A Caverna

Esta é a caverna, quando a caverna nos é negada/Estas páginas são as paredes da antiga caverna de novo entre nós/A nova antiga caverna/Antiga na sua primordialidade/no seu sentido essencial/ali onde nossos antepassados sentavam a volta da fogueira/Aqui os que passam se encontram nos versos de outros/os meus versos são teus/os teus meus/os eus meus teus /aqui somos todos outros/e sendo outros não somos sós/sendo outros somos nós/somos irmandade/humanidade/vamos passando/lendo os outros em nós mesmos/e cada um que passa se deixa/essa vontade de não morrer/de seguir/de tocar/de comunicar/estamos sós entre nós mesmos/a palavra é a busca de sentido/busca pelo outro/busca do irmão/busca de algo além/quiçá um deus/a busca do amor/busca do nada e do tudo/qualquer busca que seja ou apenas o caminho/ o que podemos oferecer uns aos outros a não ser nosso eu mesmo esmo de si?/o que oferecer além do nosso não saber?/nossa solidão?/somos sós no silêncio, mas não na caverna/ cada um que passa pinta a parede desta caverna com seus símbolos/como as portas de um banheiro metafísico/este blog é metáfora da caverna de novo entre nós/uma porta de banheiro/onde cada outro/na sua solidão multidão/inscreve pedaços de alma na forma de qualquer coisa/versos/desenhos/fotos/arte/literatura/anti-literatura/desregramento/inventando/inversando reversamento mundo afora dentro de versos reversos solitários de si mesmos/fotografias da alma/deixem suas almas por aqui/ao fim destas frases terei morrido um pouco/mas como diria o poeta, ninguém é pai de um poema sem morrer antes

Jean Louis Battre, 2010

12 de maio de 2012

A praça é do povo

O POVO AO PODER 




Quando nas praças s'eleva 
Do Povo a sublime voz... 
Um raio ilumina a treva 
O Cristo assombra o algoz... 
Que o gigante da calçada 
De pé sobre a barrica 
Desgrenhado, enorme, nu 
Em Roma é catão ou Mário, 
É Jesus sobre o Cálvario, 
É Garibaldi ou Kosshut. 
A praça! A praça é do povo 
Como o céu é do condor 
É o antro onde a liberdade 
Cria águias em seu calor! 
Senhor!... pois quereis a praça? 
Desgraçada a populaça 
Só tem a rua seu... 
Ninguém vos rouba os castelos 
Tendes palácios tão belos... 
Deixai a terra ao Anteu. 
Na tortura, na fogueira... 
Nas tocas da inquisição 
Chiava o ferro na carne 
Porém gritava a aflição. 
Pois bem...nest'hora poluta 
Nós bebemos a cicuta 
Sufocados no estertor; 
Deixai-nos soltar um grito 
Que topando no infinito 
Talvez desperte o Senhor. 
A palavra! Vós roubais-la 
Aos lábios da multidão 
Dizeis, senhores, à lava 
Que não rompa do vulcão. 
Mas qu'infâmia! Ai, velha Roma, 
Ai cidade de Vendoma, 
Ai mundos de cem heróis, 
Dizei, cidades de pedra, 
Onde a liberdade medra 
Do porvir aos arrebóis. 
Dizei, quando a voz dos Gracos 
Tapou a destra da lei? 
Onde a toga tribunícia 
Foi calcada aos pés do rei? 
Fala, soberba Inglaterra, 
Do sul ao teu pobre irmão; 
Dos teus tribunos que é feito? 
Tu guarda-os no largo peito 
Não no lodo da prisão. 
No entanto em sombras tremendas 
Descansa extinta a nação 
Fria e treda como o morto. 
E vós, que sentis-lhes os pulso 
Apenas tremer convulso 
Nas extremas contorções... 
Não deixais que o filho louco 
Grite "oh! Mãe, descansa um pouco 
Sobre os nossos corações". 
Mas embalde... Que o direito 
Não é pasto de punhal. 
Nem a patas de cavalos 
Se faz um crime legal... 
Ah! Não há muitos setembros, 
Da plebe doem os membros 
No chicote do poder, 
E o momento é malfadado 
Quando o povo ensangüentado 
Diz: já não posso sofrer. 
Pois bem! Nós que caminhamos 
Do futuro para a luz, 
Nós que o Calvário escalamos 
Levando nos ombros a cruz, 
Que do presente no escuro 
Só temos fé no futuro, 
Como alvorada do bem, 
Como Laocoonte esmagado 
Morreremos coroado 
Erguendo os olhos além. 
Irmão da terra da América, 
Filhos do solo da cruz, 
Erguei as frontes altivas, 
Bebei torrentes de luz... 
Ai! Soberba populaça, 
Dos nossos velhos Catões, 
Lançai um protesto, ó povo, 
Protesto que o mundo novo 
Manda aos tronos e às nações.
Castro Alves

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