Programa nº 2254
O jogo perigoso da especulação manipulando emoções
Por Luciano Martins Costa em 11/02/2014 no programa nº 2254 |
O jogo perigoso da especulação
Segundo levantamento publicado nesta terça-feira (11/2) pelo Globo, são pelo menos sete as mortes ocorridas em consequência de violência durante as manifestações iniciadas em junho do ano passado.
Mas a vítima que vai marcar este tempo chamava-se Santiago Ilídio Andrade e em seu nome serão publicadas muitas reflexões sensatas e cometidas algumas manipulações.
A diferença entre ele e os demais mortos e feridos é que, ao que tudo indica, foi atingido por um petardo lançado por um suposto ativista do Black Bloc.
Marcos Delafrate, estudante de 18 anos, morreu atropelado em Ribeirão Preto; Cleonice Vieira de Moraes, 54 anos, teve um ataque cardíaco ao ser atingida por uma bomba de efeito moral em Belém; Valdinete Rodrigues Pereira, 40 anos, e Maria Aparecida, 62, foram atropeladas em Cristalino, Goiás; Douglas Henrique de Oliveira, 21 anos, caiu de um viaduto em Belo Horizonte; um adolescente cujo nome não é revelado morreu no Guarujá, litoral paulista, e o marceneiro Igor Oliveira da Silva, de 16 anos, estava numa festa junina quando foi atropelado por um caminhão, cujo motorista fugia de uma manifestação.
A lista está incompleta, pois sabe-se que houve pelo menos mais uma morte em Belo Horizonte.
No campo que podemos observar, esses nomes têm um valor relativo, quase restrito ao círculo de seus familiares e amigos: o território midiatizado precisa de símbolos capazes de produzir comoção e relativiza tudo que não tenha potencial para compor uma manchete.
Números baixos ou individualidades de menor apelo não interessam à mídia de massa.
Santiago Andrade está, portanto, inscrito nesse enredo cuja trama se torna a cada dia mais complexa.
Cresce quase ao nível da unanimidade a condenação às práticas do Black Bloc, denominação que até outro dia se referia especificamente ao ativismo violento mas não apontava para uma estrutura organizada.
Os jornais, principalmente o Globo, se esforçam para acusar o deputado Marcelo Freixo, do PSOL, como mentor dos grupos de vândalos, e há quem confunda propositalmente os Black Bloc com os coletivos de comunicação chamados de Mídia Ninja.
Manipulando emoções
O cadáver serve principalmente para exacerbar emoções, e nesse contexto é que se constroem certos mitos perpetuados nos arquivos da imprensa.
O protagonismo do deputado carioca é conhecido, por causa da assistência jurídica que costuma oferecer a manifestantes detidos pela polícia, mas daí a envolvê-lo na organização de atos violentos vai uma grande distância.
Ainda que se diga que seu tirocínio possa ter sido afetado por aquela doença infantil do comunismo, não há fatos que justifiquem o julgamento a que parte da imprensa o está submetendo.
O processo é insidioso, principalmente se considerarmos que, até a morte de Santiago Andrade, a mídia tradicional não havia manifestado capacidade ou interesse em identificar o que é e a que serve o difuso movimento chamado Black Bloc.
O fato de alguns analistas apressados vincularem o ativismo violento ao midiativismo dos Mídia Ninja é parte desse processo de demonização das manifestações que nascem dos fóruns coletivos - que o pensamento conservador não consegue interpretar ou que simplesmente rejeita.
No momento em que estas observações são elaboradas, após horas de análise do noticiário da última jornada, a polícia ainda não havia revelado o nome do principal suspeito de ter acendido o pavio do morteiro que matou o cinegrafista.
Portanto, tudo que foi dito até então pode se desvanecer com a possibilidade de se tratar, por exemplo, de um agente provocador ligado à própria polícia ou a uma daquelas milícias que disputam o domínio de favelas no Rio.
Enquanto a verdade não for exposta e devidamente consolidada por provas concretas, tudo é especulação.
E é no terreno pantanoso das especulações que a mídia tradicional constrói os fundamentos da opinião manipulada.
O Brasil já testemunhou manobras semelhantes, capazes até mesmo de alterar o resultado de eleições presidenciais.
Não se encontra, nos limites do razoável, justificativa aceitável para a ação violenta que caracteriza essa tática chamada de Black Bloc.
Mas a depredação irresponsável de reputações também é uma ameaça à chamada sociedade democrática.
A Caverna
Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
Jean Louis Battre, 2010
Jean Louis Battre, 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário