o R que arranha
rasgando a garganta
riscando com sangue
a raiva da gente
rosnando lá dentro
no verbo que aderna
o grito se forma
se enrosca na alma
arranca do corpo
um urro profundo
rasgando a palavra
roendo o silêncio
catarse que ferve
quebrando o silêncio
são pedras que rolam
é vento que sopra
sentidos diversos
é força que impele
o urro do Rock
no R que arranha
a reta se entorta
provoca o que cala
arranca da alma
o amor que não cabe
na pouca palavra
a voz da revolta
convoca aos primórdios
de antes da fala
o ódio do pouco
do mesmo de novo
do passo parado
do rumo medido
do fuso cansado
do mesmo de tudo
do som do silêncio
palavra que trava
palavra que troca
sonhar por dormir
mudar por ficar
guardando a vida
em meio à redoma
a voz do que grito
é ódio que inflama
rosnando e rasgando
é voz que se atreve
e trava o confronto
a voz é conforto
o urro é confronto
a voz quando inflama
levanta seu ponto
levando o grito
que irmana a justiça
e o povo na praça
saltando da fala
rasgando a garganta
no R que arranha
dizendo mais alto
a alma do mundo
a fúria que arranca
do R que entala
o grito da gente
palavra impressa
ressaca cansada
da vida que passa
na frente de todos
tal trem que se afasta
tal nave perdida
tal nau que naufraga
fragata que erra
no sonho que assanha
a sanha da vida
assina perdida
a letra jaz morta
ressoa tal eco
no oco da gente
ecoa no mundo
um eco que explode
o mundo gerúndio
com tudo bem fundo
vai indo em frente
perpétuo contínuo
e treme no peito
o R que range
a porta que trava
a trova que solta
o som do infinito
na rota da reta
(caminho mais curto)
que encurta os dizeres
do tudo não dito
o pouco que sobra
nem sempre recruta
verdade evidente
as vezes o certo
é mesmo incerto
é pleno deserto
é falta que sobra
é sobra que falta
é coisa que para
é mágoa
é mistério
é sombra que paira
esperança que fica
no nó da garganta
é grito que urra
é coisa que voa
é rito proscrito
dos ditos que ficam
e restam inertes
nas vozes dos verbos
no som da palavras
sentidos vigentes
perdidos pra sempre
Salvador Passos
A Caverna
Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
Jean Louis Battre, 2010
Jean Louis Battre, 2010
28 de fevereiro de 2014
Death Poem
Take my blood.
Take my death shroud and
The remnants of my body.
Take photographs of my corpse at the grave, lonely.
Send them to the world,
To the judges and
To the people of conscience,
Send them to the principled men and the fair-minded.
And let them bear the guilty burden, before the world,
Of this innocent soul.
Let them bear the burden, before their children and before history,
Of this wasted, sinless soul,
Of this soul which has suffered at the hands of the protectors of peace
Jumah al-Dossari’s poem
Jumah al-Dossari's poem is read in the video to the right by Riz Ahmed, the actor who appeared in the film "Road to Guantánamo". Jumah al-Dossari, who was released in 2007, was held in Guantánamo for more than five years and had been in solitary confinement since the end of 2003. He tried to kill himself more than a dozen times.
This poem was written as part of a suicide letter Jumah al-Dossari left for his lawyer when he had given up hope of ever seeing his family again. He is now in Saudi Arabia completing what the Saudi Arabian authorities refer to as a reform and rehabilitation programme for returned Guantánamo detainees.
To My Father
Two years have passed in far-away prisons,
Two years my eyes untouched by kohl.
Two years my heart sending out messages
To the homes where my family dwells,
Where lavender cotton sprouts
For grazing herds that leave well fed.
O Flaij, explain to those who visit our home
How I used to live.
I know your thoughts are swirled as in a whirlwind,
When you hear the voice of my anguished soul.
Send sweet peace and greetings to Bu’mair;
Kiss him on his forehead, for he is my father.
Fate has divided us, like the parting of a parent from a newborn.
O Father, this is a prison of injustice.
Its iniquity makes the mountains weep.
I have committed no crime and am guilty of no offense.
Curved claws have I,
But I have been sold like a fattened sheep.
I have no fellows but the Truth.
They told me to confess, but I am guiltless;
My deeds are all honorable and need no apology.
They tempted me to turn away from the lofty summit of integrity,
To exchange this cage for a pleasant life.
By God, if they were to bind my body in chains,
If all Arabs were to sell their faith, I would not sell mine.
I have composed these lines
For the day when your children have grown old.
O God—who governs creation with providence,
Who is one, singular and self-subsisting,
Who brings comfort and happy tidings,
Whom we worship—
Grant serenity to a heart that beats with oppression,
And release this prisoner from the tight bonds of confinement.
Abdulla Thani Faris al Anazi
Two years my eyes untouched by kohl.
Two years my heart sending out messages
To the homes where my family dwells,
Where lavender cotton sprouts
For grazing herds that leave well fed.
O Flaij, explain to those who visit our home
How I used to live.
I know your thoughts are swirled as in a whirlwind,
When you hear the voice of my anguished soul.
Send sweet peace and greetings to Bu’mair;
Kiss him on his forehead, for he is my father.
Fate has divided us, like the parting of a parent from a newborn.
O Father, this is a prison of injustice.
Its iniquity makes the mountains weep.
I have committed no crime and am guilty of no offense.
Curved claws have I,
But I have been sold like a fattened sheep.
I have no fellows but the Truth.
They told me to confess, but I am guiltless;
My deeds are all honorable and need no apology.
They tempted me to turn away from the lofty summit of integrity,
To exchange this cage for a pleasant life.
By God, if they were to bind my body in chains,
If all Arabs were to sell their faith, I would not sell mine.
I have composed these lines
For the day when your children have grown old.
O God—who governs creation with providence,
Who is one, singular and self-subsisting,
Who brings comfort and happy tidings,
Whom we worship—
Grant serenity to a heart that beats with oppression,
And release this prisoner from the tight bonds of confinement.
Abdulla Thani Faris al Anazi
26 de fevereiro de 2014
O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos - Repressão Policial
Repressão policial
Instrumento do capital
Repressão Policial
Terrorismo Oficial
25 de fevereiro de 2014
Um lapso Pessoal
Desta hora eterna do agora parto
Parto mesmo quando fico
Parto mas já não espero chegar
Pois percebo que não chegar é para sempre
Sei que o que chega já não basta
E no passo a passo deste não chegar eu penso
Não um pensamento exato
Mas um pensamento que beira o nada disto tudo que nós somos
Um pensamento que só é nas horas que não somos
Tenho em meu bolso um endereço e em meu peito um horário
Sei da urgência deste endereço e desta hora
Mas isso também passa
Minha vida inteira parece depender deste endereço e desta hora
Mas no fundo algo além me diz que não
Não sou esse que leva esse endereço no bolso
Quem sou nestas horas que não sou a vida que me atravessa?
Quem sou nestas horas em que sou independente da minha vida e do rumo que as horas me reservam?
As horas passam e me empurram
Mas sigo suspenso e penso
Tento pensar numa metafísica da origem
De onde vem estes pensamentos que não falam desta vida que me atravessa, do agora e da urgência?
Quero como numa nostalgia encontrar o primeiro pensamento
O que são estes pensamentos
Porque penso nestas coisas que não são?
O pensamento é como um braço que não tenho
Um braço metafórico que se estica em direção ao horizonte
A mão deste braço que não tenho busca com os seus dedos tocar coisas
Podem estes dedos tocar o horizonte de todas as coisas?
Esticam-se os dedos do pensar para tocar o infinito
Apesar da imensidão do tudo que se busca tocar
[o entendimento nos escapa por entre os dedos desta mão imaginária que projetamos com o pensamento
Como ínfimo grão de areia todo infinito nos escapa
Como pode o infinito se perder assim como pouco tão nada?
Nada cabe neste não tocar
Só a palavra toca o horizonte
Não com um tocar dos dedos
Pois palavra é branca de dizer
Diz o que se diz por meio dela
Só por meio da palavra é que se diz desde o ínfimo até o infinito
Só por meio da palavra é que se diz que o infinito acaba na palavra
As palavras como pássaros podem tocar o céu por entre as asas do dizer
Como o vento que sopra para além de algo
O horizonte está além desta mão esticada para o nunca
O horizonte é sempre tão nunca
Nunca e sempre ao mesmo tempo
Assim é tudo o que somos
Tão tudo ao mesmo tempo e tão pouco logo depois
Como entender tudo isto que se passa tão além de tudo
As palavras são como pássaros soltos no céu de nossos pensamentos
São os pássaros deste não entender
Nos levam em vôos cada vez mais altos
Voam para longe de tudo que somos
Como tocar o mais além senão por intermédio das palavras?
As palavras encontram tão somente aquilo que mandamos que elas busquem
E desiludidas voltam ao seu ninho nos galhos de nós mesmos
Eis que disto tudo brota a poesia
A poesia é aquilo que dizemos quando calamos
Aquilo tudo que pensamos quando esquecemos
Aquilo tudo que vivemos quando morremos
Aquilo tudo que caminha quando corremos
Aquilo tudo que somos quando não somos
Aquilo tudo que está distante logo adiante
Que é o dizer daquilo que não se diz só pelas palavras
Salvador Passos
Parto mesmo quando fico
Parto mas já não espero chegar
Pois percebo que não chegar é para sempre
Sei que o que chega já não basta
E no passo a passo deste não chegar eu penso
Não um pensamento exato
Mas um pensamento que beira o nada disto tudo que nós somos
Um pensamento que só é nas horas que não somos
Tenho em meu bolso um endereço e em meu peito um horário
Sei da urgência deste endereço e desta hora
Mas isso também passa
Minha vida inteira parece depender deste endereço e desta hora
Mas no fundo algo além me diz que não
Não sou esse que leva esse endereço no bolso
Quem sou nestas horas que não sou a vida que me atravessa?
Quem sou nestas horas em que sou independente da minha vida e do rumo que as horas me reservam?
As horas passam e me empurram
Mas sigo suspenso e penso
Tento pensar numa metafísica da origem
De onde vem estes pensamentos que não falam desta vida que me atravessa, do agora e da urgência?
Quero como numa nostalgia encontrar o primeiro pensamento
O que são estes pensamentos
Porque penso nestas coisas que não são?
O pensamento é como um braço que não tenho
Um braço metafórico que se estica em direção ao horizonte
A mão deste braço que não tenho busca com os seus dedos tocar coisas
Podem estes dedos tocar o horizonte de todas as coisas?
