
ônibus voltando da Cidade Industrial por volta da 23:45, carregando uma
sacolinha cheia de desilusão. É pra você que é aí das quebradas e tem o tórax
inchado e os olhos melados ganindo pra lua com intervalos peripatéticos de
tosse. É pra você que espera os créditos acabarem antes de sair do filme. Isso
é pra você em quem os analgésico não fazem mais efeito.
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