A Caverna
Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes
Jean Louis Battre, 2010
Jean Louis Battre, 2010
29 de fevereiro de 2012
a vaca e a tautologia
eis que resgato um pensamento de outrora
andando de ônibus no caminho para aula
vi pela janela uma jarro de biscoitos na vitrine distante
um jarro de biscoitos onde uma alegre vaquinha mugia cada vez que a jarra era aberta
e em cada mugido da vaquinha vi a solidão por mim sentida
pra que uma jarra que muge a cada biscoito surrupiado?
o que queremos dizer com isso?
porque somos nós, a dizer, através de uma amistosa vaca aquilo que nós mesmos colocamos em sua boca
uma língua nossa, numa vaca que fala
uma vaca alienígena
queríamos com isso respostas
queríamos com isso marcar o fim de nossa solidão aqui no universo
só nós humanos
falando as mesmas línguas já conhecidamente desconhecidas
queremos uma novidade
alguém novo no bairro a nos dizer
aquele lugar distante de onde venho é diferente
outras narrativas
queremos aplacar com novidades esta nossa solidão
afinal já fomos até a lua e não encontramos nada
sempre encontramos apenas funções econômicas aos montes
mas queremos o inútil
queremos responder a outras perguntas
e não a eterna necessidade de ser prático
queremos que a vaca nos responda: de onde vieram estes biscoitos, de onde viemos todos nós, para onde iremos após estas paragens, o que a trouxe aqui?
não queremos aquele pesado made in china na parte inferior da vaquinha que muge a cada biscoito devorado
não queremos sequer o biscoito
queremos o fim desta solitária noite
queremos o querer
queremos a vaca dizendo tudo aquilo que ainda não sabemos
ó sagrada vaca made in china na vitrine do passado que não passa
queremos nós mesmos e não a ciência sempre exatamente estéril de verdades
pois os nomes que profere a ciência são os nomes que nomeiam coisas
coisificadas coisas
são somente nomes e não coisas
substituem o silêncio por alguma pomposa ignorância propalada em metáforas quase sempre inexatas
pois dizer que 2+2 são 4
é o mesmo que dizer que 4 é 2+2
e não há nada de novo nisso
eis que nada foi definido
apenas a mesma coisa dita de outra forma
Salvador Passos
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