A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

2 de agosto de 2013

Provérbios do Inferno

 
Na semeadura aprende, na colheita ensina, no inverno desfruta.

Conduz tua carroça e o arado sobre os ossos dos mortos.

O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria.

A prudência é uma solteirona rica e feia cortejada pela incapacidade.

Quem deseja e não age, procria a pestilência.

O verme perdoa o arado que o cortou.

Enterre-se no rio aquele que ama as águas.

Um tolo não vê a mesma árvore que um sábio vê.

O homem cuja face não brilha jamais se tornará um astro.

A Eternidade está de amores com as produções do tempo.

A abelha diligente não tem tempo para lástimas.

As horas da insensatez são medidas pelo relógio, mas as da sabedoria relógio algum pode marcar.

Todo alimento sadio se consegue sem armadilha ou rede.

Pássaro algum voa alto demais se o faz com as próprias asas,

Um corpo morto não refuta injúrias.

O ato mais sublime consiste em colocar alguém antes de si.

A Loucura é o manto da velhacaria.

A Vergonha é o manto do Orgulho.

As prisões são erguidas com as pedras da Lei e os Bordéis com os tijolos da Religião.

O orgulho do pavão é a glória de Deus.

A luxúria do bode é a generosidade de Deus.

A fúria do leão é a sabedoria de Deus.

A nudez da mulher é a obra de Deus.

O excesso de tristeza, ri; o excesso de alegria, chora.

O rugir dos leões, o uivar dos lobos, o estrondo do mar tempestuoso, e o gládio destruidor são porções de eternidade grandes demais para o olhar humano.

A raposa condena a armadilha, e não a si mesma.

Alegrias fecundam, tristezas procriam.

Que o homem use os despojos do leão e a mulher o tosão das ovelhas.

Ao pássaro o ninho, à aranha a teia, ao homem a amizade.

O tolo egoísta e sorridente & o tolo carrancudo e triste serão ambos considerados sábios se servirem de exemplo.

O que hoje está provado não passava ontem de imaginação.

O rato, o camundongo, a raposa, o coelho espreitam as raízes; o leão, o tigre, o cavalo, o elefante espreitam os frutos.

A cisterna contém: a fonte transborda.

Um pensamento enche a imensidade.

Fala sempre o que pensas e os vis te evitarão.

Tudo o que é crível é uma imagem da verdade.

A águia perdeu todo o seu tempo se deixando ensinar pela gralha.

A raposa provê para si, mas Deus provê para o leão.

De manhã, pensa; de dia, age; de tarde, come; de noite, dorme.

Quem permite que o imponhas é porque te conhece.


Assim como o arado obedece a palavras, assim Deus recompensa as preces.

Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos da instrução.

Espera veneno das águas paradas.

Só se sabe o que é bastante depois de se saber o que é demais.

Escuta a censura dos tolos! É um privilégio de reis!

Os olhos do fogo, as narinas do ar, a boca da água, a barba da terra.

O fraco em coragem é forte em astúcia.

A macieira nunca pergunta à faia como crescer, nem o leão ao cavalo como abater sua presa.

Quem recebe agradecido produz colheita abundante.

Se outros não tivessem sido tolos, nós é que o seríamos.

A alma do doce deleite jamais será maculada,

Quando vês uma Águia, vês uma porção do Gênio. Ergue tua cabeça!

Como a lagarta escolhe as folhas mais belas para lançar seus ovos, assim o padre lança sua maldição sobre as alegrias mais belas.

Criar uma pequena flor exige o trabalho de séculos.

A blasfêmia, distende; a bênção, afrouxa.

O melhor vinho é o mais velho, a melhor água a mais nova.

As preces não aram! Os louvores não colhem.

As alegrias não riem! As tristezas não choram!

A cabeça Sublime, o coração Pathos, o sexo a Beleza, as mãos e os pés Proporção.

Assim como o ar ao pássaro e o mar ao peixe, seja o desprezo ao desprezível.

O corvo gostaria que tudo fosse preto, a coruja que tudo fosse branco.

Exuberância é Beleza.

Se o leão fosse aconselhado pela raposa, acabaria astuto.

O Progresso constrói estradas retas, mas as estradas tortuosas sem Progresso são os caminhos do Gênio.

Antes matar um infante no berço do que acalentar desejos reprimidos.

Onde o homem falta, a natureza é estéril.

A verdade não deve ser dita para ser apenas compreendida, e não acreditada.

Bastante! Ou demais

William Blake
Tradução de Ivo Barroso

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