Esticam-se os dedos do pensar para tocar o infinito
Apesar da imensidão do tudo que se busca tocar
[o entendimento nos escapa por entre os dedos desta mão imaginária que projetamos com o pensamento
Como ínfimo grão de areia todo infinito nos escapa
Como pode o infinito se perder assim como pouco tão nada?
Nada cabe neste não tocar
Só a palavra toca o horizonte
Não com um tocar dos dedos
Pois palavra é branca de dizer
Diz o que se diz por meio dela
Só por meio da palavra é que se diz desde o ínfimo até o infinito
Só por meio da palavra é que se diz que o infinito acaba na palavra
As palavras como pássaros podem tocar o céu por entre as asas do dizer
Como o vento que sopra para além de algo
O horizonte está além desta mão esticada para o nunca
O horizonte é sempre tão nunca
Nunca e sempre ao mesmo tempo
Assim é tudo o que somos
Tão tudo ao mesmo tempo e tão pouco logo depois
Como entender tudo isto que se passa tão além de tudo
As palavras são como pássaros soltos no céu de nossos pensamentos
São os pássaros deste não entender
Nos levam em vôos cada vez mais altos
Voam para longe de tudo que somos
Como tocar o mais além senão por intermédio das palavras?
As palavras encontram tão somente aquilo que mandamos que elas busquem
E desiludidas voltam ao seu ninho nos galhos de nós mesmos
Eis que disto tudo brota a poesia
A poesia é aquilo que dizemos quando calamos
Aquilo tudo que pensamos quando esquecemos
Aquilo tudo que vivemos quando morremos
Aquilo tudo que caminha quando corremos
Aquilo tudo que somos quando não somos
Aquilo tudo que está distante logo adiante
Que é o dizer daquilo que não se diz só pelas palavras
Salvador Passos
Not To Touch The Earth
The Doors - Not to Touch the Earth from verywildwitek on Vimeo.
Not to touch the earth
Not to see the sun
Nothing left to do, but
Run, run, run
Let's run
Let's run
House upon the hill
Moon is lying still
Shadows of the trees
Witnessing the wild breeze
C'mon baby run with me
Let's run
Run with me
Run with me
Run with me
Let's run
The mansion is warm, at the top of the hill
Rich are the rooms and the comforts there
Red are the arms of luxuriant chairs
And you won't know a thing till you get inside
Dead president's corpse in the driver's car
The engine runs on glue and tar
Come on along, not goin' very far
To the East to meet the Czar
Run with me
Run with me
Run with me
Let's run
Whoa!
Some outlaws lived by the side of a lake
The minister's daughter's in love with the snake
Who lives in a well by the side of the road
Wake up, girl, we're almost home
Ya, c'mon!
We should see the gates by mornin'
We should be inside the evenin'
Sun, sun, sun
Burn, burn, burn
Soon, soon, soon
Moon, moon, moon
I will get you
Soon!
Soon!
Soon!
I am the Lizard King
I can do anything
The Doors
E se um beija-flor pousar na sua janela?
Vigilância Líquida, mais recente obra traduzida do autor polonês, estuda a crescente e muita vez perigosa demanda por "segurança" e sua ameça à política.
Depois de criar a consagrada expressão modernidade líquida para a vida contemporânea – fluida, inconstante, insegura e insatisfatória – e a mesma conceituação para a pós-modernidade, uma modernidade tardia e “perturbadora” como a que vivemos hoje; e após inscrever vários best sellers sobre o assunto (Modernidade líquida, Amor líquido, Vida líquida e Medo líquido) na sua vasta obra literária, o polonês Zygmunt Bauman, 83 anos de idade e sempre transbordando de energia, publicou no Brasil, há apenas um mês, mais um volume do que podemos chamar de série - ou de coleção.
Vigilância líquida (Liquid Surveillance [A Conversation]), editado no Brasil pela Zahar, é o resultado de recentes conversas de Bauman, professor emérito das universidades de Varsóvia e de Leeds, na Grã Bretanha, com o amigo David Lyon, professor da Universidade de Queens, no Canadá, que assim como ele também é sociólogo e estuda os mecanismos de controle e vigilância da sociedade, no caso a sociedade líquida, e as demandas de “segurança” crescentes – muitas delas artificiais, como as que procuram classificar como terrorismo determinadas manifestações políticas - estimuladas por empresas de tecnologia ou, com frequência, pelos interesses de ocasião de grupos e partidos políticos.
O objetivo do livro, segundo Bauman e Lyon, é a compreensão crítica da nossa sociedade pontilhada de câmeras de vídeo, por exemplo, que se multiplicam nos espaços públicos. É sobre a vigilância que aumenta sobre os indivíduos quando fazem suas compras mais rotineiras. O controle originado na participação nas redes sociais, no twitter, facebook (“o privado é público, é algo a ser celebrado e consumido tanto por incontáveis ‘amigos’ quanto por ‘usuários’ ocasionais”, lembram os autores) ou uma simples busca, uma pesquisa no google que resulta no monitoramento, sem o nosso conhecimento, da intimidade de cada um. Os “fragmentos de dados pessoais obtidos para um objetivo são facilmente usados para outro fim”.
Todo este imensurável material, arquivado em gigantescos bancos de dados de perfis, está prontos para ser usado e manipulado a qualquer momento. Em um aeroporto, durante uma inocente viagem de férias, em um check in de hotel ou numa abordagem policial. Bancos de dados que fazem dos mecanismos de controle daquele futuro pintado por Orwell um ameno refresco de laranja. Mas, ao mesmo tempo, assim como em 1984 estamos todos (ou estaremos) perfilados à revelia e controlados por um poder já hoje invisível.
David Lyon escreve: “Somos permanentemente checados, monitorados, testados, avaliados, apreciados e julgados.” E lembra: vigilância para proteção é uma coisa; vigilância para controle, outra.
Os acessos online, as senhas para ingressar em prédios comerciais e mesmo residenciais (esses, já há tempos de uso comum nas grandes cidades dos países centrais), os cartões de controle em código, o login, a leitura de impressões digitais em bancos, a apresentação de documento de identidade requerida com frequência cada vez maior, enfim, a “vigilância é uma dimensão central da modernidade”, diz Bauman, concluindo sobre essa invasão (des)controlada. E a própria invasão, líquida e fluida por sua vez, e por isto mesmo despercebida pelos ingênuos e pelos distraídos, exerce controle e vigilância permanente, se infiltrando e se espalhando em todas as áreas da vida líquida e “perturbadora”, no dizer de Lyon.
Mas além desse tipo de modernidade que tem se “liquidificado” (como define Bauman), em novas e diferentes maneiras, e para além do mantra de Marx e Engels do “tudo que é sólido se desmancha no ar” e do ambiente perigoso do deleto, desconecto, bloqueio, os dois sociólogos trazem suas reflexões, em Vigilância líquida, para um outro aspecto do controle/vigilância invisível - o político, tão ou mais perigoso da inquietante atualidade.
Mídias sociais e drones; a aterrorizante vigilância pan-ótica (no caso, pós-pan-ótica) criada na arquitetura de prisões de última geração; a (in) segurança no cotidiano; o consumismo e a classificação social (ser um árabe ou um muçulmano, hoje, pode ser um problema em qualquer aeroporto ou fronteira; e, dependendo do momento da chamada conjuntura, o mesmo ocorre para um latino-americano: um mexicano, um venezuelano, por exemplo, num aeroporto dos Estados Unidos). Estes são temas do livro publicado agora.
Concluindo a conversa entre Bauman e Lyon, considerações sobre Ética e Esperança. “A vigilância digital é uma espada afiada cuja eficiência ainda não sabemos como reduzir”, escreve o pensador polonês. “É uma espada com dois gumes que ainda não sabemos manejar com segurança.”
No aspecto político, evidentemente o 11 de setembro foi um marco fundamental para a expansão desordenada das novas tecnologias de espionagem e vigilância. No seu livro, Bauman sublinha “o aumento espetacular do número de drones reduzidos ao tamanho de uma libélula ou de um beija-flor confortavelmente empoleirado no peitoril de uma janela; ambos (drone e beija-flor) destinados, na saborosa expressão do engenheiro espacial americano Greg Parker, a ‘desaparecer em meio à paisagem’.
Ele relembra que mais de 1900 insurgentes nas áreas tribais do Paquistão foram mortos por drones americanos – os famosos predators – desde 2006.
Reduzidos agora ao tamanho de pássaros, mas preferivelmente de insetos - os designers militares já trabalham nesses drones mais avançados. Os movimentos de voo das mariposas, por exemplo, são mais fáceis para a tecnologia imitar do que o bater de asas dos pássaros.
Pergunta-se, enquanto as mariposas não entram em cena – ou melhor, na paisagem: o que você fará se, de repente, um dia, um beija-flor vier e pousar na sua janela?
Para Bauman, vive-se a época do divórcio entre o Poder e a Política – pelo menos na Europa onde, mesmo ainda eficiente comparado aos padrões nacionais, o sistema do bem-estar social está sendo desmantelado. “Poder e Política estão se separando (...) e a política parece irrelevante para os problemas e temores da vida das pessoas. O Estado perdeu Poder e não consegue manter e cumprir as promessas feitas há 50 anos; sem ele, oferece-se cada vez menos aos cidadãos.”
Para Zygmunt Bauman, a qualidade da democracia, que viveu sua época de ouro há meio século, está hoje em decadência. Uma visão eurocentrista a registrar o que se passava, na época, no velho continente europeu. O oposto do que vivemos, então, no Brasil e no continente sul-americano.
Na cena da realidade atual onde, segundo o sociólogo, “estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo”, Bauman repisa dois dos conceitos básicos do seu pensamento – a segurança e a liberdade. Sem a segunda a primeira é “escravidão”, em suas palavras. Mas para alcançar a segurança é preciso entregar um pouco da liberdade. Ganha-se algo por um lado, perde-se pelo outro. “E ninguém encontrou ainda a fórmula de ouro da mistura perfeita,” diz ele.
O que não significa que, livre, o indivíduo encontre a forma suprema da segurança na (in)segurança.
Otimista, e criticando os falsos gurus de hoje que ganham fortunas escrevendo livros e dando cursos sobre como encontrar a felicidade, Bauman conclui em Vigilância líquida: “A história não vai destruir nossas esperanças – desde que escutemos seu aviso.”
Ou que o tal beija-flor não pouse, de repente, no peitoril da nossa janela.
