A Caverna
Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
Jean Louis Battre, 2010
Jean Louis Battre, 2010
30 de julho de 2013
Nadificar
-Inventei um novo verbo
-Qual?
-Nadificar!
- Em que se emprega o nadificar? Ele diz poema?
- Depende!
É uma despalavra por não dizer, ela diz o nada
- Mas silenciar já não fala disso?
- O silêncio fala por ausência,
Silêncio fala quando cala
Silênciar é ativo, implica em não percebimento
Quem fala é o não ouvir dele
Nadificar fala por não dizer
É passivo
Não tem significado ou significância apenas insignificância
- É verso em vento?
- Não, é reverso do intento de dizer qualquer coisa
Diz coisa alguma, ou menos ainda
Diz que não existo
Ou ao menos que insisto nisso de não ser
Nadificar é habitar o outro que existe em nós mesmos
E quando chegar a ser o outro; então sair
Não presta para quando
Desnunca o ser e o sempre
- De quê serve o não então?
- Serve para antagonizar o sim
O nadificar não presta nem pra afirmar nem desconfirmar
- Se não presta para nada então serve para tudo?
Nem para um nem para outro
Eu diria até que para menos ainda
Se for de repente
Se for vagamente
Se for rente ao abismo da gente;
ou quase lá
Então talvez
- E se talvez?
Então não é
É o que não é
E quando se está não ficar,
Andar sempre rumo a outro lugar
- Além?
- Diria eu que é aquém também!
Nadificar é não transformar nada
E não falar sem se calar
Não estar no quando ou no aonde
Estar aqui sem ser
Impermanecer
Desmetafisicar
- Nadifico em baixo disso!
Raimundo Beato
*descobri agora que Sartre já usava tal termo.
[De nada + -ificar.]
Verbo transitivo direto.
1. Filos. Segundo Sartre (v. sartriano), processo pelo qual a consciência, exercendo o modo de ser que lhe é próprio, torna para-si (q. v.) o que é em si (q. v.), e o anula. [Conjug.: v. trancar.]
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