A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

2 de junho de 2013

não precisamos de lirismo

Para Deleuze, a literatura é saúde, ela faz a língua delirar retirando-a do seu estado clínico, a partir do silêncio, do gaguejar, da descontinuidade, provocando sua cura: o mergulho no universoesquizo contra a neurose edipiana. A tradição delirante estabelece uma fala construída a partir da percepção de uma série de dissonâncias e tunelamentos entre obras e autores dentro da produção artística e cultural brasileira. O delírio como parte fundamental da obra e/ou vida. A operação esquizo proposta por Deleuze, em seu aspecto mais estrutural, é um olhar, uma fala que libera elementos recalcados, historicamente alijados da leitura disciplinar e institucional de nação e de cultura. Não precisamos de lirismo, precisamos de delirismo: discurso indócil, inquieto, que muitas vezes teve como resposta a ação repressora dos aparelhos de controle do Estado, a repressão.

Ericson Pires
(trecho do livro Cidade Ocupada)

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