Em tempo: esta semana, Edward Snodewn observou a propósito da questão da vigilância de massa digital:
"Hoje, uma pessoa comum não pode pegar o telefone , enviar e-mail a um amigo ou encomendar um livro sem registrarem suas atividades que estão sendo criados em arquivos e analisados por pessoas com autoridade para colocá-lo na cadeia. Eu sei: eu sentei naquela mesa. Eu digitei os nomes.
Quando sabemos que estamos sendo observados nós nos impomos restrições sobre nosso comportamento - mesmo atividades claramente inocentes - da mesma forma como se nós fossemos obrigados a fazê-lo. Os sistemas de vigilância em massa de hoje, os sistemas que preventivamente automatizam a captura indiscriminada de registros privados, constituem uma espécie de vigilância do tipo máquina do tempo - uma máquina que simplesmente não pode funcionar sem violar nossa liberdade. E isto permite que os governos examinem cada decisão que você já fez, cada amigo com quem você já falou. Mesmo um erro bem-intencionado pode transformar uma vida de cabeça para baixo.
Para preservar as nossas sociedades livres temos de nos defender não só contra inimigos distantes, mas contra as políticas domésticas." (Ou seja, nacionais/N. R.)
Depois de criar a consagrada expressão modernidade líquida para a vida contemporânea – fluida, inconstante, insegura e insatisfatória – e a mesma conceituação para a pós-modernidade, uma modernidade tardia e “perturbadora” como a que vivemos hoje; e após inscrever vários best sellers sobre o assunto (Modernidade líquida, Amor líquido, Vida líquida e Medo líquido) na sua vasta obra literária, o polonês Zygmunt Bauman, 83 anos de idade e sempre transbordando de energia, publicou no Brasil, há apenas um mês, mais um volume do que podemos chamar de série - ou de coleção.
Vigilância líquida (Liquid Surveillance [A Conversation]), editado no Brasil pela Zahar, é o resultado de recentes conversas de Bauman, professor emérito das universidades de Varsóvia e de Leeds, na Grã Bretanha, com o amigo David Lyon, professor da Universidade de Queens, no Canadá, que assim como ele também é sociólogo e estuda os mecanismos de controle e vigilância da sociedade, no caso a sociedade líquida, e as demandas de “segurança” crescentes – muitas delas artificiais, como as que procuram classificar como terrorismo determinadas manifestações políticas - estimuladas por empresas de tecnologia ou, com frequência, pelos interesses de ocasião de grupos e partidos políticos.
O objetivo do livro, segundo Bauman e Lyon, é a compreensão crítica da nossa sociedade pontilhada de câmeras de vídeo, por exemplo, que se multiplicam nos espaços públicos. É sobre a vigilância que aumenta sobre os indivíduos quando fazem suas compras mais rotineiras. O controle originado na participação nas redes sociais, no twitter, facebook (“o privado é público, é algo a ser celebrado e consumido tanto por incontáveis ‘amigos’ quanto por ‘usuários’ ocasionais”, lembram os autores) ou uma simples busca, uma pesquisa no google que resulta no monitoramento, sem o nosso conhecimento, da intimidade de cada um. Os “fragmentos de dados pessoais obtidos para um objetivo são facilmente usados para outro fim”.
Todo este imensurável material, arquivado em gigantescos bancos de dados de perfis, está prontos para ser usado e manipulado a qualquer momento. Em um aeroporto, durante uma inocente viagem de férias, em um check in de hotel ou numa abordagem policial. Bancos de dados que fazem dos mecanismos de controle daquele futuro pintado por Orwell um ameno refresco de laranja. Mas, ao mesmo tempo, assim como em 1984 estamos todos (ou estaremos) perfilados à revelia e controlados por um poder já hoje invisível.
David Lyon escreve: “Somos permanentemente checados, monitorados, testados, avaliados, apreciados e julgados.” E lembra: vigilância para proteção é uma coisa; vigilância para controle, outra.
Os acessos online, as senhas para ingressar em prédios comerciais e mesmo residenciais (esses, já há tempos de uso comum nas grandes cidades dos países centrais), os cartões de controle em código, o login, a leitura de impressões digitais em bancos, a apresentação de documento de identidade requerida com frequência cada vez maior, enfim, a “vigilância é uma dimensão central da modernidade”, diz Bauman, concluindo sobre essa invasão (des)controlada. E a própria invasão, líquida e fluida por sua vez, e por isto mesmo despercebida pelos ingênuos e pelos distraídos, exerce controle e vigilância permanente, se infiltrando e se espalhando em todas as áreas da vida líquida e “perturbadora”, no dizer de Lyon.
Mas além desse tipo de modernidade que tem se “liquidificado” (como define Bauman), em novas e diferentes maneiras, e para além do mantra de Marx e Engels do “tudo que é sólido se desmancha no ar” e do ambiente perigoso do deleto, desconecto, bloqueio, os dois sociólogos trazem suas reflexões, em Vigilância líquida, para um outro aspecto do controle/vigilância invisível - o político, tão ou mais perigoso da inquietante atualidade.
Mídias sociais e drones; a aterrorizante vigilância pan-ótica (no caso, pós-pan-ótica) criada na arquitetura de prisões de última geração; a (in) segurança no cotidiano; o consumismo e a classificação social (ser um árabe ou um muçulmano, hoje, pode ser um problema em qualquer aeroporto ou fronteira; e, dependendo do momento da chamada conjuntura, o mesmo ocorre para um latino-americano: um mexicano, um venezuelano, por exemplo, num aeroporto dos Estados Unidos). Estes são temas do livro publicado agora.
Concluindo a conversa entre Bauman e Lyon, considerações sobre Ética e Esperança. “A vigilância digital é uma espada afiada cuja eficiência ainda não sabemos como reduzir”, escreve o pensador polonês. “É uma espada com dois gumes que ainda não sabemos manejar com segurança.”
No aspecto político, evidentemente o 11 de setembro foi um marco fundamental para a expansão desordenada das novas tecnologias de espionagem e vigilância. No seu livro, Bauman sublinha “o aumento espetacular do número de drones reduzidos ao tamanho de uma libélula ou de um beija-flor confortavelmente empoleirado no peitoril de uma janela; ambos (drone e beija-flor) destinados, na saborosa expressão do engenheiro espacial americano Greg Parker, a ‘desaparecer em meio à paisagem’.
Ele relembra que mais de 1900 insurgentes nas áreas tribais do Paquistão foram mortos por drones americanos – os famosos predators – desde 2006.
Reduzidos agora ao tamanho de pássaros, mas preferivelmente de insetos - os designers militares já trabalham nesses drones mais avançados. Os movimentos de voo das mariposas, por exemplo, são mais fáceis para a tecnologia imitar do que o bater de asas dos pássaros.
Pergunta-se, enquanto as mariposas não entram em cena – ou melhor, na paisagem: o que você fará se, de repente, um dia, um beija-flor vier e pousar na sua janela?
Para Bauman, vive-se a época do divórcio entre o Poder e a Política – pelo menos na Europa onde, mesmo ainda eficiente comparado aos padrões nacionais, o sistema do bem-estar social está sendo desmantelado. “Poder e Política estão se separando (...) e a política parece irrelevante para os problemas e temores da vida das pessoas. O Estado perdeu Poder e não consegue manter e cumprir as promessas feitas há 50 anos; sem ele, oferece-se cada vez menos aos cidadãos.”
Para Zygmunt Bauman, a qualidade da democracia, que viveu sua época de ouro há meio século, está hoje em decadência. Uma visão eurocentrista a registrar o que se passava, na época, no velho continente europeu. O oposto do que vivemos, então, no Brasil e no continente sul-americano.
Na cena da realidade atual onde, segundo o sociólogo, “estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo”, Bauman repisa dois dos conceitos básicos do seu pensamento – a segurança e a liberdade. Sem a segunda a primeira é “escravidão”, em suas palavras. Mas para alcançar a segurança é preciso entregar um pouco da liberdade. Ganha-se algo por um lado, perde-se pelo outro. “E ninguém encontrou ainda a fórmula de ouro da mistura perfeita,” diz ele.
O que não significa que, livre, o indivíduo encontre a forma suprema da segurança na (in)segurança.
Otimista, e criticando os falsos gurus de hoje que ganham fortunas escrevendo livros e dando cursos sobre como encontrar a felicidade, Bauman conclui em Vigilância líquida: “A história não vai destruir nossas esperanças – desde que escutemos seu aviso.”
Ou que o tal beija-flor não pouse, de repente, no peitoril da nossa janela.
Em tempo: esta semana, Edward Snodewn observou a propósito da questão da vigilância de massa digital:
"Hoje, uma pessoa comum não pode pegar o telefone , enviar e-mail a um amigo ou encomendar um livro sem registrarem suas atividades que estão sendo criados em arquivos e analisados por pessoas com autoridade para colocá-lo na cadeia. Eu sei: eu sentei naquela mesa. Eu digitei os nomes.
Quando sabemos que estamos sendo observados nós nos impomos restrições sobre nosso comportamento - mesmo atividades claramente inocentes - da mesma forma como se nós fossemos obrigados a fazê-lo. Os sistemas de vigilância em massa de hoje, os sistemas que preventivamente automatizam a captura indiscriminada de registros privados, constituem uma espécie de vigilância do tipo máquina do tempo - uma máquina que simplesmente não pode funcionar sem violar nossa liberdade. E isto permite que os governos examinem cada decisão que você já fez, cada amigo com quem você já falou. Mesmo um erro bem-intencionado pode transformar uma vida de cabeça para baixo.
Para preservar as nossas sociedades livres temos de nos defender não só contra inimigos distantes, mas contra as políticas domésticas." (Ou seja, nacionais/N. R.)
21 de fevereiro de 2014
20 de fevereiro de 2014
vida
é mais forte que a força que se faça
coisa pouca,
mas nem tanto que já chegue
coisa pouca,
mas nem tanto que já chegue
é o tempo que nos falta na entrega
é entrega que não cabe mais na gente
é batalha que se trava solitário
é a gente
com a gente
contra a gente
é o tempo que escorre entre os dedos
é a cara que não para no espelho
é o erro destas rugas que me ocupam
é entrega que não cabe mais na gente
é batalha que se trava solitário
é a gente
com a gente
contra a gente
é o tempo que escorre entre os dedos
é a cara que não para no espelho
é o erro destas rugas que me ocupam
Salvador Passos
19 de fevereiro de 2014
A nudez do mundo (o nome das palavras)
Procurava meus encalços
Olhava em baixo das palavras
Buscava a infância
sob as pedras
Lá estavam as COISAS
Como elas são:
SEM NOMES
Ausentes de metafísica
As coisas não esperavam nomes para serem o que eram
Pois o verdadeiro nome das coisas é anônimo
O mundo sempre esteve despido de palavras nós é que esquecemos
Naquele tempo palavras se enfeitavam de rumores para esperar pela poesia
Eu calava (a tua espera)
Sou ateu para gramáticas ou certezas
Perco na palavra o que me cala
Raimundo Beato
Olhava em baixo das palavras
Buscava a infância
sob as pedras
Lá estavam as COISAS
Como elas são:
SEM NOMES
Ausentes de metafísica
As coisas não esperavam nomes para serem o que eram
Pois o verdadeiro nome das coisas é anônimo
O mundo sempre esteve despido de palavras nós é que esquecemos
Naquele tempo palavras se enfeitavam de rumores para esperar pela poesia
Eu calava (a tua espera)
Sou ateu para gramáticas ou certezas
Perco na palavra o que me cala
Raimundo Beato
a nudez do mundo
o verdadeiro nome das coisas é anônimo
o mundo está despido de palavras
(o mundo está despido de gramáticas)
Sou ateu para gramáticas e certezas!
Raimundo Beato
o mundo está despido de palavras
(o mundo está despido de gramáticas)
Sou ateu para gramáticas e certezas!
Raimundo Beato
a poesia deve cantar a experiência autêntica
"a poesia deve cantar ou falar da experiência autêntica(...)Os poetas precisam viver próximos ao mundo em que vivem os homens primitivos: o mundo em sua nudez, que é fundamental para todos nós - nascimento, amor, morte; o simples fato de estar vivo. "
Citação de Gary Snyder no livro " O poeta-xamã de Marcel de Lima Santos
Citação de Gary Snyder no livro " O poeta-xamã de Marcel de Lima Santos
18 de fevereiro de 2014
Fui no mato
Fui no mato
Pensar no mundo
Chegou ao fuuundo,
o vento soprou
Chegou ao fiiiim,
as folhas concordou
Cóóórre!
O riacho aconselhou
E os grilos,
desgramados,
Apenas
hi, hi, hi, hi, hi
hi, hi, hi, hi, hi
Pensar no mundo
Chegou ao fuuundo,
o vento soprou
Chegou ao fiiiim,
as folhas concordou
Cóóórre!
O riacho aconselhou
E os grilos,
desgramados,
Apenas
hi, hi, hi, hi, hi
hi, hi, hi, hi, hi
Beto Mororó, agricultor neolítico e poeta apocalíptico
11 de fevereiro de 2014
Relatório do TCM vê lucro acima do estipulado com aumento da tarifa dos ônibus
Relatório do TCM vê lucro acima do estipulado com aumento da tarifa dos ônibus O Dia
01/02/2014
Técnicos recomendaram que passagem fosse baixada para R$ 2,50, mas parecer foi ignorado
Daniel Pereira
Rio - O relatório dos técnicos do TCM justificam a recomendação para baixar a tarifa em R$ 0,25 em uma simulação financeira da lucratividade das empresas de ônibus com a tarifa de R$ 2,75, no ano de 2012. Segundo o parecer, os técnicos optaram por fazer a simulação porque entenderam que não havia confiabilidade nos dados repassados.
“Optou-se pela realização de uma análise por simulação, a qual concluiu que a margem de lucratividade das concessionárias, com a prática da tarifa a R$ 2,75, atingiu uma TIR (Taxa Interna de Retorno) de 10,01%, acima, portanto, do adequado para o estabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro do contrato. Assim, não há como validar tal aumento de tarifa”, afirma trecho do documento, que lembra que os contratos permitem uma TIR de até 8,8%. O parecer técnico avalia ainda que a prefeitura poderia até exigir mais investimentos das empresas.
Recomendação para aumentar a passagem contrariou relatório técnico
Foto: Severino Silva / Agência O Dia
“Até que se evidenciem os elementos que justifiquem o aumento de tarifa em R$ 0,25, pode-se concluir que, de janeiro de 2012 até o presente momento, restou configurado o desequilíbrio econômico-financeiro, (...), em benefício das concessionárias. Por tal razão, considera-se apropriado o retorno da cobrança da tarifa ao valor de R$ 2,50, e sugere-se que a SMTR estipule medidas de compensação em prejuízo dos consórcios, para que os recursos decorrentes do acréscimo de R$ 0,25 sejam revertidos, a curto prazo, em investimentos a bem dos usuários.”
Voto do relator aprovado por unanimidade
Os conselheiros do Tribunal de Contas do Município (TCM) contrariaram a recomendação do relatório técnico (feito por especialistas do próprio órgão) em relação ao reajuste das tarifas dos ônibus. O documento indicava que as passagens deveriam ser reduzidas para R$ 2,50, porém o voto do relator Ivan Moreira foi aprovado por unanimidade e sugeriu o cumprimento do contrato de concessão, o que foi acatado pelo prefeito Eduardo Paes, que elevou o valor para R$ 3,00, a partir do próximo dia 8.
O TCM informou que o plenário é um colegiado que tem autonomia de decisão e não está vinculado a manifestação técnica, podendo discordar. No entendimento do Tribunal, haveria uma violação ao contrato feito entre a prefeitura e as concessionárias a partir de um edital de licitação, comprometendo, assim, a segurança jurídica.
O aumento das passagens, em junho do ano passado, foi o estopim para manifestações que tomaram as ruas
Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia
Já a prefeitura enviou nota afirmando que está seguindo criteriosamente as recomendações do relatório final do Tribunal de Contas do Município a que a administração municipal teve acesso e que é de conhecimento público. “A prefeitura não tem acesso a documentos e discussões internas do TCM, como as citadas na reportagem”, diz o texto.
A Rio Ônibus explicou que todas as informações necessárias para comprovar a necessidade da revisão para o equilíbrio econômico-financeiro do sistema foram encaminhadas ao TCM. E os dados usados pelo corpo técnico do tribunal foram resultado de uma simulação, não refletindo as informações reais apuradas pela prefeitura e pelos consórcios, devidamente auditadas por empresa independente.
A novela sobre o preço da passagem dos ônibus municipais parece não ter capítulo final. Fato é que há dois anos o reajuste não era concedido, uma vez que a prefeitura cedeu à pressão popular e voltou atrás do aumento dos famosos R$ 0,20 que aconteceu em junho do ano passado. Porém, em dezembro, o prefeito Eduardo Paes disse ser a favor do reajuste, que por contrato aconteceria no primeiro dia útil de janeiro.
Manifestação contra o aumento das passagens foi parar na Estação Central da SuperVia na terça e quinta-feira
Foto: Leitor @kappaum
E foi justamente aí que o Tribunal de Contas do Município entrou na história, quando recomendou que os preços não mudassem até que o órgão concluísse um estudo sobre o contrato de concessão. A prefeitura acatou a sinalização. E a decisão saiu na terça-feira, quando o TCM, mesmo considerando não ter informações precisas, recomendou que o contrato fosse cumprido e o reajuste concedido.
Após o parecer do órgão, o prefeito então decretou o aumento. A novidade neste roteiro veio na tarde de ontem, quando a imprensa teve acesso ao relatório realizado por técnicos do TCM, que deveria servir de base para o voto do relator Ivan Moreira. Acontece que ele optou por não seguir o estudo interno.
O vereador da oposição Eliomar Coelho (PSOL) dá a dica do próximo capítulo: “Assim que acabar o recesso da Câmara eu vou apurar isso. O TCM vai ter que explicar esta forma de agir. A gente pediu para acompanhar o trabalho técnico desde junho e isso foi negado. O relatório deveria servir de auxilio também para a nossa CPI, que foi paralisada. Posso me dar ao direito de admitir a hipótese de que o TCM está sofrendo influência política.”
Trens, barcas e metrô não terão reajuste, garante o governo estadual
O governo do estado anunciou ontem que vai manter os preços atuais das passagens dos trens (R$ 2,90), barcas (R$ 3,10 só a tarifa do Bilhete Único) e metrô (R$ 3,20), cujos contratos de concessão prevêem reajustes no início do ano. Para evitar o aumento, o governador Sérgio Cabral informou que determinou que a Secretaria de Fazenda faça um estudo para definir como compensar as concessionárias SuperVia e MetrôRio.
Em relação aos trens, o governador reconheceu a idade avançada da frota e a situação do controle de tráfego para justificar a manutenção da tarifa. “Nosso dever, enquanto isso (a renovação da frota e do controle) não acontece, é manter essa tarifa. O governo vai fazer esse esforço e esse reconhecimento”, afirmou Cabral, na manhã de ontem.
Sobre os trens, governador reconheceu a idade avançada da frota e a situação do controle de tráfego para justificar a manutenção da tarifa
Foto: André Luiz Mello / Agência O Dia
Ainda relação à SuperVia, o governador afirmou que a redução do custo da energia possibilitaria a manutenção da tarifa. Já para a CCR Barcas, os recursos para impedir que a chamada tarifa social (a cobrada no Bilhete Único) subisse serão usados recursos do Fundo Estadual de Transportes, como já está previsto em lei. Segundo a Secretaria de Fazenda, o orçamento do fundo para 2014 é de cerca de R$ 600 milhões.
Para quem paga a tarifa das barcas sem o Bilhete Único, a Agetransp (agência reguladora estadual dos transportes) informou que está avaliando os preços “com critérios técnicos” para definir se haverá reajuste. O preço atual está em R$ 4,50.
Perguntada sobre como poderia ocorrer a redução do preço da energia para os trens, a Secretaria de Fazenda respondeu apenas que essas definições estão em estudo. Em junho do ano passado, após as manifestações, o governo estadual reduziu a tarifa do metrô de R$ 3,50 para R$ 3,20. A de trens, de R$ 3,10 para R$ 2,90. A de barcas, com bilhete único, de R$ 3,30 para R$ 3,10. Sem bilhete único, a redução foi de R$ 4,80 para R$ 4,50.
Ônibus do BRT Transoeste bate em mureta e trens voltam a atrasar
A sexta-feira encerrou uma semana de muitos problemas nos meios de transporte públicos. Depois do caos no trânsito provocado pelas mudanças viárias na região do Porto, na segunda-feira, e da queda de uma passarela na Linha Amarela, o dia de ontem também foi complicado. Um ônibus do BRT Transoeste colidiu contra uma estação, na Barra da Tijuca. Trens da SuperVia voltaram a circular com atraso. E um acidente envolveu dois coletivos em Jacarepaguá.
O ônibus do sistema BRT Transoeste bateu na mureta da plataforma da estação de Santa Mônica-Jardins, na Barra da Tijuca, por volta de 6h30, prejudicando o trânsito da Avenida das Américas. Pelo menos 12 pessoas ficaram feridas e foram levadas para o Hospital Municipal Lourenço Jorge.
Mecânicos realizam manutenção de ônibus do BRT após acidente na Barra
Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
De acordo com a assessoria do BRT, a causa do acidente foi um pneu furado. Porém, os passageiros da composição afirmaram que a roda se soltou do ônibus, o que teria provocado o acidente. Na SuperVia, os problemas começaram por volta de 8h20.
Os trens de todos os ramais tiveram circulação interrompida em decorrência de problemas técnicos no sistema de controle. Segundo a concessionária, quando o sistema operacional havia sido restabelecido, às 9h, a circulação dos ramais foi normalizada gradativamente por motivo de segurança.
Para o sargento da Marinha do Brasil José Luiz da Costa, de 36 anos, que sempre pega o ramal de Santa Cruz, o problema o prejudicou no trabalho. “Cheguei depois do horário no serviço, sem contar que sempre pego trens sujos, sem ar-condicionado e com péssima iluminação”, disse o morador de Bangu.
Contrato com a CCR não será renovado: tarifa deve cair
Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia
A estudante Elaine Souza, de 22 anos, chegou atrasada para sua aula na Uerj. “Estou terminando o período ainda. E tinha apresentação de seminário. Não sei se a professora vai considerar meu atraso”, contou a aluna de que sempre utiliza os trens da SuperVia para se deslocar até a universidade. Em Jacarepaguá, a situação do trânsito também se complicou quando dois ônibus se chocaram na Estrada dos Bandeirantes, na altura da Rua São Marcelo. O acidente aconteceu às 10h20, e ,segundo o Corpo de Bombeiros, deixou 14 pessoas com ferimentos leves.
Pedágio na Ponte terá que baixar
O contrato com a CCR para gestão da Ponte Rio-Niterói, que vence em 2015, não será renovado. O anúncio foi feito pelo governo federal ontem. Segundo o ministro dos Transportes, César Borges, a tarifa de pedágio está muito alta. Uma nova licitação será feita com o objetivo de reduzir o valor, que é de R$ 4,90 para automóveis.
“Essa concessão foi feita em outras condições econômicas. Por isso, a taxa interna de retorno é muito elevada”, justificou o ministro. A atual concessionária poderá participar da concorrência, mas, segundo o ministro, acrescentando que já há muitos interessados.
O processo de concorrência será iniciado ainda em 2014. O vencedor terá de realizar investimentos na ligação com a Linha Vermelha, e na região do Mergulhão, em Niterói. “Os investimentos necessários são baixos, não chegam a R$ 300 milhões”, informou o ministro.
O jogo perigoso da especulação manipulando emoções
Programa nº 2254
O jogo perigoso da especulação manipulando emoções
Por Luciano Martins Costa em 11/02/2014 no programa nº 2254 |
O jogo perigoso da especulação
Segundo levantamento publicado nesta terça-feira (11/2) pelo Globo, são pelo menos sete as mortes ocorridas em consequência de violência durante as manifestações iniciadas em junho do ano passado.
Mas a vítima que vai marcar este tempo chamava-se Santiago Ilídio Andrade e em seu nome serão publicadas muitas reflexões sensatas e cometidas algumas manipulações.
A diferença entre ele e os demais mortos e feridos é que, ao que tudo indica, foi atingido por um petardo lançado por um suposto ativista do Black Bloc.
Marcos Delafrate, estudante de 18 anos, morreu atropelado em Ribeirão Preto; Cleonice Vieira de Moraes, 54 anos, teve um ataque cardíaco ao ser atingida por uma bomba de efeito moral em Belém; Valdinete Rodrigues Pereira, 40 anos, e Maria Aparecida, 62, foram atropeladas em Cristalino, Goiás; Douglas Henrique de Oliveira, 21 anos, caiu de um viaduto em Belo Horizonte; um adolescente cujo nome não é revelado morreu no Guarujá, litoral paulista, e o marceneiro Igor Oliveira da Silva, de 16 anos, estava numa festa junina quando foi atropelado por um caminhão, cujo motorista fugia de uma manifestação.
A lista está incompleta, pois sabe-se que houve pelo menos mais uma morte em Belo Horizonte.
No campo que podemos observar, esses nomes têm um valor relativo, quase restrito ao círculo de seus familiares e amigos: o território midiatizado precisa de símbolos capazes de produzir comoção e relativiza tudo que não tenha potencial para compor uma manchete.
Números baixos ou individualidades de menor apelo não interessam à mídia de massa.
Santiago Andrade está, portanto, inscrito nesse enredo cuja trama se torna a cada dia mais complexa.
Cresce quase ao nível da unanimidade a condenação às práticas do Black Bloc, denominação que até outro dia se referia especificamente ao ativismo violento mas não apontava para uma estrutura organizada.
Os jornais, principalmente o Globo, se esforçam para acusar o deputado Marcelo Freixo, do PSOL, como mentor dos grupos de vândalos, e há quem confunda propositalmente os Black Bloc com os coletivos de comunicação chamados de Mídia Ninja.
Manipulando emoções
O cadáver serve principalmente para exacerbar emoções, e nesse contexto é que se constroem certos mitos perpetuados nos arquivos da imprensa.
O protagonismo do deputado carioca é conhecido, por causa da assistência jurídica que costuma oferecer a manifestantes detidos pela polícia, mas daí a envolvê-lo na organização de atos violentos vai uma grande distância.
Ainda que se diga que seu tirocínio possa ter sido afetado por aquela doença infantil do comunismo, não há fatos que justifiquem o julgamento a que parte da imprensa o está submetendo.
O processo é insidioso, principalmente se considerarmos que, até a morte de Santiago Andrade, a mídia tradicional não havia manifestado capacidade ou interesse em identificar o que é e a que serve o difuso movimento chamado Black Bloc.
O fato de alguns analistas apressados vincularem o ativismo violento ao midiativismo dos Mídia Ninja é parte desse processo de demonização das manifestações que nascem dos fóruns coletivos - que o pensamento conservador não consegue interpretar ou que simplesmente rejeita.
No momento em que estas observações são elaboradas, após horas de análise do noticiário da última jornada, a polícia ainda não havia revelado o nome do principal suspeito de ter acendido o pavio do morteiro que matou o cinegrafista.
Portanto, tudo que foi dito até então pode se desvanecer com a possibilidade de se tratar, por exemplo, de um agente provocador ligado à própria polícia ou a uma daquelas milícias que disputam o domínio de favelas no Rio.
Enquanto a verdade não for exposta e devidamente consolidada por provas concretas, tudo é especulação.
E é no terreno pantanoso das especulações que a mídia tradicional constrói os fundamentos da opinião manipulada.
O Brasil já testemunhou manobras semelhantes, capazes até mesmo de alterar o resultado de eleições presidenciais.
Não se encontra, nos limites do razoável, justificativa aceitável para a ação violenta que caracteriza essa tática chamada de Black Bloc.
Mas a depredação irresponsável de reputações também é uma ameaça à chamada sociedade democrática.
O jogo perigoso da especulação manipulando emoções
Por Luciano Martins Costa em 11/02/2014 no programa nº 2254 |
O jogo perigoso da especulação
Segundo levantamento publicado nesta terça-feira (11/2) pelo Globo, são pelo menos sete as mortes ocorridas em consequência de violência durante as manifestações iniciadas em junho do ano passado.
Mas a vítima que vai marcar este tempo chamava-se Santiago Ilídio Andrade e em seu nome serão publicadas muitas reflexões sensatas e cometidas algumas manipulações.
A diferença entre ele e os demais mortos e feridos é que, ao que tudo indica, foi atingido por um petardo lançado por um suposto ativista do Black Bloc.
Marcos Delafrate, estudante de 18 anos, morreu atropelado em Ribeirão Preto; Cleonice Vieira de Moraes, 54 anos, teve um ataque cardíaco ao ser atingida por uma bomba de efeito moral em Belém; Valdinete Rodrigues Pereira, 40 anos, e Maria Aparecida, 62, foram atropeladas em Cristalino, Goiás; Douglas Henrique de Oliveira, 21 anos, caiu de um viaduto em Belo Horizonte; um adolescente cujo nome não é revelado morreu no Guarujá, litoral paulista, e o marceneiro Igor Oliveira da Silva, de 16 anos, estava numa festa junina quando foi atropelado por um caminhão, cujo motorista fugia de uma manifestação.
A lista está incompleta, pois sabe-se que houve pelo menos mais uma morte em Belo Horizonte.
No campo que podemos observar, esses nomes têm um valor relativo, quase restrito ao círculo de seus familiares e amigos: o território midiatizado precisa de símbolos capazes de produzir comoção e relativiza tudo que não tenha potencial para compor uma manchete.
Números baixos ou individualidades de menor apelo não interessam à mídia de massa.
Santiago Andrade está, portanto, inscrito nesse enredo cuja trama se torna a cada dia mais complexa.
Cresce quase ao nível da unanimidade a condenação às práticas do Black Bloc, denominação que até outro dia se referia especificamente ao ativismo violento mas não apontava para uma estrutura organizada.
Os jornais, principalmente o Globo, se esforçam para acusar o deputado Marcelo Freixo, do PSOL, como mentor dos grupos de vândalos, e há quem confunda propositalmente os Black Bloc com os coletivos de comunicação chamados de Mídia Ninja.
Manipulando emoções
O cadáver serve principalmente para exacerbar emoções, e nesse contexto é que se constroem certos mitos perpetuados nos arquivos da imprensa.
O protagonismo do deputado carioca é conhecido, por causa da assistência jurídica que costuma oferecer a manifestantes detidos pela polícia, mas daí a envolvê-lo na organização de atos violentos vai uma grande distância.
Ainda que se diga que seu tirocínio possa ter sido afetado por aquela doença infantil do comunismo, não há fatos que justifiquem o julgamento a que parte da imprensa o está submetendo.
O processo é insidioso, principalmente se considerarmos que, até a morte de Santiago Andrade, a mídia tradicional não havia manifestado capacidade ou interesse em identificar o que é e a que serve o difuso movimento chamado Black Bloc.
O fato de alguns analistas apressados vincularem o ativismo violento ao midiativismo dos Mídia Ninja é parte desse processo de demonização das manifestações que nascem dos fóruns coletivos - que o pensamento conservador não consegue interpretar ou que simplesmente rejeita.
No momento em que estas observações são elaboradas, após horas de análise do noticiário da última jornada, a polícia ainda não havia revelado o nome do principal suspeito de ter acendido o pavio do morteiro que matou o cinegrafista.
Portanto, tudo que foi dito até então pode se desvanecer com a possibilidade de se tratar, por exemplo, de um agente provocador ligado à própria polícia ou a uma daquelas milícias que disputam o domínio de favelas no Rio.
Enquanto a verdade não for exposta e devidamente consolidada por provas concretas, tudo é especulação.
E é no terreno pantanoso das especulações que a mídia tradicional constrói os fundamentos da opinião manipulada.
O Brasil já testemunhou manobras semelhantes, capazes até mesmo de alterar o resultado de eleições presidenciais.
Não se encontra, nos limites do razoável, justificativa aceitável para a ação violenta que caracteriza essa tática chamada de Black Bloc.
Mas a depredação irresponsável de reputações também é uma ameaça à chamada sociedade democrática.
10 de fevereiro de 2014
Quem detona a bomba
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 10/2/2014
Por Luciano Martins Costa em 10/02/2014 na edição 784
O movimento de protesto contra a realização da Copa do Mundo é tema de reportagens em diversas seções dos jornais desde o fim de semana: pode ser fator de instabilidade econômica, preocupa marqueteiros de campanhas eleitorais e mobiliza analistas que tentam entender o rescaldo de protestos que paralisaram as principais cidades do país em junho passado, no rastro do ativismo contra as mazelas do sistema de transporte público.
O episódio mais recente envolve o disparo de morteiro que feriu gravemente um cinegrafista da TV Bandeirantes, durante protesto na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro, na quinta-feira (6/2). O noticiário de segunda-feira (10) envolve a prisão temporária do tatuador Fábio Raposo Barbosa, de 22 anos, que se apresentou à polícia no sábado (8), confessando ter entregue a bomba ao homem que a disparou.
Parte das discussões na imprensa roda em torno da hipótese de o jovem preso ser participante de um grupo organizado; o termo de detenção do acusado registra que ele seria ligado ao deputado do PSOL Marcelo Freixo, provável candidato a senador.
Os textos envolvem uma grande mistura de elementos, mas um deles, talvez o mais importante, é citado apenas indiretamente pelos jornais: o fato de que os ativistas mais violentos, aqueles que carregam artefatos incendiários ou explosivos em manifestações, agem de maneira organizada. Mas sua “organização” tem sinais claros de amadorismo. O fato de um ativista engajado em tarefa importante exibir uma fartura de tatuagens capazes de escancarar sua identidade é apenas um dos sinais desse amadorismo.
Como já foi relatado neste Observatório (ver “Qual o limite dos protestos?”), a respeito de protesto ocorrido no dia 25 de janeiro em São Paulo, há uma organização estruturada por trás das ações radicais que acompanham todo tipo de passeata que ocorre nas grandes cidades.
O problema, que denuncia os riscos potenciais desse grupo que se agrega automaticamente às mobilizações de todos os tipos, é justamente a facilidade com que se pode identificar os “raposos” tatuados que atuam como “municiadores”, comparada à dificuldade para identificar aqueles que atiram as bombas.
Um enigma nos protestos
Há nesse episódio alguns fatores interessantes que merecem ser mais explorados: por exemplo, telefonemas recomendando que o jovem tatuado assuma integralmente a responsabilidade pelo ataque ao cinegrafista, mostram que os organizadores desses ataques fazem avaliações precárias do contexto, uma vez que há imagens mostrando Fábio Raposo entregando o artefato ao homem que o disparou. Portanto, há um núcleo coordenando as ações que se convencionou chamar de Black Bloc, mas esse suposto cérebro não parece primar por um raciocínio brilhante.
Muitos jornalistas que se manifestam nas redes sociais digitais estranharam o fato de o Jornal Nacional, da TV Globo, ter dedicado no sábado (8/2) um tempo extraordinariamente longo à identificação do jovem ativista, e representantes dos coletivos chamados Mídia Ninja buscam razões ocultas para o grande interesse da Globo em ligar o portador do explosivo ao deputado Freixo.
Tudo isso compõe um conjunto de fatos que são atirados sobre o público, sem explicações e sem um fio condutor que ajude a formar uma opinião fundamentada.
É certo que as futuras manifestações contra a realização da Copa do Mundo são os eventos com maior potencial para degenerar em atos de violência, entre todas as pautas que têm sido levadas às ruas. Também já ficou claro, pelo que tem sido noticiado, que os manifestantes mobilizados para esse objetivo não formam grandes multidões, mas têm sido capazes de produzir muitos estragos e ganham importantes espaços na mídia.
Resta saber a que propósitos servem tais mobilizações, considerando-se que a Copa deve se encerrar a três meses das eleições, momento crucial para a definição das preferências do eleitorado.
Por um lado, autoridades encarregadas de decifrar o enigma dos protestos não têm se mostrado capazes de traçar um perfil de seus organizadores ou de prevenir a violência: na verdade, a única ação oficial é a repressiva. Por outro, a imprensa brasileira, pelo menos aqueles veículos que dominam o cenário da mídia, já mostraram em outras ocasiões como são capazes de manipular os acontecimentos em função de suas preferências políticas.
A bomba está armada em algum lugar. Identificar quem acende o pavio é relativamente fácil. Difícil é denunciar quem ganha com isso.
Por Luciano Martins Costa em 10/02/2014 na edição 784
O movimento de protesto contra a realização da Copa do Mundo é tema de reportagens em diversas seções dos jornais desde o fim de semana: pode ser fator de instabilidade econômica, preocupa marqueteiros de campanhas eleitorais e mobiliza analistas que tentam entender o rescaldo de protestos que paralisaram as principais cidades do país em junho passado, no rastro do ativismo contra as mazelas do sistema de transporte público.
O episódio mais recente envolve o disparo de morteiro que feriu gravemente um cinegrafista da TV Bandeirantes, durante protesto na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro, na quinta-feira (6/2). O noticiário de segunda-feira (10) envolve a prisão temporária do tatuador Fábio Raposo Barbosa, de 22 anos, que se apresentou à polícia no sábado (8), confessando ter entregue a bomba ao homem que a disparou.
Parte das discussões na imprensa roda em torno da hipótese de o jovem preso ser participante de um grupo organizado; o termo de detenção do acusado registra que ele seria ligado ao deputado do PSOL Marcelo Freixo, provável candidato a senador.
Os textos envolvem uma grande mistura de elementos, mas um deles, talvez o mais importante, é citado apenas indiretamente pelos jornais: o fato de que os ativistas mais violentos, aqueles que carregam artefatos incendiários ou explosivos em manifestações, agem de maneira organizada. Mas sua “organização” tem sinais claros de amadorismo. O fato de um ativista engajado em tarefa importante exibir uma fartura de tatuagens capazes de escancarar sua identidade é apenas um dos sinais desse amadorismo.
Como já foi relatado neste Observatório (ver “Qual o limite dos protestos?”), a respeito de protesto ocorrido no dia 25 de janeiro em São Paulo, há uma organização estruturada por trás das ações radicais que acompanham todo tipo de passeata que ocorre nas grandes cidades.
O problema, que denuncia os riscos potenciais desse grupo que se agrega automaticamente às mobilizações de todos os tipos, é justamente a facilidade com que se pode identificar os “raposos” tatuados que atuam como “municiadores”, comparada à dificuldade para identificar aqueles que atiram as bombas.
Um enigma nos protestos
Há nesse episódio alguns fatores interessantes que merecem ser mais explorados: por exemplo, telefonemas recomendando que o jovem tatuado assuma integralmente a responsabilidade pelo ataque ao cinegrafista, mostram que os organizadores desses ataques fazem avaliações precárias do contexto, uma vez que há imagens mostrando Fábio Raposo entregando o artefato ao homem que o disparou. Portanto, há um núcleo coordenando as ações que se convencionou chamar de Black Bloc, mas esse suposto cérebro não parece primar por um raciocínio brilhante.
Muitos jornalistas que se manifestam nas redes sociais digitais estranharam o fato de o Jornal Nacional, da TV Globo, ter dedicado no sábado (8/2) um tempo extraordinariamente longo à identificação do jovem ativista, e representantes dos coletivos chamados Mídia Ninja buscam razões ocultas para o grande interesse da Globo em ligar o portador do explosivo ao deputado Freixo.
Tudo isso compõe um conjunto de fatos que são atirados sobre o público, sem explicações e sem um fio condutor que ajude a formar uma opinião fundamentada.
É certo que as futuras manifestações contra a realização da Copa do Mundo são os eventos com maior potencial para degenerar em atos de violência, entre todas as pautas que têm sido levadas às ruas. Também já ficou claro, pelo que tem sido noticiado, que os manifestantes mobilizados para esse objetivo não formam grandes multidões, mas têm sido capazes de produzir muitos estragos e ganham importantes espaços na mídia.
Resta saber a que propósitos servem tais mobilizações, considerando-se que a Copa deve se encerrar a três meses das eleições, momento crucial para a definição das preferências do eleitorado.
Por um lado, autoridades encarregadas de decifrar o enigma dos protestos não têm se mostrado capazes de traçar um perfil de seus organizadores ou de prevenir a violência: na verdade, a única ação oficial é a repressiva. Por outro, a imprensa brasileira, pelo menos aqueles veículos que dominam o cenário da mídia, já mostraram em outras ocasiões como são capazes de manipular os acontecimentos em função de suas preferências políticas.
A bomba está armada em algum lugar. Identificar quem acende o pavio é relativamente fácil. Difícil é denunciar quem ganha com isso.
5 de fevereiro de 2014
WAY OUT
a Manuel Vilas
La poesía dejará de ser una cosa triste
cuando empiece a tener que ver con la vida de la gente,
cuando la gente vuelva a ser la que decida qué hacer
con sus vidas y con las palabras,
mientras tanto
todo esto que hacemos seguirá siendo
literatura.
Antonio Orihuela
La poesía dejará de ser una cosa triste
cuando empiece a tener que ver con la vida de la gente,
cuando la gente vuelva a ser la que decida qué hacer
con sus vidas y con las palabras,
mientras tanto
todo esto que hacemos seguirá siendo
literatura.
Antonio Orihuela
Donde no llegan las medicinas
Donde no llegan las medicinas
llega Coca-Cola,
bébete las chispas de sus vidas
y eructa.
Antonio Orihuela
llega Coca-Cola,
bébete las chispas de sus vidas
y eructa.
Antonio Orihuela
Listen to the Painters
"Precisamos de poetas, precisamos de pintores.
Precisamos de poemas de pinturas...
Ideas limitadas são armas fabricadas para destruição em massa"
The Ex - Listen to the Painters
from Turn (2004)
we need poets, we need painters
we need poets, we need painters
we need poetry and paintings...
narrow minds are weapons made for mass destruction
file them under giant ass seduction
sheep with crazy leaders, heading for disaster
courting jesters who take themselves for masters
the shrub who took himself for a park
the squeak who took himself for a bark
we need poets, we need painters
we need poets, we need painters
we need poetry and paintings...
we need filmers, and writers, dancers, musicians
actors, and sculptor,s bakers, electricians
thinkers, and doctors, cyclists, and builders
lovers, friends, and neighbours, and others
filmers, writers, dancers, musicians
poets, and painters, poets, and painters
Precisamos de poemas de pinturas...
Ideas limitadas são armas fabricadas para destruição em massa"
The Ex - Listen to the Painters
from Turn (2004)
we need poets, we need painters
we need poets, we need painters
we need poetry and paintings...
narrow minds are weapons made for mass destruction
file them under giant ass seduction
sheep with crazy leaders, heading for disaster
courting jesters who take themselves for masters
the shrub who took himself for a park
the squeak who took himself for a bark
we need poets, we need painters
we need poets, we need painters
we need poetry and paintings...
we need filmers, and writers, dancers, musicians
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APUNTES PARA UNA ESTRATEGIA
Ellos,
quienesquiera que seamos,
siempre serán más.
Nosotros,
quienesquiera que sean,
siempre seremos menos.
Una vez dicho esto
pasemos a la acción.
José María Gómez Valero
La sexualida de las moscas
La Sexualidad de las Moscas a 58ºF y 43% de humedad, es nula.» es el título de un folletín literario del que hemos publicado 46 números. De manera intensiva desde 1996 hasta 2003 el folletín tenía una periodicidad mensual en la que, mediante una convocatoria, se publicaron textos, principalmente poéticos, pero también poemas visuales y relatos. Para Borderhack hicimos un «especial frontera» con versión en HTML y después de algunos parones y arranques pasamos a una época (la III) en la que sólo se crearon tres números monográficos: Antonio Orihuela, Corsal Desastre & Nima Lezop y La Palabra Itinerante. Todo aquello se paró. El último número apareció en 2006 y firmamos su acta de no-defunción.
Ahora, con la fuerza colectiva que se respira gracias al 15M hicimos un llamamiento a nuestros poetas de cabecera y todos respondieron ipso facto. Como invitadas especiales, están Bartleby & Cía y Miguel Brieva con el «Espantosísimo y necesario acontecimiento en la ciudad de Madrid en los primeros días de la primavera de 2011».
La edición digital para pantalla la puedes descargar y compartir como quieras.
Este número lo hemos cedido al dominio público y está hecho con Software Libre al 100%.
quienesquiera que seamos,
siempre serán más.
Nosotros,
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siempre seremos menos.
Una vez dicho esto
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José María Gómez Valero
La sexualida de las moscas
La Sexualidad de las Moscas a 58ºF y 43% de humedad, es nula.» es el título de un folletín literario del que hemos publicado 46 números. De manera intensiva desde 1996 hasta 2003 el folletín tenía una periodicidad mensual en la que, mediante una convocatoria, se publicaron textos, principalmente poéticos, pero también poemas visuales y relatos. Para Borderhack hicimos un «especial frontera» con versión en HTML y después de algunos parones y arranques pasamos a una época (la III) en la que sólo se crearon tres números monográficos: Antonio Orihuela, Corsal Desastre & Nima Lezop y La Palabra Itinerante. Todo aquello se paró. El último número apareció en 2006 y firmamos su acta de no-defunción.
Ahora, con la fuerza colectiva que se respira gracias al 15M hicimos un llamamiento a nuestros poetas de cabecera y todos respondieron ipso facto. Como invitadas especiales, están Bartleby & Cía y Miguel Brieva con el «Espantosísimo y necesario acontecimiento en la ciudad de Madrid en los primeros días de la primavera de 2011».
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La edición en papel se puede encontrar en tu impresora más cercana. Elige la versión print y usa sólo 2 folios A4. Los páginas 1 y 2 van en el folio 1 y las páginas 2 y 4 en el folio 2. Dobla por la mitad y tendrás un fanzine A5 en blanco y negro.La edición digital para pantalla la puedes descargar y compartir como quieras.
Este número lo hemos cedido al dominio público y está hecho con Software Libre al 100%.
La sexualidade de las moscas (especial)
ESTENTOR ABSOLUTO DE LA IDIOSINCRASIA COLECTIVA
hoy como ayer quiero ser poeta
siempre tuve frío, tuve miedo, me sentí solo
pero nunca las calles se me clavaron
tan hondo hoy
los ojos rojos de estéril sufrimiento
el llanto por dentro
las cicatrices en el alma
por qué me siento tan solo?
por qué me siento solo sin ti
en un matadero psicológico
en un matadero de mentes
en un matadero del alma
te dejo, rodeado de flores
mi cadaver
ofrenda sincera con precinto de rosas verdes
rosas de vida
lobo de luna y cachorro de noche
silencio en la madrugada
silencio de la noche
y tu latidos
tan lejos, a kilometros
Ravano
La sexualidad de las mocas
La Sexualidad de las Moscas a 58ºF y 43% de humedad, es nula.» es el título de un folletín literario del que hemos publicado 46 números.
Ahora, con la fuerza colectiva que se respira gracias al 15M hicimos un llamamiento a nuestros poetas de cabecera y todos respondieron ipso facto. Como invitadas especiales, están Bartleby & Cía y Miguel Brieva con el «Espantosísimo y necesario acontecimiento en la ciudad de Madrid en los primeros días de la primavera de 2011».
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hoy como ayer quiero ser poeta
siempre tuve frío, tuve miedo, me sentí solo
pero nunca las calles se me clavaron
tan hondo hoy
los ojos rojos de estéril sufrimiento
el llanto por dentro
las cicatrices en el alma
por qué me siento tan solo?
por qué me siento solo sin ti
en un matadero psicológico
en un matadero de mentes
en un matadero del alma
te dejo, rodeado de flores
mi cadaver
ofrenda sincera con precinto de rosas verdes
rosas de vida
lobo de luna y cachorro de noche
silencio en la madrugada
silencio de la noche
y tu latidos
tan lejos, a kilometros
Ravano
La sexualidad de las mocas
La Sexualidad de las Moscas a 58ºF y 43% de humedad, es nula.» es el título de un folletín literario del que hemos publicado 46 números.
Ahora, con la fuerza colectiva que se respira gracias al 15M hicimos un llamamiento a nuestros poetas de cabecera y todos respondieron ipso facto. Como invitadas especiales, están Bartleby & Cía y Miguel Brieva con el «Espantosísimo y necesario acontecimiento en la ciudad de Madrid en los primeros días de la primavera de 2011».
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15-M
Escribir poesía contra el espanto.
Escribir poesía para sobreponernos al gris de la ciudad,
su maquinaria infernal, sus lágrimas negras.
Escribir poesía para que no haya olvido.
Escribir poesía para alejar este frío
y completar la otra mitad que buscamos.
Escribir poesía para reconocernos en los demás,
para no estar lejos.
Escribir poesía para hacer visibles las rosas azules
y la luz en los cuerpos.
Escribir poesía para abrir el paraíso, los abrazos
y el cielo prometido de la carne.
Escribir poesía para que no acabe todo como siempre.
Escribir poesía para iluminar las razones.
Escribir poesía para ganar esta guerra.
Escribir poesía para que todos sepan
que hemos venido a quedarnos.
Antonio Orihuela
La Sexualidad de las Moscas
La Sexualidad de las Moscas a 58ºF y 43% de humedad, es nula.» es el título de un folletín literario del que hemos publicado 46 números.
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Escribir poesía para sobreponernos al gris de la ciudad,
su maquinaria infernal, sus lágrimas negras.
Escribir poesía para que no haya olvido.
Escribir poesía para alejar este frío
y completar la otra mitad que buscamos.
Escribir poesía para reconocernos en los demás,
para no estar lejos.
Escribir poesía para hacer visibles las rosas azules
y la luz en los cuerpos.
Escribir poesía para abrir el paraíso, los abrazos
y el cielo prometido de la carne.
Escribir poesía para que no acabe todo como siempre.
Escribir poesía para iluminar las razones.
Escribir poesía para ganar esta guerra.
Escribir poesía para que todos sepan
que hemos venido a quedarnos.
Antonio Orihuela
La Sexualidad de las Moscas
La Sexualidad de las Moscas a 58ºF y 43% de humedad, es nula.» es el título de un folletín literario del que hemos publicado 46 números.
Ahora, con la fuerza colectiva que se respira gracias al 15M hicimos un llamamiento a nuestros poetas de cabecera y todos respondieron ipso facto. Como invitadas especiales, están Bartleby & Cía y Miguel Brieva con el «Espantosísimo y necesario acontecimiento en la ciudad de Madrid en los primeros días de la primavera de 2011».
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4 de fevereiro de 2014
Entrevista Manoel de Barros
Com os 96 anos que se completam este mês, o
viver muito e lúcido é uma dádiva ou em alguma circunstância chega a
ser um tormento?
Não tenho explicações para os 96. Se a gente faz só o que gosta, ajuda. Mas isso é ‘um privilégio’. Só faço inutilezas.
Então, sua opinião de outrora, de que havia certa inutilidade na poesia, continua a ser a mesma?
Continua. A ave é uma inocência inútil.
Mas ela te ajuda a entender melhor o tempo, não?
A poesia não ajuda em nada. Ela é de graça.
Nem te ensinou a viver?
Não me ensinou nada – só me envolveu.
E é possível, afinal de contas, definir o que é poesia?
É o mel das palavras.
Pelo menos aprendemos a entende-la ou continua sendo uma vertente literária misteriosa?
Há de ser misteriosa. Eu também não a entendo. Mistério é mistério.
Seu nome é associado cronologicamente à Geração de 45 e também, devido ao conteúdo, ao Modernismo brasileiro. Como você observa a herança deixada por estes movimentos na literatura atual?
Peço perdão, mas não acho nada. Eu já escrevi: Se o nada desaparecer, a poesia acaba.
A internet parece deixar os novos escritores em processos mais isolados em vez de pertencerem a determinados grupos. Isso é bom ou não em sua opinião?
Toda vez que entra internet – eu acato.
Nesse sentido, a produção literária está cada vez mais individualista ou sempre foi desse jeito?
Sempre. Às vezes, o poeta ouve a harmonia das palavras – outras vezes, só ouve o “batecum gererê”.
Você já declarou algumas vezes sobre o prazer de ter sido criado de forma tranquila no Pantanal. De que maneira essa criação definiu sua produção poética?
Fui criado num lugar onde só tinha água, árvore e bicho. Minhas palavras são raiz. Meu avô abastecia a solidão do lugar.
Mas acredita que infância é uma faixa de idade ou um sentimento de espírito?
Eu moro na raiz das palavras. Eu acho que infância é a raiz das palavras. Minhas palavras há de aparecer misturadas ao tronco, às folhas e às flores. A infância seria então minhas raízes.
Aliás, o quanto que o habitat influencia um escritor e o quanto em anda importa o local onde ele vive?
Acho que tudo importa: ave, água, árvore, brisas.
Outra substância que não a feliz pode preencher a poesia?
Seria assim: depois que os passarinhos recebem as carícias da manhã, eles desvoam livres sobre a tarde.
Você continua escrevendo à lápis. Como encara a modernidade?
Através da linguagem do poeta, reconheço a idade.
Voce pensa na posteridade? Gostaria que daqui a cem anos continuasse sendo um dos nomes mais reconhecidos da literatura brasileira?
Sinceramente penso. Mas tenho todas as dúvidas.
A sua fama de ser recluso é, de alguma maneira, aversão ao “estrelato”?
Sou tímido. Só isso. Um gole de vinho me tira a timidez.
Existe a sua frase famosa: “Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira”. A proporção ainda é a mesma?
Acho que sou uma só mentira. Falo do poeta. Sou linguagem.
Dos poetas e romancistas com os quais você conviveu, qual te traz mais lembranças?
Rimbaud é meu mestre. Aqui no Brasil, Guimarães Rosa, Padre Vieira.
O paralelo entre sua poesia e a prosa de Guimarães Rosa está além do neologismo?
Acho que a linguagem do Rosa modifica o mundo. A minha linguagem apenas quer transver a natureza.
E como você analisa a safra atual de escritores nacionais?
Há dez anos eu só releio.
É possível apontar quais são os seus livros publicados que mais lhe agradam?
Eu não releio meus livros, porque tenho tédio. Mas acho que todos são o que alcancei fazer. Quando terminava um, eu ficava feliz. Mas agora, relê-los me dá tédio!
Mas você está trabalhando em algum livro de poesia, não?
Estou tentanto, com pouca força, outro livro de prosa poética.
Existe algum ritual especial para você escrever? Ou a poesia flui sem barreiras?
Poesia é trabalho com palavras.
Aliás, você acredita que o mistério nos completa? Quem é Deus, pelo menos para a poesia?
Deus é verbo. O que faz. O que abastece o meu mistério.
E o que é ser poeta?
Fôssemos talvez merecidos de água, de rãs, de árvores, de pedras, de brisa, de garças. A gente dementava as palavras – porque sempre tínhamos visões. Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas de manhã. Tínhamos desapetite para copiar. Gostávamos de transver a natureza. A gente não gostava de informar, mas só cantar. As palavras não tinham comportamento. Nossa palavra era raiz – vinha de nossas raízes. E moravam na infância sem comportamento. Quem nasce poeta tem que se conformar que é meio parvo, meio tonto e meio cego. Sempre usávamos visões como esta. Eu vi um prego primaveril! Temos de estudar ignorãnças para saber o formato do silêncio e a cor dos arrebóis. A infância sendo a raiz de nossas palavras tem que trazer a inocência com ela. E a palavra incente há de vir enrolada em seus caracóis. Então o poeta poderá cometer todos os erros de linguagem, por que está amparado na liberdade de ser ainda raiz. Temos de desver a natureza para inventar outra. Assim, hoje eu vi uma garça com olhar de oceano. Por tudo isso e por isso que o poeta tem que se conformar que é um tonto ou um parvo! Por fim: o que forma a imagem poética não é O ver, mas o transver.
notícias do mundo
palavras já não dizem muito
de pouco em pouco se percebe
que o mundo não é coisa nem palavra
mundo vasto que não cabe nos dizeres
mundo largo que não cabe na palavra
por isso
notícias já não mando
segue tudo como sempre
o tempo
o dia
a noite
um calor mortal às vezes
um inferno astral
um ou outro filme
livros e poemas
não se dão faz tempos
uma espera
uma vida
coisas que me atravessam
uma ruga ou outra que me habita o espelho
um café amargo
numas vezes quente
noutras frio
mais que tudo fica um silêncio
uma ausência de palavras
e os rumores líricos
do vento contra o tempo
Salvador Passos
de pouco em pouco se percebe
que o mundo não é coisa nem palavra
mundo vasto que não cabe nos dizeres
mundo largo que não cabe na palavra
por isso
notícias já não mando
segue tudo como sempre
o tempo
o dia
a noite
um calor mortal às vezes
um inferno astral
um ou outro filme
livros e poemas
não se dão faz tempos
uma espera
uma vida
coisas que me atravessam
uma ruga ou outra que me habita o espelho
um café amargo
numas vezes quente
noutras frio
mais que tudo fica um silêncio
uma ausência de palavras
e os rumores líricos
do vento contra o tempo
Salvador Passos
O filho do século
Nunca mais andarei de bicicleta
Nem conversarei no portão
Com meninas de cabelos cacheados
Adeus valsa "Danúbio Azul"
Adeus tardes preguiçosas
Adeus cheiros do mundo sambas
Adeus puro amor
Atirei ao fogo a medalhinha da Virgem
Não tenho forças para gritar um grande grito
Cairei no chão do século vinte
Aguardem-me lá fora
As multidões famintas justiceiras
Sujeitos com gases venenosos
É a hora das barricadas
É a hora da fuzilamento, da raiva maior
Os vivos pedem vingança
Os mortos minerais vegetais pedem vingança
É a hora do protesto geral
É a hora dos vôos destruidores
É a hora das barricadas, dos fuzilamentos
Fomes desejos ânsias sonhos perdidos,
Misérias de todos os países uni-vos
Fogem a galope os anjos-aviões
Carregando o cálice da esperança
Tempo espaço firmes porque me abandonastes.
Murilo Mendes
Nem conversarei no portão
Com meninas de cabelos cacheados
Adeus valsa "Danúbio Azul"
Adeus tardes preguiçosas
Adeus cheiros do mundo sambas
Adeus puro amor
Atirei ao fogo a medalhinha da Virgem
Não tenho forças para gritar um grande grito
Cairei no chão do século vinte
Aguardem-me lá fora
As multidões famintas justiceiras
Sujeitos com gases venenosos
É a hora das barricadas
É a hora da fuzilamento, da raiva maior
Os vivos pedem vingança
Os mortos minerais vegetais pedem vingança
É a hora do protesto geral
É a hora dos vôos destruidores
É a hora das barricadas, dos fuzilamentos
Fomes desejos ânsias sonhos perdidos,
Misérias de todos os países uni-vos
Fogem a galope os anjos-aviões
Carregando o cálice da esperança
Tempo espaço firmes porque me abandonastes.
Murilo Mendes
TEXTO DE CONSULTA
1
A página branca indicará o discurso
Ou a supressão do discurso?
A página branca aumenta a coisa
Ou ainda diminui o mínimo?
O poema é o texto? O poeta?
O poema é o texto + o poeta?
O poema é o poeta – o texto?
O texto é contexto do poeta
Ou o poeta o contexto do texto?
O texto visível é o texto total
O antetexto o antitexto
Ou as ruínas do texto?
O texto abole
Cria
Ou restaura?
2
O texto deriva do operador do texto
Ou da coletividade – texto?
O texto é manipulado
Pelo operador (ótico)
Pelo operador (cirurgião)
Ou pelo ótico-cirugião?
O texto é dado
Ou dador?
O texto é objeto concreto
Abstrato
Ou concretoabstrato?
O texto quando escreve
Escreve
Ou foi escrito
Reescrito?
O texto será reescrito
Pelo tipógrafo / o leitor / o crítico;
Pela roda do tempo?
Sofre o operador:
O tipógrafo trunca o texto.
Melhor mandar à oficina
O texto já truncado.
3
O texto é o micromenabó do poeta
Ou o poeta o macromenabó do texto?
4
A palavra nasce-me
fere-me
mata-me
coisa-me
ressuscita-me
5
Serviremos a metáfora?
Arquivaremos a?
Metáfora: instrumento máximo;
CASSIRER.
A própria linguagem do homem.
ORTEGA Y GASSET
Invenção / translação.
6
A palavra cria o real?
O real cria a palavra?
Mas difícil de aferrar:
Realidade ou alucinação?
Ou será a realidade
Um conjunto de alucinações?
7
Existe o texto regional / nacional
Ou todo texto é universal?
Que relação do texto
Com os dedos? Com os dedos alheios?
Giro
NÉ
POUR D’ÉTERNELS
Com texto a tiracolo
PARCHEMINS
Sem o texto
(MALLARMÉ)
Não decifro o itinerário.
Toda palavra é adâmica:
Nomeia o homem
Que nomeia a palavra.
Querendo situar objetos
Construímos um elenco vertical.
Enumeração caótica?
Antes definição.
Catalogar, próprio do homem.
8
Morrer: perder o texto
Perder a palavra / o discurso
Morrer: perder o texto
Ser metido numa caixa
Com testo
Sem texto.
9
Juízo final do texto:
Serei julgado pela palavra
Do dador da palavra / do sopro / da chama.
O texto-coisa me espia
Com olho de outrem.
Talvez me condene ao ergástulo.
O juízo final
Começa em mim
Nos lindes da
Minha palavra.
MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro:
Aguilar, 1994, p.737-740.
3 de fevereiro de 2014
ficção científica
pensei na cor do tempo
ou no tempo com outra cor?
vi um filme russo
havia uma pessoa que voltava
e que não era quem era
mas ao fim dava no mesmo
pois quem somos é indiferente
afinal não somos
apenas estamos
Salvador Passos
ou no tempo com outra cor?
vi um filme russo
havia uma pessoa que voltava
e que não era quem era
mas ao fim dava no mesmo
pois quem somos é indiferente
afinal não somos
apenas estamos
Salvador Passos
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